Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Stephen Spender - Os postes

A modernidade se espraia na Inglaterra e leva os seus efeitos a lugares antes insuspeitos – prédios e rede elétrica são as mais expressivas externalidades que passam a alterar a paisagem tradicional. Em pormenor, dá-se especial atenção aos postes e às estruturas de distribuição de energia para atender as casas em aldeias as mais distantes.

 

Tais externalidades são o símbolo do futuro, algumas das inovações tecnológicas impostas a um cenário inalterado por séculos – uma verdadeira intrusão no campo: enquanto as aldeias estão quase ocultas, os pilares mostram-se acintosamente, levantando toda a poeira assente por um passado preso à rusticidade.

 

J.A.R. – H.C.

 

Stephen Spender

(1909-1995)

 

The pylons

 

The secret of these hills was stone, and cottages

Of that stone made,

And crumbling roads

That turned on sudden hidden villages.

 

Now over these small hills, they have built the concrete

That trails black wire;

Pylons, those pillars

Bare like nude giant girls that have no secret.

 

The valley with its gilt and evening look

And the green chestnut

Of customary root

Are mocked dry like the parched bed of a brook.

 

But far above and far as sight endures

Like whips of anger

With lightnin’s danger

There runs the quick perspective of the future.

 

This dwarfs our emerald country by its trek

So tall with prophecy:

Dreaming of cities

Where often clouds shall lean their swan-white neck.

 

A Colina de Montmartre e a Pedreira

(Vincent van Gogh: pintor holandês)

 

Os postes

 

O segredo destas colinas jazia na pedra, e de pedra

Eram feitos os chalés,

E estradas em ruínas

Que ligavam inesperadamente recônditas aldeias.

 

Agora, sobre essas pequenas colinas, ergue-se o concreto

Que arrasta consigo os cabos negros;

Postes, aqueles pilares

Despidos, como grandes garotas nuas sem segredo.

 

O vale, com seu aspecto dourado e crepuscular,

E o verde castanho

De sólita raiz,

São depreciados como um leito seco de um riacho.

 

Mas lá muito acima e tão distante quanto a vista alcança,

Como látegos de ira,

Com o perigo de um raio,

Corre a rápida perspectiva do futuro.

 

Nossa terra esmeralda se apequena frente à sua jornada

De profecias jactanciosas:

Sonhando com cidades onde as nuvens,

Vezes sem conta, pousarão seus brancos colos de cisne.

 

Referência:

 

SPENDER, Stephen. The pylons. In: SCOTT, A. F. (Chooser & Editor). Poems for pleasure: an anthology. Book II. Cambridge, EN: Cambridge University Press, 1963. p. 158.

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