Quando o sexo se parece a uma viagem com direito
a pousos ou, ainda, a um jogo de espionagem em ambientes não propriamente
abertos, resulta um poema como o da espécie, a misturar imagens pouco usuais
para reportar-se a uma experiência por demais conhecida, plena de dor e prazer.
A versão ao português, que abaixo apresento,
promove contornos a algumas experimentações verbais que o autor emprega no
original, tudo para tornar a mensagem do poema mais fluida e inteligível ao
leitor do bloguinho. Afinal, sexo, espionagem e sangue são componentes de um
enredo sempre intrincado! (rs).
J.A.R. – H.C.
Ray Bremser
(1934-1998)
Blood
I have this deal of death about my hands
whose silent espionage of half a thousand
days ago still carries your stigma
in the palms...
my knuckles love you readily, forgetfully,
my fingertips are able to caress & instigate
while heaving on the carapace of chest
a crimson countenance is wrung
because of cisterns in those paraqueets
your simple rosy tears of rosy breast...
build temples where I touch!
create a sodium monologue on your gut,
convict the maps & scapings of my geld,
that terrible old hold around those thighs
whose wooded areas are fortunate complaints
against misfortunate & clitoral delights...
& resining my sharpest flagrancies,
denoun my tongue from its own hotel of mouth
that I shall lick this dying death with spittle,
spy upon intolerable spying agents of the void
gone suddenly vision –
gone to womb & over flesh,
gone suddenly straight beyond this blood
of our deaths...
(1959)
Artérias III
(Ezra Cohen: pintor
norte-americano)
Sangue
Tenho este pacto de sangue entre as minhas mãos
cuja silenciosa espionagem de há quinhentos
dias ainda carrega o seu estigma
nas palmas...
minhas juntas amam-te tão de pronto que até se
esquecem;
as pontas de meus dedos são capazes de acariciar
& instigar
enquanto se agitam sobre a carapaça do tórax;
um semblante carmesim contorce-se
por causa dos receptores nesses paraquedas:
tuas simples e rosadas lágrimas sobre os seios
cor-de-rosa...
ergo templos onde eu toco!
crio um monólogo de sódio em teu intestino,
censuro os traçados e fugas da minha falta de
vigor,
esse terrível velho segurando em torno de tuas
coxas,
cujas áreas arborizadas são afortunados reclamos
contra prazeres desditosos & clitorianos.
& a resinar as minhas mais penetrantes
exorbitâncias,
desvelarei minha língua de seu hotel que é a
boca,
para lamber essa morte agonizante com saliva,
espreitar os agentes de espionagem do vazio
que de repente se perderam de vista –
foram-se ao útero & através da carne,
partiram súbita e diretamente para além deste
sangue
de nossas mortes.
(1959)
Referência:
BREMSER, Ray. Blood. In: ALLEN, Donald M.
(Ed.). The new american poetry. New York, NY: Grove Press Inc.;
London, EN: Evergreen Books Ltd., 1960. p. 356.
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