Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 15 de setembro de 2018

Ray Bremser - Sangue

Quando o sexo se parece a uma viagem com direito a pousos ou, ainda, a um jogo de espionagem em ambientes não propriamente abertos, resulta um poema como o da espécie, a misturar imagens pouco usuais para reportar-se a uma experiência por demais conhecida, plena de dor e prazer.

 

A versão ao português, que abaixo apresento, promove contornos a algumas experimentações verbais que o autor emprega no original, tudo para tornar a mensagem do poema mais fluida e inteligível ao leitor do bloguinho. Afinal, sexo, espionagem e sangue são componentes de um enredo sempre intrincado! (rs).

 

J.A.R. – H.C.

 

Ray Bremser

(1934-1998)

 

Blood

 

I have this deal of death about my hands

whose silent espionage of half a thousand

days ago still carries your stigma

in the palms...

 

my knuckles love you readily, forgetfully,

my fingertips are able to caress & instigate

while heaving on the carapace of chest

a crimson countenance is wrung

because of cisterns in those paraqueets

your simple rosy tears of rosy breast...

 

build temples where I touch!

create a sodium monologue on your gut,

convict the maps & scapings of my geld,

that terrible old hold around those thighs

whose wooded areas are fortunate complaints

against misfortunate & clitoral delights...

 

& resining my sharpest flagrancies,

denoun my tongue from its own hotel of mouth

that I shall lick this dying death with spittle,

spy upon intolerable spying agents of the void

gone suddenly vision –

gone to womb & over flesh,

gone suddenly straight beyond this blood

of our deaths...

 

(1959)

 

Artérias III

(Ezra Cohen: pintor norte-americano)

 

Sangue

 

Tenho este pacto de sangue entre as minhas mãos

cuja silenciosa espionagem de há quinhentos

dias ainda carrega o seu estigma

nas palmas...

 

minhas juntas amam-te tão de pronto que até se esquecem;

as pontas de meus dedos são capazes de acariciar & instigar

enquanto se agitam sobre a carapaça do tórax;

um semblante carmesim contorce-se

por causa dos receptores nesses paraquedas:

tuas simples e rosadas lágrimas sobre os seios cor-de-rosa...

 

ergo templos onde eu toco!

crio um monólogo de sódio em teu intestino,

censuro os traçados e fugas da minha falta de vigor,

esse terrível velho segurando em torno de tuas coxas,

cujas áreas arborizadas são afortunados reclamos

contra prazeres desditosos & clitorianos.

 

& a resinar as minhas mais penetrantes exorbitâncias,

desvelarei minha língua de seu hotel que é a boca,

para lamber essa morte agonizante com saliva,

espreitar os agentes de espionagem do vazio

que de repente se perderam de vista –

foram-se ao útero & através da carne,

partiram súbita e diretamente para além deste sangue

de nossas mortes.

 

(1959)

 

Referência:

 

BREMSER, Ray. Blood. In: ALLEN, Donald M. (Ed.). The new american poetry. New York, NY: Grove Press Inc.; London, EN: Evergreen Books Ltd., 1960. p. 356.

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