Neste poema, o poeta argentino redigiu as suas
impressões acerca da influência árabe sobre a pequena cidade andaluza – e não
só! Avançou sobre todas as reminiscências e o legado da cultura árabe à
humanidade, das “Mil e uma noites” às muito belas páginas do sufismo, da
álgebra aos comentadores de Aristóteles, sem contar com o padrão arquitetônico
onde pontuam os minaretes, a decoração rendilhada e os pátios com espelhos
d’água.
Borges era um baluarte da erudição – e suas
páginas não permitem a acomodação do leitor a um texto do tipo “pegar e
largar”, pois o que nelas se encontra é o apanhado geral de toda a história da
humanidade, plasmada pela sensibilidade de alguém com ampla capacidade de
produzir sínteses definitivas!
J.A.R. – H.C.
Jorge Luis Borges
(1899-1986)
Ronda
El Islam, que fue
espadas,
que desolaron el
poniente y la aurora
y estrópito de ejércitos
en la tierra
y una revelación y una
disciplina
y la aniquilación de los
ídolos
y la conversión de todas
las cosas
en un terrible Dios, que
está solo,
y la rosa y el vino del
sufi
y la rimada prosa
alcoránica
y rios que repiten
alminares
y el idioma infinito de
la arena
y ese otro idioma, el
álgebra,
y ese largo jardín, las
Mil y Una Noches,
y hombres que comentaron
a Aristóteles
y dinastias que son
ahora nombres del polvo
y Tamerlán y Omar, que
destruyeron,
es aqui, en Ronda,
en la delicada penumbra
de la ceguera,
un cóncavo silencio de
patios,
un ocio del jazmín
y un tenue rumor de
agua, que conjuraba
memórias de desiertos.
En: “La Cifra” (1981)
Sherazade e o Sultão
Shariar
(Ferdinand Keller:
pintor alemão)
Ronda
O Islã, que foi espadas
que desolaram o poente e
a aurora
e um fragor de exércitos
na terra
e uma revelação e uma
disciplina
e a aniquilação dos
ídolos
e a conversão de todas
as coisas
em um terrível Deus, que
está só,
e a rosa e o vinho do
sufi
e a rimada prosa
alcorânica
e rios que repetem
minaretes
e o infinito idioma da
areia
e esse outro idioma, a
álgebra,
e esse vasto jardim, as
Mil e Uma Noites,
e homens que comentaram
Aristóteles
e dinastias que se
tornaram nomes do pó
e Tamerlão e Omar, que
destruíram,
é aqui, em Ronda,
na delicada penumbra da cegueira,
um côncavo silêncio de
pátios,
um ócio do jasmim
e um tênue rumor de
água, que conjurava
memórias de desertos.
Em: “A Cifra” (1981)
Referência:
BORGES, Jorge Luis. Ronda / Ronda. Tradução de
Josely Vianna Baptista. In: __________. Poesia. Edição bilíngue.
Tradução de Josely Vianna Baptista. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2009.
Em espanhol: p. 576; em português: p. 302.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário