Vitureira (1907-1977), poeta uruguaio, foi também tradutor ao idioma espanhol
de muitas poesias contemporâneas de autores brasileiros. Mas, nesta postagem,
ele é o próprio vate no exercício de seu ofício compromissado com a justiça
social.
Veja-se que o poeta emprega uma silepse de pessoa, para se identificar
com os pobres, projetando às tardes do povo – elas que são pródigas em perseverança
– todo o ódio que decorre da miséria, a ecoar em palavras sustentadas por
princípios.
J.A.R. – H.C.
O Quarto Estado
(Giuseppe P. da
Volpedo: pintor italiano)
Tardes del Pueblo
Tardes del pueblo,
románticas, claras;
los árboles entornan
sus veneraciones;
los pájaros recogen
las palabras perdidas;
y las calles se
ahuecan de infinitos
y de un amor que se
despierta junto a los muros.
Sólo los pobres
quedamos con el frío
y con las distancias
todas en los silencios...
Ah! si el calor
viniera como los hijos!
ah! si el frío se
fuera como los hijos!
Y las distancias nos
dejaran respirar un día...
Tardes del pueblo,
románticas, claras,
lenguaje de
principios bajo los soles y los vientos.
Hasta ellas llega
nuestro odio
porque son ricas de
perseverancias.
Y nosotros los pobres
somos eso:
pobres ante Dios,
por ante nuestras
manos
y ante el recuerdo
mismo de lo que somos.
¡Nosotros somos sólo
recuerdo!
Tan poderosa es nuestra
miseria
y tan olvidado está
lo que podríamos ser en el
día de la justicia...
En: “Libro de Pausas” (1934)
A Liberdade Guiando o Povo
(Eugene Delacroix:
pintor francês)
Tardes do Povo
Tardes do povo,
românticas, claras;
as árvores entreabrem
suas venerações;
os pássaros recolhem
as palavras perdidas;
e as ruas se esvaziam
de infinitos
e de um amor que
desperta junto aos muros.
Somente os pobres
ficamos com o frio
e com as distâncias
todas nos silêncios...
Ah! se o calor viesse
como os filhos!
ah! se o frio se
fosse como os filhos!
e as distâncias nos
deixassem respirar um dia...
Tardes do povo,
românticas, claras,
linguagem de
princípios, sob os sóis e os ventos.
Até elas chega o
nosso ódio
porque são ricas de perseveranças.
E nós os pobres somos
isto:
pobres ante Deus,
perante nossas mãos
e ante a lembrança
mesma do que somos.
Nós somos apenas lembrança!
Tão poderosa é nossa
miséria
e tão esquecido está
o que poderíamos ser no
dia da justiça...
Em: “Livro de Pausas” (1934)
Referência:
VITUREIRA, Cipriano S. Tardes del
pueblo. In: BORDOLI, Domingo Luis (Org. y sel.) Antología de la poesía uruguaya contemporânea. Tomo II. Montevideo,
UY: Departamento de Publicaciones de la Universidad de la República, 1966. p.
23-24. (“Letras Nacionales”; n. 9)
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