Os poemas de “Wanderung” (1920) (“Caminhada”), de Hesse, são o prenúncio da mudança ocorrida na vida do autor, que passou de uma postura ativa a outra mais contemplativa, resultando em criações esplêndidas, como “Siddhartha” (1922) (“Sidarta”) e “Der Steppenwolf” (1927) (“O Lobo da Estepe”) – uma das minhas obras diletas.
O livro tem um poder mágico próprio, quase sempre remetendo o leitor à beleza encantadora e curativa da natureza. E quanto ao poema em epígrafe, sugere-nos que andemos pelo mundo de olhos bem abertos, para que possamos conciliar as inúmeras dimensões do espírito, muitas vezes contraditórias.
J.A.R. – H.C.
Herrliche Welt
Immer und immer fühl ich’s, ob alt oder jung:
Ein Gebirg in der Nacht, am Balkon ein schweigendes Weib,
Eine weiße Straße im Mondschein mit sanftem Schwung,
Das reißt mir vor Sehnsucht das bange Herz aus dem Leib.
O brennende Welt, o weißes Weib am Balkon,
Bellender Hund im Tal, fernrollende Eisenbahn,
O wie loget ihr, o wie bitter betrogt ihr mich schon -
Dennoch seid ihr noch immer mein süßester Traum und Wahn!
Oft versucht ich den Weg in die schreckliche “Wirklichkeit”,
Wo Professor, Gesetz, Mode und Geldkurs gilt,
Aber einsam entfloh ich immer, enttäuscht und befreit,
Dort hinüber, wo Traum und liebliche Narrheit quillt.
Schwüler Nachtwind im Baum, schwarze Zigeunerin,
Welt voll törichter Sehnsucht und Dichterduft,
Herrliche Welt, der ich ewig verfallen bin,
Magnífico Mundo
Se velho ou jovem, é sempre assim que sinto:
Na noite uma montanha, uma mulher silenciosa ao balcão,
Ao luar a leve curva do branco caminho,
De saudades arranca-me do peito o coração.
Oh! Mundo ardente, mulher branca ao balcão,
Distante o rolar do trem, no vale o uivar do cão.
Oh! Como mentis, como me enganais, que amargor,
Apesar de tudo és meu delírio, meu mais doce torpor.
Inúmeras vezes tentei o caminho da terrível “verdade”
Onde câmbio e lei, assistente e moda dominam,
Porém só, sempre escapei, desiludido mas em liberdade
Para lá onde o sonho e a abençoada loucura fervilham.
Na árvore vento cálido da noite, morena cigana,
Mundo de louca saudade e perfume de poesia.
Magnífico mundo a quem sempre me entreguei,
Onde tuas faíscas me fulminam e tua voz me chama.
Referências:
Em Alemão
HERMANN, Hesse. Herrliche welt. In: __________. Wanderung. Mit vierzehn illustrationen von Hermann Hesse. Frankfurt am Main, DE: Suhrkamp, 1986. s. 41. (‘Bibliothek Suhrkamp’).
Em Português
HESSE, Hermann. Magnífico mundo.
Tradução de Ildikó Maria Jávor. In: ________. Caminhada. Tradução
de Ildikó Maria Jávor. Com 14 ilustrações do autor. Rio de Janeiro, RJ: Record,
1978. p. 38.
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