Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Múcio Teixeira - O Poeta e a Glória

Múcio concebe o poeta como um louco, atrás de um fogo-fátuo representado pela glória: muitos houve na história que replicaram esse enredo. E ainda os há. Outros tantos, todavia, foram tão grandes, que seus nomes se mantiveram não exatamente como um “fogo-fátuo”, senão como referências indeléveis na narrativa da literatura ocidental, como Homero, Dante, Shakespeare ou Hugo.

Tudo transcorre como numa escalada, ao fim da qual nem todos logram alcançar o topo do Olimpo da poesia, sendo abandonados à margem do caminho pelas musas, passando a configurar, então, meros insucessos cuja urdidura reverte-se, inapelavelmente, ao pó primordial.

J.A.R. – H.C.

Múcio Teixeira
(1857-1926)

O Poeta e a Glória
(a Fernandes Costa)

Na vazia extensão de um areal deserto,
Sem oásis, sem luz, sem brisas, sem perfumes,
Triste como uma esposa em noite de ciúmes,
Vagava um louco atrás dum fogo-fátuo, incerto.

Quando tremeluzia esse clarão mais perto,
Seu vulto aparecia, além, entre os negrumes;
Mal se iam apagando os oscilantes lumes,
Perdia-se de vista o sonhador desperto.

Impelido, talvez, por um febril desejo,
Na voragem fatal de uma esperança inglória,
Dos lagos aos paúes, do roseiral ao brejo, (*)

Ia, como o Hebreu da sacrossanta história;
E nós vamos também... Ah! mas eu penso e vejo
Que esse louco é o Poeta e o fogo-fátuo a Glória!

O poeta árabe (persa)
(Gustave Moreau: pintor francês)

Nota:

(*). A palavra “paúes”, com essa grafia, ainda aparece em dicionários de origem portuguesa, a significar “pântano, “charco”. Em dicionários brasileiros, a grafia corrente tornou-se “paul” (plural: pauis), mantido o mesmo significado.

Referência:

TEIXEIRA, Álvaro de Múcio. O poeta e a glória. In: __________. Poesias. Tomo II. Livro II: Mocidade. Rio de Janeiro: H. Garnier Livreiro-Editor, 1903. p. 51.

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