Alpes Literários
Subtítulo
sexta-feira, 31 de agosto de 2018
Gabriel Saldivia - Os livros
quinta-feira, 30 de agosto de 2018
Robert Frost - Travar conhecimento com a noite
quarta-feira, 29 de agosto de 2018
Carlos Nejar - Os Fuzilados de Goya
Nejar atribui um sentido mais abstrato
– menos específico, portanto, naquilo que se refere a um evento ocorrido na
colina do Príncipe Pío, em Madrid, quando da invasão napoleônica à Espanha, em
1808, que vitimou por volta de 400 pessoas –, às impressões que se podem
extrair do famoso quadro de Goya.
Afirma o poeta que, quem quer que
possua o poder ou a força para nos matar, mata-nos o corpo, mas não a alma, ela
que perdura pela robustez dos sonhos a que se agarra, vivendo, por conseguinte,
num plano de vida incapaz de ser violentado, eis que desdobrado em uma ponte
para a eternidade.
J.A.R. – H.C.
Os Fuzilados de Goya
Morremos
mas não abrimos mão
do que sonhando,
é mais do que estar vivo,
é ter vivido
o último percalço
do equilíbrio.
Os homens não toleram
a consciência, nem
se toleram como feras.
E se à luz não se apegam,
são mais tristes, duros,
solitários. Gorjeando
contra o frio, os ledos
ossos.
Morremos. Onde é alma,
sobrevive. E toda a eternidade
é ver o instante
que as armas nos apontam
com seu fogo.
E mais que a pontaria,
o grito enorme,
como flores caladas
junto aos olhos.
São pálpebras que falam
o seu ódio.
O pelotão explode
e nós olhamos na cara
o vosso susto, a morte
que nos dais, o sonho
florescendo igual a um campo,
onde fuzis plantados,
se levantam.
E esta porta
aberta
sobre a morte.
Referência:
terça-feira, 28 de agosto de 2018
Victor Hugo - A Canção dos Piratas
Os piratas – vistos aqui como heróis românticos
e sinistros antagonistas – narram as suas aventuras sobre o mar, à margem de
quaisquer considerações de ordem legal, à procura do que quer que seja que
possam pilhar e transformar em valores mais facilmente transacionáveis, a
exemplo do dinheiro vivo.
Como objeto de espoliação, serve até mesmo uma
jovem freira, raptada de um monastério às proximidades do litoral e vendida à
sua alteza, pouco importando as suas súplicas, rogos, apelos. Tornar-se-á ela
uma maometana, pertencendo ao harém do sultão, morra ela ou não de desgosto por
estar afastada dos seus antigos votos cristãos.
J.A.R. – H.C.
Victor Hugo
(1802-1885)
Chanson de Pirates
“Alerte! alerte! Voici
les pirates
d’Ochali qui traversent
le détroit.”
Le Captif d’Ochali.
Nous emmenions en
esclavage
Cent chrétiens, pêcheurs
de corail;
Nous recrutions pour le
sérail
Dans tous les moûtiers
du rivage.
En mer, les hardis
écumeurs!
Nous allions de Fez à
Catane...
Dans la galère capitane
Nous étions
quatre-vingts rameurs.
On signale un couvent à
terre.
Nous jetons l’ancre près
du bord.
A nos yeux s’offre tout
d’abord
Une fille du monastère.
Prés des flots, sourde à
leurs rumeurs,
Elle dormait sous un
platane...
Dans la galère capitane
Nous étions
quatre-vingts rameurs.
– La belle fille, il
faut vous taire,
Il faut nous suivre. Il
fait bon vent.
Ce n’est que changer de
couvent.
Le harem vaut le
monastère.
Sa hautesse aime les
primeurs,
Nous vous ferons
mahométane...
Dans la galère capitane
Nous étions
quatre-vingts rameurs.
Elle veut fuir vers sa
chapelle.
– Osez-vous bien, fils
de Satan?
– Nous osons, dit le
capitan.
Elle pleure, supplie,
appelle.
Malgré sa plainte et ses
clameurs,
On l’emporta dans la
tartane...
Dans la galère capitane
Nous étions
quatre-vingts rameurs.
Plus belle encor dans sa
tristesse,
Ses yeux étaient deux
talismans.
Elle valait mille
tomans;
On la vendit à sa
hautesse.
Elle eut beau dire: Je
me meurs!
De nonne elle devint
sultane...
Dans la galère capitane
Nous étions
quatre-vingts rameurs.
(12 mars 1828)
Dans: “Les Orientales”
(1829)
Batalha no mar entre
militares e piratas orientais
(Philippe-Jacques de
Loutherbourg: pintor francês)
A Canção dos Piratas
“Alerta! alerta! Vejam
os piratas
de Ochali a cruzar o
estreito.”
O Cativo de Ochali.
Nós transportamos em
cativeiro
Cem cristãos, pescadores
de corais;
Nós os recrutamos para o
serralho
De todos os monastérios
do litoral.
No mar, como audazes
corsários!
Nós rumamos de Fez a
Catânia...
Embarcados na galera
capitânia,
Éramos oitenta a impelir
os remos.
Divisamos um convento em
terra.
Ancoramos bem perto da
margem.
Aos nossos olhos logo se
ofereceu
Uma jovem eremita do
mosteiro.
Indiferente ao marulho
da borda,
Descansava ela sob um
plátano...
Embarcados na galera
capitânia,
Éramos oitenta a impelir
os remos.
Fica tranquila, formosa
mocinha,
Partiremos já. Há vento
favorável.
Só estarás mudando de
convento.
O harém equivale ao
monastério.
Sua alteza aprecia as
novidades
E te faremos uma
maometana...
Embarcados na galera
capitânia,
Éramos oitenta a impelir
os remos.
Ela buscou fugir de
volta à capela.
– Ousais de fato, filhos
de Satã?
O capitão assegurou-lhe
a ousadia.
Então chorou, implorou,
suplicou.
Malgrado a sua queixa e
clamor,
Deixou-se levar sobre a
tartana...
Embarcados na galera
capitânia,
Éramos oitenta a impelir
os remos.
Ainda mais bonita em sua
tristeza,
Seus olhos pareciam dois
talismãs;
Mil tomans foi o importe
cobrado
À sua alteza, que dela
se apossou.
Longe dos votos, era
como morrer!
De eremita tornou-se uma
sultana...
Embarcados na galera
capitânia,
Éramos oitenta a impelir
os remos.
(12 março 1828)
Em: “As Orientais”
(1829)
Referência:
HUGO, Victor. Chanson de pirates. In:
__________. Oeuvres poétiques completes. Réunies et présentées par
Francis Bouvet. Paris, FR: Jean-Jacques Pauvert Éditeur, 1961. p. 110-111.
❁