Trazemos nesta postagem traduções do escritor e poeta português Jorge de
Sena para três breves poemas do também literato e autor tcheco, dois dos quais se
detêm em vasculhar os desígnios do poeta: um integrador, um alquimista, um
mágico talvez!
O terceiro poema dirige-se à figura de Eros, o deus grego do amor lúbrico,
exibindo muitos dos elementos que caracterizam o estilo de Rilke, cheio de
evocações e exclamações, tudo para exaltar a força platônica de transformação
de uma beleza meramente sensorial para outra ontologicamente superior.
J.A.R. – H.C.
Rainer Maria Rilke
(1875-1926)
O sage, Dichter...
O sage, Dichter, was
du tust? – lch rühme.
Aber das Tödliche und
Ungetüme,
wie hältst du’s aus,
wie nimmst du’s hin? – Ich rühme.
Aber das Namenlose,
Anonyme,
wie rufst du’s,
Dichter, dennoch an? – lch rühme.
Woher dein Recht, in
jeglichem Kostüme.
in jeder Maske wahr
zu sein? – lch rühme.
Und daß das Stille
und das Ungestüme
wie Stern und Sturm
dich kennen? – weil ich rühme.
Baudelaire
Der Dichter einzig
hat die Welt geeinigt,
die weit in jedem
auseinanderfällt.
Das Schöne hat er
unerhört bescheinigt,
doch da er selbst
noch feiert, was ihn peinigt,
hat er unendlich den
Ruin gereinigt:
und auch noch das
Vernichtende wird Welt.
Eros
Masken! Masken! Daß
man Eros blende.
Wer erträgt sein
strahlendes Gesicht,
wenn er wie die
Sommersonnenwende
frühlingliches
Vorspiel unterbricht.
Wie es unversehens im
Geplauder
anders wird und
ernsthaft... Etwas schrie...
Und er wirft den
namenlosen Schauder
wie ein Tempelinnres
über sie.
Oh verloren,
plötzlich, oh verloren!
Göttliche umarmen
schnell.
Leben wand sich,
Schicksal ward geboren.
Und im Innern weint
ein Quell.
Eros
(William A.
Bouguereau: pintor francês)
O Sage, Dichter...
Que fazes tu, poeta?
Diz! – Eu canto.
Mas o mortal e
monstruoso espanto
Como o suportas, como
aceitas? – Canto.
E que nome não tem,
tu podes tanto
Que o possas nomear,
poeta? – Canto.
De onde te vem
direito ao Vero, enquanto
Usas de máscaras,
roupagens? – Canto.
E o que é violento e
o que é silente encanto,
Astros e temporais,
como te sabem? – Canto.
Baudelaire
(Num exemplar de “Les
Fleurs du Mal”)
Só o poeta é quem a
tudo reintegra
Do que em cada um se
desintegra.
Estranha beleza é
dele autenticada,
Mesmo a tortura sua é
celebrada,
E as ruínas são de
tal limpeza tranquila
Que a regra surge do
que ele aniquila.
Eros
Máscaras! Ou cegai-o!
Quem suporta
Eros, senhor dos
homens e dos deuses,
Estalando de
solstício de Verão
No idílio-prólogo de
estival brincar?
Como a conversa
imperceptivelmente
Se torna estranha e
grave... Um grito... Aí está.
Lá soltou ele o anónimo
fascínio
(Templo sombrio em
torno aos destinados).
Perdido par! Ó
perdição instantânea!
Em divindade breve se
entrelaçam.
A vida gira. O fado
recomeça.
E lá dentro uma fonte
chora quieta.
Referências:
Em Alemão
RILKE, Rainer Maria. Baudelaire. In: KOHN,
Hans. The mind of Germany: the
education of a nation. New York, NY: Charles Scribner’s Sons, 1960. p. 228.
RILKE, Rainer Maria. O sage, dichter...
In: __________. Rilke on love and other
difficulties. Bilingual edition: german x english. Translations and considerations
by John J. L. Mood. New York, NY: W. W.
Norton & Company Inc., 1975. p. 78.
RILKE, Rainer Maria. Eros. In: __________.
Selected poems. Bilingual edition:
german x english. Translated by Susan Ranson and Marielle Sutherland. Edited
with na introduction and notes by Robert Vilain. 1st. publ. Oxford, UK: Oxford
University Press, 2011. p. 248 e 250. (‘Oxford World’s Classics’)
Em Português
RILKE, Rainer Maria. O sage, dichter...
/ Baudelaire / Eros. Tradução de Jorge de Sena. In: SENA, Jorge de (Antologia,
tradução, prefácio e notas). Poesia do
século XX: de Thomas Hardy a C. V. Cattaneo. Porto, PT: Editorial Inova,
1978. p. 197-198. (Colecção “As Mãos e os Frutos”; v. 14).
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