Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Octavio Paz - Palavra

Nas palavras escondem-se todos os segredos da poesia. Em razão disso o poeta investiga o poder e as limitações da linguagem – a imprecisão e a ambivalência das palavras –, veículo por meio do qual se busca exprimir a realidade dicotômica em que se encerra a experiência humana: ventura e dor, morte e vida.

A palavra que se esvai no linguajar do quotidiano também tem o dom de atingir os páramos do sagrado. E na identidade poeta-poema, a linguagem se redescobre e se reinventa, permitindo-nos apreciar as fronteiras da imaginação criadora face à tangibilidade do mundo.

J.A.R. – H.C.

Octavio Paz
(1914-1998)

Palabra

Palabra, voz exacta
y sin embargo equívoca;
oscura y luminosa;
herida y fuente: espejo;
espejo y resplandor;
resplandor y puñal,
vivo puñal amado,
ya no puñal, sino mano suave: fruto.

Llama que me provoca;
cruel pupila quieta
en la cima del vértigo;
invisible luz fría
cavando en mis abismos,
llenándome de nada, de palabras,
cristales fugitivos
que a su prisa someten mi destino.

Palabra ya sin mí, pero de mí,
como el hueso postrero,
anónimo y esbelto, de mi cuerpo;
sabrosa sal, diamante congelado
de mi lágrima oscura.

Palabra, una palabra, abandonada,
riente y pura, libre,
como la nube, el agua,
como el aire y la luz,
como el ojo vagando por la tierra,
como yo, si me olvido.

Palabra, una palabra,
la última y primera,
la que callamos siempre,
la que siempre decimos,
sacramento y ceniza.

Palabra, tu palabra, la indecible,
hermosura furiosa,
espada azul, eléctrica,
que me toca en el pecho y me aniquila.

En: “Asueto” (1939-1944)

A Faixa da Desmesura
(Yves Tanguy: pintor francês)

Palavra

Palavra, voz exata
e no entanto equívoca;
sombria e luminosa;
ferida e fonte: espelho;
espelho e resplendor;
resplendor e punhal,
vivo punhal amado,
já não punhal, mas mão suave: fruto.

Chama que me provoca;
cruel pupila quieta
no ápice da vertigem;
invisível luz fria
cavando em meus abismos,
enchendo-me de nada, de palavras,
cristais fugitivos
que submetem o meu destino à sua pressa.

Palavra já sem mim, porém de mim,
como o osso derradeiro,
anônimo e esbelto, de meu corpo;
saboroso sal, diamante congelado
de minha lágrima escura.

Palavra, uma palavra, abandonada,
risonha e pura, livre,
como a nuvem, a água,
como o ar e a luz,
como o olho a vagar pela terra,
como eu, se me esqueço.

Palavra, uma palavra,
a última e primeira,
a que calamos sempre,
a que sempre dizemos,
sacramento e cinza.

Palavra, tua palavra, a indizível,
formosura furiosa,
espada azul, elétrica,
que me toca no peito e me aniquila.

Em: “Folga” (1939-1944)

Referência:

PAZ, Octavio. Palabra. In: FORGUES, Roland. Octavio Paz: el espejo roto. Murcia, ES: Universidad de Murcia, Secretariado de Publicaciones, 1992. p. 34-35.

Nenhum comentário:

Postar um comentário