Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Richard Wilbur - Fim de Ano

Um poema que nos leva a refletir sobre o que deixamos de fazer, quando as circunstâncias ou os fatos da vida nos atingem de modo irreversível – momentos nos quais presenciamos os “extremos repentinos do tempo” –, e já não temos chances de promover as necessárias mudanças.

Folhas que, no inverno, caem em bancos d’água e ficam presas ao gelo até que submerjam; mamutes cujos despojos se mantiveram em terras enregeladas; habitantes desprevenidos de Pompeia, mortos repentinamente pelas larvas expelidas pelo Vesúvio – tais ocorrências expressam metáforas capazes de nos despertar para os ajustes a serem promovidos em nossas lidas, antes que o sopro imprevisível da morte a tudo recubra.

J.A.R. – H.C.

Richard Wilbur
(n. 1921)

Year’s End

Now winter downs the dying of the year,
And night is all a settlement of snow;
From the soft street the rooms of houses show
A gathered light, a shapen atmosphere,
Like frozen-over lakes whose ice is thin
And still allows some stirring down within.

I’ve known the wind by water banks to shake
The late leaves down, which frozen where they fell
And held in ice as dancers in a spell
Fluttered all winter long into a lake;
Graved on the dark in gestures of descent,
They seemed their own most perfect monument.

There was perfection in the death of ferns
Which laid their fragile cheeks against the stone
A million years. Great mammoths overthrown
Composedly have made their long sojourns,
Like palaces of patience, in the gray
And changeless lands of ice. And at Pompeii

The little dog lay curled and did not rise
But slept the deeper as the ashes rose
And found the people incomplete, and froze
The random hands, the loose unready eyes
Of men expecting yet another sun
To do the shapely thing they had not done.

These sudden ends of time must give us pause.
We fray into the future, rarely wrought
Save in the tapestries of afterthought.
More time, more time. Barrages of applause
Come muffled from a buried radio.
The New-year bells are wrangling with the snow.

Um Lago Congelado entre as Montanhas
(Edward Cucuel: pintor norte-americano)

Fim de Ano

Agora o inverno consuma o findar do ano
E a noite é todo um assentamento de neve;
À rua calma, os aposentos das casas mostram
Uma recolhida luz em atmosfera plasmada,
Como lagos recobertos por um gelo delgado
Ainda a permitir um parco fluxo por dentro.

Reconheci o vento pelo balouçar dos diques
Perante as últimas folhas, tombadas e regeladas,
Que seguras ao gelo, como extáticos dançarinos,
Flutuaram por todo o inverno sobre um lago;
Lavradas na escuridão em gestual de descenso,
Pareciam o seu próprio e perfeito monumento.

Havia perfeição no emurchecer das samambaias,
Cujos rizomas acomodaram-se contra o calhau
A milhão de anos. Grandes mamutes tombados
Paulatinamente fizeram suas estadias demoradas,
Comparáveis a paços de paciência, nos cinzentos
E inalteráveis domínios do gelo. E em Pompeia

O cãozinho deitou-se enrolado e não se ergueu,
Mas dormiu sono profundo ao expelir das larvas
Que deu com as pessoas incompletas, enrijecendo
Suas mãos ao acaso, os lassos e imprudentes olhos
Dos homens que esperavam ainda por outro sol
Para fazer bem a contento a coisa ainda não feita.

Hão de nos dar trégua tais fins súbitos do tempo.
Nós desafiamos o futuro, raramente preparados,
A não ser nas alfombras por trás do pensamento.
Mais tempo, mais tempo. As torrentes de aplauso
Chegam abafadas a partir de um rádio soterrado.
Os sinos do Ano Novo debatem-se com a neve.

Referência:

WILBUR, Richard. Year’s end. In: POULIN JR., A. (Ed.). Contemporary american poetry. 6th. Ed. Boston,MA: Houghton Mifflin Company, 1996. p. 605-606.


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