Transitando por domínios dos reinos mineral, vegetal e animal, o poeta
espera, num determinado dia, ascender à eterna luz divina, neste que é, salvo
melhor juízo, um poema que tem as marcas da doutrina filosófico-religiosa do
espiritismo.
Digo isto pelo fato de o autor gaúcho demarcar um reino que, em termos
científicos, não se distingue especificamente do animal, vale dizer, o “hominal”,
caracterizado pela presença da inteligência no ser humano, o que lhe teria
imposto o encargo de evoluir por meio da relação de causa e efeito de seus atos.
J.A.R. – H.C.
Múcio Teixeira
(1857-1926)
Evolução
E tornarei, sem recordações. É claro! A
individualidade permanente que reencarna, e a personalidade transitória de cada
vida, são diferentes. O que chamamos memória, não é função da alma, mas do
cérebro físico. A novo cérebro, de um organismo novo também, uma lúcida
memória, que nada recorda, é o que
lhe corresponde; é a consequência lógica. Bálsamo santo é esta física amnésia!...
(M. Roso de Luna – A pré-história de meus viveres).
I
Morri no mineral,
para nascer na planta,
Fui pedra e fui
semente:
Brilhei no diamante e
no cristal luzente,
E fez em mim seu
ninho o pássaro, que canta.
II
Na planta adormeci, e
despertei um dia
No animal, que move
os músculos e anda;
Percorri apressado
uma senda sombria,
Vendo indistintamente
uma luz na outra banda.
III
Do animal passei para
as formas do Homem,
E sendo Homem estou
muito perto do Anjo;
Só assim chegarei aos
círculos que abranjo
Com a Razão, que
ainda as Dúvidas consomem.
IV
Poderei amanhã
flutuar, batendo as azas,
Pela vasta amplidão
constelada de céus:
Faísca, que desceu às
cinzas e às brasas,
Ascenderei mais tarde
à Eterna Luz – que é Deus!
Rio, 1908.
(Livro Primeiro: Contemplação e Crença)
Queda Livre
(Blu Smith: artista
canadense)
Referência:
TEIXEIRA, Múcio. Evolução. In:
__________. Terra incógnita: poema.
São Paulo, SP: Casa Duprat Editora, 1916. p. 151-152.
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