A partir de imagens
concretas, O’Hara exprime abstrações e sentimentos particulares, embora de
caráter universal: o desejo representado pela maçã na boca e o pesar provocado
pela passagem do tempo, revelam que um simples momento pode resultar indelével
na memória, embora, concomitantemente, seja um nada frente à eternidade.
O jogo de palavras
que o poeta emprega mostra-se bem interessante: “first rate” – a representar um
desempenho de primeira ordem, como se fosse uma marcha de excelência –, em
associação com “sharp corners” – dando a impressão que as manobras foram feitas
de modo perigoso –, velocidade a toda prova, que nem mesmo o poeta espera que
se repita no presente!
J.A.R. – H.C.
Frank O’Hara
(1926-1966)
Animals
Have you forgotten
what we were like then
when we were still
first rate
and the day came fat
with an apple in its mouth
it’s no use worrying
about Time
but we did have a few
tricks up our sleeves
and turned some sharp
corners
the whole pasture
looked like our meal
we didn’t need
speedometers
we could manage
cocktails out of ice and water
I wouldn’t want to be
faster
or greener than now
if you were with me O you
were the best of all
my days
Em meio à amplidão do
vale
(Ivan Shishkin:
pintor russo)
Animais
Esqueceste-te como
éramos então
quando ainda
estávamos ótimos
e o dia chegou basto
com uma maçã na boca
não há proveito em
preocupar-se com o tempo
mas nós tínhamos um
par de ases sob as mangas
e fizemos algumas
curvas fechadas
todo o pasto
parecia-se com nosso alimento
não necessitávamos de
velocímetros
podíamos preparar
coquetéis de gelo e água
eu não desejaria que
tudo fosse mais veloz
ou mais verde do que
agora caso estivesses comigo
Oh tu foste o melhor
de todos os meus dias
Referência:
O’HARA, Frank.
Animals. In: BENSON, Gerard; CHERNAIK, Judith; HERBERT, Cicely
(Eds.). Best poems on the
underground. 1st. publ. London, EN: Weidenfeld & Nicolson, 2009. p. 208.
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