Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Jorge Luis Borges - Ronda

Neste poema, o poeta argentino redigiu as suas impressões acerca da influência árabe sobre a pequena cidade andaluza – e não só! Avançou sobre todas as reminiscências e o legado da cultura árabe à humanidade, das “Mil e uma noites” às muito belas páginas do sufismo, da álgebra aos comentadores de Aristóteles, sem contar com o padrão arquitetônico onde pontuam os minaretes, a decoração rendilhada e os pátios com espelhos d’água.

 

Borges era um baluarte da erudição – e suas páginas não permitem a acomodação do leitor a um texto do tipo “pegar e largar”, pois o que nelas se encontra é o apanhado geral de toda a história da humanidade, plasmada pela sensibilidade de alguém com ampla capacidade de produzir sínteses definitivas!

 

J.A.R. – H.C.

 

Jorge Luis Borges

(1899-1986)

 

Ronda

 

El Islam, que fue espadas,

que desolaron el poniente y la aurora

y estrópito de ejércitos en la tierra

y una revelación y una disciplina

y la aniquilación de los ídolos

y la conversión de todas las cosas

en un terrible Dios, que está solo,

y la rosa y el vino del sufi

y la rimada prosa alcoránica

y rios que repiten alminares

y el idioma infinito de la arena

y ese otro idioma, el álgebra,

y ese largo jardín, las Mil y Una Noches,

y hombres que comentaron a Aristóteles

y dinastias que son ahora nombres del polvo

y Tamerlán y Omar, que destruyeron,

es aqui, en Ronda,

en la delicada penumbra de la ceguera,

un cóncavo silencio de patios,

un ocio del jazmín

y un tenue rumor de agua, que conjuraba

memórias de desiertos.

 

En: “La Cifra” (1981)

 

Sherazade e o Sultão Shariar

(Ferdinand Keller: pintor alemão)

 

Ronda

 

O Islã, que foi espadas

que desolaram o poente e a aurora

e um fragor de exércitos na terra

e uma revelação e uma disciplina

e a aniquilação dos ídolos

e a conversão de todas as coisas

em um terrível Deus, que está só,

e a rosa e o vinho do sufi

e a rimada prosa alcorânica

e rios que repetem minaretes

e o infinito idioma da areia

e esse outro idioma, a álgebra,

e esse vasto jardim, as Mil e Uma Noites,

e homens que comentaram Aristóteles

e dinastias que se tornaram nomes do pó

e Tamerlão e Omar, que destruíram,

é aqui, em Ronda,

na delicada penumbra da cegueira,

um côncavo silêncio de pátios,

um ócio do jasmim

e um tênue rumor de água, que conjurava

memórias de desertos.

 

Em: “A Cifra” (1981)

 

Referência:

 

BORGES, Jorge Luis. Ronda / Ronda. Tradução de Josely Vianna Baptista. In: __________. Poesia. Edição bilíngue. Tradução de Josely Vianna Baptista. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2009. Em espanhol: p. 576; em português: p. 302.

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