Já há, aqui
no bloguinho, uma tradução que fiz ao poema de Gabriela Mistral, sobre o enredo
de “Antígona”, uma das peças da trilogia tebana, de autoria do dramaturgo grego
Sófocles. Eis aqui outra, do mineiro Antonio Olinto, mais centrada na própria
figura de Antígona, que descumpre o édito de Creonte, para que não se
enterrasse Polinice, seu irmão.
É que Etéocles – também irmão de
Antígona – e Polinice foram às vias de fato, numa guerra civil, e ambos
morreram. Como estava no lado “errado”, aos olhos de Creonte, este negou ao
próprio sobrinho o direito de sepultamento, retirando-lhe a perspectiva de vida
após a morte. Antígona desafia Creonte e enterra Polinice. Tragicamente, ela é
pega e levada a morrer numa caverna, onde dá fim à vida antes que Hémon, seu
noivo e filho de Creonte, a encontre. Ao fim, Hémon também comete suicídio.
Consigne-se que a figura de Antígona é
tão onipresente entre os que levam à frente as artes cênicas, que
representações da peça sempre marcaram a história do teatro: a obra
“Antígonas”, de George Steiner, publicada em 1984, compendia todo o lastro
gerado na cultura ocidental por esse mito grego.
Antígona
Enterra teu irmão
Em terra funda ou à flor do chão
Em pedra, areia ou carvão
Haja ou não haja caixão
Enterra teu irmão.
Em rocha bruta ou num desvão
Qualquer seja a oposição
Terremoto, incêndio, vulcão
Tempestade, enchente, furacão
Enterra teu irmão.
Com xingamento ou louvação
Com boi, cavalo ou dragão
Enterra teu irmão.
Lanha, fere, usa um facão
Faze tua amputação
Corta de vez tua mão
Para enterrar teu irmão.
Com fogo, lâmpada ou lampião
ou na maior escuridão
Enterra teu irmão.
Abandona a compaixão
Mulher, tua solidão
Tem a veemência do pão
Arranca teu coração
Ergue tua maldição
Tece tua rebelião
Grita o grito da paixão
Cumpre tua missão
Referência:
OLINTO, Antonio. Antígona. In: __________. 50 poemas escolhidos pelo autor. Rio de Janeiro, RJ: Edições Galo Branco, 2004. p. 35. (Coleção “50 poemas escolhidos pelo autor”; v. 12)
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