Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 2 de dezembro de 2017

Cipriano S. Vitureira - Tardes do Povo

Vitureira (1907-1977), poeta uruguaio, foi também tradutor ao idioma espanhol de muitas poesias contemporâneas de autores brasileiros. Mas, nesta postagem, ele é o próprio vate no exercício de seu ofício compromissado com a justiça social.

Veja-se que o poeta emprega uma silepse de pessoa, para se identificar com os pobres, projetando às tardes do povo – elas que são pródigas em perseverança – todo o ódio que decorre da miséria, a ecoar em palavras sustentadas por princípios.

J.A.R. – H.C.

O Quarto Estado
(Giuseppe P. da Volpedo: pintor italiano)

Tardes del Pueblo

Tardes del pueblo, románticas, claras;
los árboles entornan sus veneraciones;
los pájaros recogen las palabras perdidas;
y las calles se ahuecan de infinitos
y de un amor que se despierta junto a los muros.

Sólo los pobres quedamos con el frío
y con las distancias todas en los silencios...

Ah! si el calor viniera como los hijos!
ah! si el frío se fuera como los hijos!
Y las distancias nos dejaran respirar un día...

Tardes del pueblo, románticas, claras,
lenguaje de principios bajo los soles y los vientos.
Hasta ellas llega nuestro odio
porque son ricas de perseverancias.

Y nosotros los pobres somos eso:
pobres ante Dios,
por ante nuestras manos
y ante el recuerdo mismo de lo que somos.

¡Nosotros somos sólo recuerdo!
Tan poderosa es nuestra miseria
y tan olvidado está lo que podríamos ser en el
día de la justicia...

En: “Libro de Pausas” (1934)

A Liberdade Guiando o Povo
(Eugene Delacroix: pintor francês)

Tardes do Povo

Tardes do povo, românticas, claras;
as árvores entreabrem suas venerações;
os pássaros recolhem as palavras perdidas;
e as ruas se esvaziam de infinitos
e de um amor que desperta junto aos muros.

Somente os pobres ficamos com o frio
e com as distâncias todas nos silêncios...

Ah! se o calor viesse como os filhos!
ah! se o frio se fosse como os filhos!
e as distâncias nos deixassem respirar um dia...

Tardes do povo, românticas, claras,
linguagem de princípios, sob os sóis e os ventos.
Até elas chega o nosso ódio
porque são ricas de perseveranças.

E nós os pobres somos isto:
pobres ante Deus,
perante nossas mãos
e ante a lembrança mesma do que somos.

Nós somos apenas lembrança!
Tão poderosa é nossa miséria
e tão esquecido está o que poderíamos ser no
dia da justiça...

Em: “Livro de Pausas” (1934)

Referência:

VITUREIRA, Cipriano S. Tardes del pueblo. In: BORDOLI, Domingo Luis (Org. y sel.) Antología de la poesía uruguaya contemporânea. Tomo II. Montevideo, UY: Departamento de Publicaciones de la Universidad de la República, 1966. p. 23-24. (“Letras Nacionales”; n. 9)

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