O que repercute neste poema de Pacheco é a marginalização social dos poetas, esses vates que partem em busca de originalidade em suas criações, mas que, vezes sem conta, atingem praias inglórias: com humor sombrio, ou melhor, eivado de um sarcasmo no limite da descortesia, o mexicano alude quase nominalmente a alguns companheiros que partiram catastroficamente, afora, é claro, a explícita menção ao poeta nicaraguense Rubén Darío.
Senão vejamos: não se estaria fazendo associação ao nome de Hart Crane (1899-1932), quando o autor se reporta aos poetas que se suicidaram atirando-se ao mar? Quase na mesma hipótese, poder-se-ia consignar o caso da argentina Alfonsina Storni (1892-1938). Quanto aos que buscaram a morte ingerindo cianureto, recordo-me do também argentino Leopoldo Lugones, um dos autores que constam da “Biblioteca Personal” (“Biblioteca Pessoal”) de Borges, por sua obra “El império jesuítico” (“O império jesuítico”).
Mas é claro que Pacheco exagera em seu pendor trágico: há grandes poetas que não passaram por nada disso, tampouco pelo consumo de tóxicos ou pela miséria, como Borges e Octavio Paz. Ah... e então o mexicano me aparece com um arremate do qual ninguém escapa: esses dois e outros tantos – como Rilke, Neruda, Eliot, Pound, por exemplo –, por canônicos, não seriam mais do que múmias encerradas num sarcófago, vale dizer, em suas “Obras Completas”.
Em suma: aos olhos de Pacheco, o final dos poetas nunca há de ser feliz.
Resta uma pergunta, portanto: será que o dele o foi?! Não, exatamente! Passemos
ao corolário: como um grande poeta “oficial” mexicano, terá que ser trancafiado
também no seu sarcófago de “Obras Completas”! (rs).
Lives of the Poets (1)
En la poesía no hay final feliz
Los poetas acaban
viviendo su locura
Luego descuartizados como reses
(sucedió con Darío) (2)
O bien los apedrean y terminan
arrojándose al mar
o con cristales
de cianuro en la boca
O muertos de alcoholismo
drogadicción, miseria
O lo que es peor
poetas oficiales
amargos pobladores de un sarcófago
llamado Obras Completas...
A vida dos Poetas
Na poesia não há final feliz.
Os poetas acabam
vivendo sua loucura.
Logo são esquartejados como gado
(aconteceu com Darío).
Ou então apedrejados e terminam
atirando-se ao mar
ou com cristais
de cianeto na boca.
Ou mortos pelo alcoolismo,
toxicodependência, miséria.
Ou o que é pior:
poetas canônicos,
amargos ocupantes de um sarcófago
chamado Obras Completas...
(1) Este poema de Pacheco – intitulado, literalmente, como “Vidas dos Poetas” – constitui mote para outros poemas escritos pelo poeta venezuelano Enrique Hernández-d’Jesús (vide especificação no campo de referência abaixo), a fazer parte da obra “Los poemas de Venus García”, de 1988.
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