Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 10 de dezembro de 2017

Três vezes Rainer Maria Rilke

Trazemos nesta postagem traduções do escritor e poeta português Jorge de Sena para três breves poemas do também literato e autor tcheco, dois dos quais se detêm em vasculhar os desígnios do poeta: um integrador, um alquimista, um mágico talvez!

O terceiro poema dirige-se à figura de Eros, o deus grego do amor lúbrico, exibindo muitos dos elementos que caracterizam o estilo de Rilke, cheio de evocações e exclamações, tudo para exaltar a força platônica de transformação de uma beleza meramente sensorial para outra ontologicamente superior.

J.A.R. – H.C.

Rainer Maria Rilke
(1875-1926)

O sage, Dichter...

O sage, Dichter, was du tust? – lch rühme.
Aber das Tödliche und Ungetüme,
wie hältst du’s aus, wie nimmst du’s hin? – Ich rühme.
Aber das Namenlose, Anonyme,
wie rufst du’s, Dichter, dennoch an? – lch rühme.
Woher dein Recht, in jeglichem Kostüme.
in jeder Maske wahr zu sein? – lch rühme.
Und daß das Stille und das Ungestüme
wie Stern und Sturm dich kennen? – weil ich rühme.

Baudelaire

Der Dichter einzig hat die Welt geeinigt,
die weit in jedem auseinanderfällt.
Das Schöne hat er unerhört bescheinigt,
doch da er selbst noch feiert, was ihn peinigt,
hat er unendlich den Ruin gereinigt:
und auch noch das Vernichtende wird Welt.

Eros

Masken! Masken! Daß man Eros blende.
Wer erträgt sein strahlendes Gesicht,
wenn er wie die Sommersonnenwende
frühlingliches Vorspiel unterbricht.

Wie es unversehens im Geplauder
anders wird und ernsthaft... Etwas schrie...
Und er wirft den namenlosen Schauder
wie ein Tempelinnres über sie.

Oh verloren, plötzlich, oh verloren!
Göttliche umarmen schnell.
Leben wand sich, Schicksal ward geboren.
Und im Innern weint ein Quell.

Eros
(William A. Bouguereau: pintor francês)

O Sage, Dichter...

Que fazes tu, poeta? Diz! – Eu canto.
Mas o mortal e monstruoso espanto
Como o suportas, como aceitas? – Canto.
E que nome não tem, tu podes tanto
Que o possas nomear, poeta? – Canto.
De onde te vem direito ao Vero, enquanto
Usas de máscaras, roupagens? – Canto.
E o que é violento e o que é silente encanto,
Astros e temporais, como te sabem? – Canto.

Baudelaire
(Num exemplar de “Les Fleurs du Mal”)

Só o poeta é quem a tudo reintegra
Do que em cada um se desintegra.
Estranha beleza é dele autenticada,
Mesmo a tortura sua é celebrada,
E as ruínas são de tal limpeza tranquila
Que a regra surge do que ele aniquila.

Eros

Máscaras! Ou cegai-o! Quem suporta
Eros, senhor dos homens e dos deuses,
Estalando de solstício de Verão
No idílio-prólogo de estival brincar?

Como a conversa imperceptivelmente
Se torna estranha e grave... Um grito... Aí está.
Lá soltou ele o anónimo fascínio
(Templo sombrio em torno aos destinados).

Perdido par! Ó perdição instantânea!
Em divindade breve se entrelaçam.
A vida gira. O fado recomeça.
E lá dentro uma fonte chora quieta.

Referências:

Em Alemão

RILKE, Rainer Maria. Baudelaire. In: KOHN, Hans. The mind of Germany: the education of a nation. New York, NY: Charles Scribner’s Sons, 1960. p. 228.

RILKE, Rainer Maria. O sage, dichter... In: __________. Rilke on love and other difficulties. Bilingual edition: german x english. Translations and considerations by John J. L. Mood.  New York, NY: W. W. Norton & Company Inc., 1975. p. 78.

RILKE, Rainer Maria. Eros. In: __________. Selected poems. Bilingual edition: german x english. Translated by Susan Ranson and Marielle Sutherland. Edited with na introduction and notes by Robert Vilain. 1st. publ. Oxford, UK: Oxford University Press, 2011. p. 248 e 250. (‘Oxford World’s Classics’)

Em Português

RILKE, Rainer Maria. O sage, dichter... / Baudelaire / Eros. Tradução de Jorge de Sena. In: SENA, Jorge de (Antologia, tradução, prefácio e notas). Poesia do século XX: de Thomas Hardy a C. V. Cattaneo. Porto, PT: Editorial Inova, 1978. p. 197-198. (Colecção “As Mãos e os Frutos”; v. 14).

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