O poeta chileno relata o que ocorre consigo na sequência veloz dos dias,
quando mal tem tempo para agradecer pelos favores pródigos da vida e, por
extensão, da própria natureza. Somente quando se encontra com água à volta do
pescoço é que lhe vem à mente essa potência latente, em perene fluir.
Não sucede apenas ao poeta tais deslembranças, mas a muitos de nós, que
apenas acorremos às bordas da manjedoura a esta época do ano, quando então
percebemos quão distante da idealidade do Verbo estamos, ao não reverenciarmos
o espírito que, em sua constância, nos franqueia a renovação da face da terra.
J.A.R. – H.C.
Juan Antonio Massone
(n. 1950)
Navidad de un Viejo en Espera del Niño
No ha sabido la
sonrisa
festejar el rocío del
amanecer.
La nocturna sed me
atrapa
con el agua al
cuello. A veces
atiendo tu llamado;
ocasiones,
nada más, cuando
adivina
la sonrisa que eres
Tú
y escucha, cuesta
abajo, el agua.
Quebranto de no saber
quererte.
Hay tantas lágrimas,
ahora mismo,
de qué dar cuenta.
Aroma de tierra
mojada por la niebla.
Aún así, recoges
lo que ignoro decir,
y me abrazas,
Niño-Verbo nacido
entre animales.
Adoração dos Pastores
(Carlo Maratta:
pintor italiano)
Natal de um Velho à Espera do Menino
O sorriso não soube
festejar o orvalho do
amanhecer.
A noturna sede me alcança
com a água ao
pescoço. Às vezes
atendo ao teu
chamado; ocasiões,
nada mais, quando o
sorriso
advinha que és Tu
e escuta, encosta
abaixo, a água.
Pesar por não saber
querer-te.
Há tantas lágrimas, agora
mesmo,
a levar em conta.
Aroma de terra
molhada pela névoa.
Ainda assim, recolhes
o que ignoro dizer, e
me abraças,
Menino-Verbo nascido
entre animais.
Referência:
MASSONE, Juan Antonio. Navidad de un
viejo en espera del niño. In: ALENCART, A. P.; CRUZ-VILLALOBOS, Luis (Eds.).
Carne del cielo: versos de navidad. Antología de poetas iberoamericanos de hoy.
Pinturas de Miguel Elías. Santiago, CL: Hebel Ediciones, 2015. p. 72.
Disponível neste endereço.
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