Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 18 de setembro de 2018

José Emilio Pacheco - Lives of the Poets

O que repercute neste poema de Pacheco é a marginalização social dos poetas, esses vates que partem em busca de originalidade em suas criações, mas que, vezes sem conta, atingem praias inglórias: com humor sombrio, ou melhor, eivado de um sarcasmo no limite da descortesia, o mexicano alude quase nominalmente a alguns companheiros que partiram catastroficamente, afora, é claro, a explícita menção ao poeta nicaraguense Rubén Darío.

Senão vejamos: não se estaria fazendo associação ao nome de Hart Crane (1899-1932), quando o autor se reporta aos poetas que se suicidaram atirando-se ao mar? Quase na mesma hipótese, poder-se-ia consignar o caso da argentina Alfonsina Storni (1892-1938). Quanto aos que buscaram a morte ingerindo cianureto, recordo-me do também argentino Leopoldo Lugones, um dos autores que constam da “Biblioteca Personal” (“Biblioteca Pessoal”) de Borges, por sua obra “El império jesuítico” (“O império jesuítico”).

Mas é claro que Pacheco exagera em seu pendor trágico: há grandes poetas que não passaram por nada disso, tampouco pelo consumo de tóxicos ou pela miséria, como Borges e Octavio Paz. Ah... e então o mexicano me aparece com um arremate do qual ninguém escapa: esses dois e outros tantos – como Rilke, Neruda, Eliot, Pound, por exemplo –, por canônicos, não seriam mais do que múmias encerradas num sarcófago, vale dizer, em suas “Obras Completas”.

Em suma: aos olhos de Pacheco, o final dos poetas nunca há de ser feliz. Resta uma pergunta, portanto: será que o dele o foi?! Não, exatamente! Passemos ao corolário: como um grande poeta “oficial” mexicano, terá que ser trancafiado também no seu sarcófago de “Obras Completas”! (rs).


José Emilio Pacheco
(1939-2014)

Lives of the Poets (1)

 

En la poesía no hay final feliz

Los poetas acaban

viviendo su locura

Luego descuartizados como reses

(sucedió con Darío) (2)

O bien los apedrean y terminan

arrojándose al mar

o con cristales

de cianuro en la boca

O muertos de alcoholismo

drogadicción, miseria

O lo que es peor

poetas oficiales

amargos pobladores de un sarcófago

llamado Obras Completas...


Barcos de Pesca no Mar
(Claude Monet: pinto francês)

A vida dos Poetas

 

Na poesia não há final feliz.

Os poetas acabam

vivendo sua loucura.

Logo são esquartejados como gado

(aconteceu com Darío).

Ou então apedrejados e terminam

atirando-se ao mar

ou com cristais

de cianeto na boca.

Ou mortos pelo alcoolismo,

toxicodependência, miséria.

Ou o que é pior:

poetas canônicos,

amargos ocupantes de um sarcófago

chamado Obras Completas...


Notas:

(1) Este poema de Pacheco – intitulado, literalmente, como “Vidas dos Poetas” – constitui mote para outros poemas escritos pelo poeta venezuelano Enrique Hernández-d’Jesús (vide especificação no campo de referência abaixo), a fazer parte da obra “Los poemas de Venus García”, de 1988.

(2) Decerto o poeta mexicano refere-se ao escritor nicaraguense, e também poeta, Rubén Darío (1867-1916).

Referência:

PACHECO, José Emilio. Lives of the poets. In: HERNÁNDEZ-D’JESUS, Enrique. Los poemas de Venus García & Recurso del huésped. 1. ed. Caracas, VE: Monte Ávila Editores Latinoamericana, 2006. p. 37.

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