Natal é todo o tempo, a qualquer época do ano, em que se faça renovar a
vida, o espírito em especial, num ciclo infinito de criação. Natal também
ocorre mesmo na morte, segundo o poeta, porque por igual se nasce, neste caso
para experiências em outro plano de existência.
Natal, além disso, é um tempo de silêncio durante o qual a vida gesta os
seus frutos, numa temporada de interioridade em que assimilamos a mecânica ponderosa do
mundo, território primaz onde o que concebemos reflete-se em
seus espelhos.
J.A.R. – H.C.
Antônio Rangel Bandeira
(1917-1988)
Natal
Vida que desperta na
carne,
Natal, como te
repetes!
Em todas as horas
De janeiro a dezembro
No berço que a vida
recebe.
Testemunho da vida
Que não cessa nunca
Em sangue e pranto
Da natureza. Vida
Que nasce com vida,
Morte que sempre se
anuncia,
Morte, às vezes, que
nasce.
Natal em outubro, em
maio, em abril,
Natal em dezembro, com
Cristo nascendo,
Natal dos mortos
porque nasceram,
Natal dos vivos que
morrerão.
Natal te chamo filha.
Grito a palavra
– NATAL! Um grande
silêncio
Paralisa todas as
fábricas.
A fábrica da vida dá
seu fruto.
Soprando Bolhas
(Giuseppe Magni:
pintor italiano)
Referência:
BANDEIRA, Antônio Rangel. Natal. In:
__________. O retrato fantasma:
composições líricas & jogo partido. São Paulo, SP: Clube de Poesia de São
Paulo, 1953. p. 30. (Coleção ‘Centenário’)
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