A modernidade se espraia na Inglaterra e leva os
seus efeitos a lugares antes insuspeitos – prédios e rede elétrica são as mais
expressivas externalidades que passam a alterar a paisagem tradicional. Em
pormenor, dá-se especial atenção aos postes e às estruturas de distribuição de
energia para atender as casas em aldeias as mais distantes.
Tais externalidades são o símbolo do futuro,
algumas das inovações tecnológicas impostas a um cenário inalterado por séculos
– uma verdadeira intrusão no campo: enquanto as aldeias estão quase ocultas, os
pilares mostram-se acintosamente, levantando toda a poeira assente por um
passado preso à rusticidade.
J.A.R. – H.C.
Stephen Spender
(1909-1995)
The pylons
The secret of these
hills was stone, and cottages
Of that stone made,
And crumbling roads
That turned on sudden
hidden villages.
Now over these small
hills, they have built the concrete
That trails black wire;
Pylons, those pillars
Bare like nude giant
girls that have no secret.
The valley with its gilt
and evening look
And the green chestnut
Of customary root
Are mocked dry like the
parched bed of a brook.
But far above and far as
sight endures
Like whips of anger
With lightnin’s danger
There runs the quick
perspective of the future.
This dwarfs our emerald
country by its trek
So tall with prophecy:
Dreaming of cities
Where often clouds shall
lean their swan-white neck.
A Colina de Montmartre e
a Pedreira
(Vincent van Gogh:
pintor holandês)
Os postes
O segredo destas colinas
jazia na pedra, e de pedra
Eram feitos os chalés,
E estradas em ruínas
Que ligavam
inesperadamente recônditas aldeias.
Agora, sobre essas
pequenas colinas, ergue-se o concreto
Que arrasta consigo os
cabos negros;
Postes, aqueles pilares
Despidos, como grandes
garotas nuas sem segredo.
O vale, com seu aspecto
dourado e crepuscular,
E o verde castanho
De sólita raiz,
São depreciados como um
leito seco de um riacho.
Mas lá muito acima e tão
distante quanto a vista alcança,
Como látegos de ira,
Com o perigo de um raio,
Corre a rápida
perspectiva do futuro.
Nossa terra esmeralda se
apequena frente à sua jornada
De profecias
jactanciosas:
Sonhando com cidades
onde as nuvens,
Vezes sem conta,
pousarão seus brancos colos de cisne.
Referência:
SPENDER, Stephen. The pylons. In: SCOTT, A. F.
(Chooser & Editor). Poems for pleasure: an anthology. Book
II. Cambridge, EN: Cambridge University Press, 1963. p. 158.
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