Nas palavras escondem-se todos os segredos da poesia. Em razão disso o
poeta investiga o poder e as limitações da linguagem – a imprecisão e a ambivalência
das palavras –, veículo por meio do qual se busca exprimir a realidade dicotômica
em que se encerra a experiência humana: ventura e dor, morte e vida.
A palavra que se esvai no linguajar do quotidiano também tem o dom de
atingir os páramos do sagrado. E na identidade poeta-poema, a linguagem se
redescobre e se reinventa, permitindo-nos apreciar as fronteiras da imaginação
criadora face à tangibilidade do mundo.
J.A.R. – H.C.
Octavio Paz
(1914-1998)
Palabra
Palabra, voz exacta
y sin embargo
equívoca;
oscura y luminosa;
herida y fuente:
espejo;
espejo y resplandor;
resplandor y puñal,
vivo puñal amado,
ya no puñal, sino
mano suave: fruto.
Llama que me provoca;
cruel pupila quieta
en la cima del
vértigo;
invisible luz fría
cavando en mis
abismos,
llenándome de nada,
de palabras,
cristales fugitivos
que a su prisa someten
mi destino.
Palabra ya sin mí,
pero de mí,
como el hueso
postrero,
anónimo y esbelto, de
mi cuerpo;
sabrosa sal, diamante
congelado
de mi lágrima oscura.
Palabra, una palabra,
abandonada,
riente y pura, libre,
como la nube, el
agua,
como el aire y la
luz,
como el ojo vagando
por la tierra,
como yo, si me
olvido.
Palabra, una palabra,
la última y primera,
la que callamos
siempre,
la que siempre
decimos,
sacramento y ceniza.
Palabra, tu palabra,
la indecible,
hermosura furiosa,
espada azul, eléctrica,
que me toca en el
pecho y me aniquila.
En: “Asueto” (1939-1944)
A Faixa da Desmesura
(Yves Tanguy: pintor
francês)
Palavra
Palavra, voz exata
e no entanto equívoca;
sombria e luminosa;
ferida e fonte:
espelho;
espelho e resplendor;
resplendor e punhal,
vivo punhal amado,
já não punhal, mas
mão suave: fruto.
Chama que me provoca;
cruel pupila quieta
no ápice da vertigem;
invisível luz fria
cavando em meus
abismos,
enchendo-me de nada,
de palavras,
cristais fugitivos
que submetem o meu
destino à sua pressa.
Palavra já sem mim,
porém de mim,
como o osso
derradeiro,
anônimo e esbelto, de
meu corpo;
saboroso sal,
diamante congelado
de minha lágrima
escura.
Palavra, uma palavra,
abandonada,
risonha e pura,
livre,
como a nuvem, a água,
como o ar e a luz,
como o olho a vagar
pela terra,
como eu, se me
esqueço.
Palavra, uma palavra,
a última e primeira,
a que calamos sempre,
a que sempre dizemos,
sacramento e cinza.
Palavra, tua palavra,
a indizível,
formosura furiosa,
espada azul,
elétrica,
que me toca no peito
e me aniquila.
Em: “Folga” (1939-1944)
Referência:
PAZ, Octavio. Palabra. In: FORGUES,
Roland. Octavio Paz: el espejo roto.
Murcia, ES: Universidad de Murcia, Secretariado de Publicaciones, 1992. p.
34-35.
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