Alguém pobre emocional e materialmente deposita a sua esperança em
encontrar um tesouro, levando à frente um ritual no qual se propõe dedicar a
alma a quem lho trouxer, se necessário for: como efeito do rito, aparece-lhe um
garoto com flores, em meio a uma luz ofuscante, a lhe oferecer uma chávena da
poção transformadora.
Mas o dinheiro não é tudo o que pode haver de mais importante na vida –
e o garoto procura convencê-lo de que existem outros valores pelos quais
empenhar-se na lida, como o trabalho e a autoestima que dele decorre. Terá ou
não o carente obtido o tesouro que procurava? Mudar o padrão de pensamento pode
ser um bom começo para se guinar a um rumo mais fértil!
J.A.R. – H.C.
J. W. Goethe
(1749-1832)
Der Schatzgräber
Arm am Beutel, krank
am Herzen,
Schleppt ich meine
langen Tage.
Armuth ist die größte
Plage,
Reichthum ist das
höchste Gut!
Und zu enden meine
Schmerzen,
Ging ich einen Schatz
zu graben.
Meine Seele sollst du
haben!
Schrieb ich hin mit
eignem Blut.
Und so zog ich Kreis
um Kreise,
Stellte wunderbare
Flammen,
Kraut und Knochenwerk
zusammen:
Die Beschwörung war
vollbracht.
Und auf die gelernte
Weise
Grub ich nach dem
alten Schatze
Auf dem angezeigten
Platze;
Schwarz und stürmisch
war die Nacht.
Und ich sah ein Licht
von weiten,
Und es kam gleich
einem Sterne,
Hinten aus der
fernsten Ferne.
Eben als es zwölfe
schlug.
Und da galt kein
Vorbereiten:
Heller ward’s mit
einemmale
Von dem Glanz der
vollen Schale,
Die ein schöner Knabe
trug.
Holde Augen sah ich
blinken
Unter dichtem
Blumenkranze;
In des Trankes
Himmelsglanze
Trat er in den Kreis
herein.
Und er hieß mich
freundlich trinken,
Und ich dacht’ es
kann der Knabe
Mit der schönen,
lichten Gabe
Wahrlich nicht der
Böse sein.
Trinke Muth des
reinen Lebens!
Dann verstehst du die
Belehrung,
Kommst, mit
ängstlicher Beschwörung,
Nicht zurück an
diesen Ort.
Grabe hier nicht mehr
vergebens!
Tages Arbeit, Abends
Gäste!
Saure Wochen, frohe
Feste!
Sei dein künftig
Zauberwort.
(1797)
As Covas do Tesouro
(Johann Oswald Harms:
pintor alemão)
O escavador de tesouros
De bolsa desprovida e
coração sofrido,
Arrastava a minha
triste vida:
A maior das desditas
é ser pobre.
A riqueza é o
soberano bem.
Para acabar com meus
padecimentos
À cata de um tesouro
me enlevei:
E tê-lo-ás, minha
alma! Assim clamando,
Com o meu próprio
sangue o atestei.
No lugar propício já
chegado
Signos e mais signos
mágicos tracei;
Acendendo vivas
labaredas,
Ossos e ervas mágicas
reunindo,
A invocação
completei.
Seguindo o rito, fiel
ao roteiro,
Cavei o chão da terra
fria,
Em busca do tesouro ambicionado:
Feia era a noite,
tempestuosa e negra.
Ao ressoar da
meia-noite,
Vi surgir do bojo da
treva imensa
Uma luz resplendente
Vindo em minha
direção,
Qual estrela
alvinitente,
Rasgando a escuridão.
Num abrir e fechar de
olhos, num repente,
Banhou-me fúlgido
clarão
Brotando da taça
refulgente
Que um moço de belo
aspecto,
Formoso, trazia na
mão.
Vi que seus olhos
brilhavam,
Cheios de
benevolência,
Sob uma coroa de
flores.
Vi que ele vinha co’a
luz divina,
Transpor o círculo da
força mágica.
E assim o fez, para
depois,
Bondosamente,
convidar-me para beber
Daquela taça.
Pensei comigo: não é
possível
Que um moço, assim, tão
carinhoso,
Radiando luz, e tão
formoso,
Dos domínios do mal
seja um enviado.
– Ó meu amigo, bebe
entusiasmo para a tua vida,
Que só assim hás de
chegar à compreensão!
E assim fazendo,
jamais aqui retornarás.
Cheio de medo, a
estes lugares, ermos, tortuosos,
Para estas coisas de
invocação!
Larga mão de escavar
nesse vazio,
Outra seja a tua
forma de viver:
Durante o dia –
trabalho.
Ao vir da noite –
sossego, visitas e distrações.
Árduas semanas de
lutas, às vezes festa e alegria,
Tal seja, daqui por
diante,
O teu rito de magia.
(1797)
Referências:
Em Alemão
Em Português
GOETHE, Johann Wolfgang von. O
escavador de tesouros. Tradução de Pedro de Almeida Moura. In: __________. Poesias escolhidas. Apresentação de
Samuel Pfromm Netto (org.). 2. ed. Campinas, SP: Editora Átomo; Edições PNA,
2005. p. 92-93. (Série “Raízes Clássicas”)
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