Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Goethe - O escavador de tesouros

Alguém pobre emocional e materialmente deposita a sua esperança em encontrar um tesouro, levando à frente um ritual no qual se propõe dedicar a alma a quem lho trouxer, se necessário for: como efeito do rito, aparece-lhe um garoto com flores, em meio a uma luz ofuscante, a lhe oferecer uma chávena da poção transformadora.

Mas o dinheiro não é tudo o que pode haver de mais importante na vida – e o garoto procura convencê-lo de que existem outros valores pelos quais empenhar-se na lida, como o trabalho e a autoestima que dele decorre. Terá ou não o carente obtido o tesouro que procurava? Mudar o padrão de pensamento pode ser um bom começo para se guinar a um rumo mais fértil!

J.A.R. – H.C.

J. W. Goethe
(1749-1832)

Der Schatzgräber

Arm am Beutel, krank am Herzen,
Schleppt ich meine langen Tage.
Armuth ist die größte Plage,
Reichthum ist das höchste Gut!
Und zu enden meine Schmerzen,
Ging ich einen Schatz zu graben.
Meine Seele sollst du haben!
Schrieb ich hin mit eignem Blut.

Und so zog ich Kreis um Kreise,
Stellte wunderbare Flammen,
Kraut und Knochenwerk zusammen:
Die Beschwörung war vollbracht.
Und auf die gelernte Weise
Grub ich nach dem alten Schatze
Auf dem angezeigten Platze;
Schwarz und stürmisch war die Nacht.

Und ich sah ein Licht von weiten,
Und es kam gleich einem Sterne,
Hinten aus der fernsten Ferne.
Eben als es zwölfe schlug.
Und da galt kein Vorbereiten:
Heller ward’s mit einemmale
Von dem Glanz der vollen Schale,
Die ein schöner Knabe trug.

Holde Augen sah ich blinken
Unter dichtem Blumenkranze;
In des Trankes Himmelsglanze
Trat er in den Kreis herein.
Und er hieß mich freundlich trinken,
Und ich dacht’ es kann der Knabe
Mit der schönen, lichten Gabe
Wahrlich nicht der Böse sein.

Trinke Muth des reinen Lebens!
Dann verstehst du die Belehrung,
Kommst, mit ängstlicher Beschwörung,
Nicht zurück an diesen Ort.
Grabe hier nicht mehr vergebens!
Tages Arbeit, Abends Gäste!
Saure Wochen, frohe Feste!
Sei dein künftig Zauberwort.

(1797)

As Covas do Tesouro
(Johann Oswald Harms: pintor alemão)

O escavador de tesouros

De bolsa desprovida e coração sofrido,
Arrastava a minha triste vida:
A maior das desditas é ser pobre.
A riqueza é o soberano bem.
Para acabar com meus padecimentos
À cata de um tesouro me enlevei:
E tê-lo-ás, minha alma! Assim clamando,
Com o meu próprio sangue o atestei.

No lugar propício já chegado
Signos e mais signos mágicos tracei;
Acendendo vivas labaredas,
Ossos e ervas mágicas reunindo,
A invocação completei.
Seguindo o rito, fiel ao roteiro,
Cavei o chão da terra fria,
Em busca do tesouro ambicionado:
Feia era a noite, tempestuosa e negra.

Ao ressoar da meia-noite,
Vi surgir do bojo da treva imensa
Uma luz resplendente
Vindo em minha direção,
Qual estrela alvinitente,
Rasgando a escuridão.
Num abrir e fechar de olhos, num repente,
Banhou-me fúlgido clarão
Brotando da taça refulgente
Que um moço de belo aspecto,
Formoso, trazia na mão.

Vi que seus olhos brilhavam,
Cheios de benevolência,
Sob uma coroa de flores.
Vi que ele vinha co’a luz divina,
Transpor o círculo da força mágica.
E assim o fez, para depois,
Bondosamente, convidar-me para beber
Daquela taça.
Pensei comigo: não é possível
Que um moço, assim, tão carinhoso,
Radiando luz, e tão formoso,
Dos domínios do mal seja um enviado.

– Ó meu amigo, bebe entusiasmo para a tua vida,
Que só assim hás de chegar à compreensão!
E assim fazendo, jamais aqui retornarás.
Cheio de medo, a estes lugares, ermos, tortuosos,
Para estas coisas de invocação!
Larga mão de escavar nesse vazio,
Outra seja a tua forma de viver:
Durante o dia – trabalho.
Ao vir da noite – sossego, visitas e distrações.
Árduas semanas de lutas, às vezes festa e alegria,
Tal seja, daqui por diante,
O teu rito de magia.

(1797)

Referências:

Em Alemão

GOETHE, Johann Wolfgang von. Der schatzgräber. Disponível neste endereço. Acesso em: 21 set. 2018.

Em Português

GOETHE, Johann Wolfgang von. O escavador de tesouros. Tradução de Pedro de Almeida Moura. In: __________. Poesias escolhidas. Apresentação de Samuel Pfromm Netto (org.). 2. ed. Campinas, SP: Editora Átomo; Edições PNA, 2005. p. 92-93. (Série “Raízes Clássicas”)

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