Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 3 de dezembro de 2017

Múcio Teixeira - Evolução

Transitando por domínios dos reinos mineral, vegetal e animal, o poeta espera, num determinado dia, ascender à eterna luz divina, neste que é, salvo melhor juízo, um poema que tem as marcas da doutrina filosófico-religiosa do espiritismo.

Digo isto pelo fato de o autor gaúcho demarcar um reino que, em termos científicos, não se distingue especificamente do animal, vale dizer, o “hominal”, caracterizado pela presença da inteligência no ser humano, o que lhe teria imposto o encargo de evoluir por meio da relação de causa e efeito de seus atos.

J.A.R. – H.C.

Múcio Teixeira
(1857-1926)

Evolução

E tornarei, sem recordações. É claro! A individualidade permanente que reencarna, e a personalidade transitória de cada vida, são diferentes. O que chamamos memória, não é função da alma, mas do cérebro físico. A novo cérebro, de um organismo novo também, uma lúcida memória, que nada recorda, é o que lhe corresponde; é a consequência lógica. Bálsamo santo é esta física amnésia!...
(M. Roso de Luna – A pré-história de meus viveres).

I

Morri no mineral, para nascer na planta,
Fui pedra e fui semente:
Brilhei no diamante e no cristal luzente,
E fez em mim seu ninho o pássaro, que canta.

II

Na planta adormeci, e despertei um dia
No animal, que move os músculos e anda;
Percorri apressado uma senda sombria,
Vendo indistintamente uma luz na outra banda.

III

Do animal passei para as formas do Homem,
E sendo Homem estou muito perto do Anjo;
Só assim chegarei aos círculos que abranjo
Com a Razão, que ainda as Dúvidas consomem.

IV

Poderei amanhã flutuar, batendo as azas,
Pela vasta amplidão constelada de céus:
Faísca, que desceu às cinzas e às brasas,
Ascenderei mais tarde à Eterna Luz – que é Deus!

Rio, 1908.
(Livro Primeiro: Contemplação e Crença)

Queda Livre
(Blu Smith: artista canadense)

Referência:

TEIXEIRA, Múcio. Evolução. In: __________. Terra incógnita: poema. São Paulo, SP: Casa Duprat Editora, 1916. p. 151-152.

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