Um poema que nos leva a refletir sobre o que
deixamos de fazer, quando as circunstâncias ou os fatos da vida nos atingem de
modo irreversível – momentos nos quais presenciamos os “extremos repentinos do
tempo” –, e já não temos chances de promover as necessárias mudanças.
Folhas que, no inverno, caem em diques e ficam presas
ao gelo até que submerjam; mamutes cujos despojos se mantiveram em terras
enregeladas; os habitantes desprevenidos de Pompeia, mortos repentinamente
pelas larvas expelidas pelo Vesúvio – tudo isso expressam metáforas capazes de
nos despertar para os ajustes a serem promovidos em nossas lidas, antes que o
sopro imprevisível da morte a tudo recubra.
J.A.R. – H.C.
Richard Wilbur
(n. 1921)
Year’s End
Now winter downs the
dying of the year,
And night is all a
settlement of snow;
From the soft street
the rooms of houses show
A gathered light, a
shapen atmosphere,
Like frozen-over
lakes whose ice is thin
And still allows some
stirring down within.
I’ve known the wind
by water banks to shake
The late leaves down,
which frozen where they fell
And held in ice as
dancers in a spell
Fluttered all winter
long into a lake;
Graved on the dark in
gestures of descent,
They seemed their own
most perfect monument.
There was perfection
in the death of ferns
Which laid their
fragile cheeks against the stone
A million years.
Great mammoths overthrown
Composedly have made
their long sojourns,
Like palaces of
patience, in the gray
And changeless lands
of ice. And at Pompeii
The little dog lay
curled and did not rise
But slept the deeper
as the ashes rose
And found the people
incomplete, and froze
The random hands, the
loose unready eyes
Of men expecting yet
another sun
To do the shapely
thing they had not done.
These sudden ends of
time must give us pause.
We fray into the
future, rarely wrought
Save in the tapestries
of afterthought.
More time, more time.
Barrages of applause
Come muffled from a
buried radio.
The New-year bells
are wrangling with the snow.
Um Lago Congelado entre as Montanhas
(Edward Cucuel:
pintor norte-americano)
Fim de Ano
Agora o inverno consome
o findar do ano
E a noite é todo um
assentamento de neve;
À rua calma, os
aposentos das casas mostram
Uma recolhida luz em
atmosfera plasmada,
Como lagos recobertos
por um gelo delgado
Ainda a permitir um
parco fluxo por dentro.
Reconheci o vento pelo
balouçar dos diques
Perante as últimas
folhas, tombadas e regeladas,
Que seguras ao gelo,
como extáticos dançarinos,
Flutuaram por todo o
inverno sobre um lago;
Lavradas na escuridão
em gestual de descenso,
Pareciam o seu próprio
e perfeito monumento.
Havia perfeição no emurchecer
das samambaias,
Cujos rizomas
acomodaram-se contra o calhau
A milhão de anos.
Grandes mamutes tombados
Paulatinamente
fizeram suas estadias demoradas,
Comparáveis a paços
de paciência, nos cinzentos
E inalteráveis
domínios do gelo. E em Pompeia
O cãozinho deitou-se
enrolado e não se ergueu,
Mas dormiu sono
profundo ao expelir das larvas
Que deu com as
pessoas incompletas, enrijecendo
Suas mãos ao acaso,
os lassos e imprudentes olhos
Dos homens que
esperavam ainda por outro sol
Para fazer bem a
contento a coisa ainda não feita.
Hão de nos dar trégua
tais fins súbitos do tempo.
Nós desafiamos o
futuro, raramente preparados,
A não ser nas alfombras
por trás do pensamento,
Mais tempo, mais
tempo. As torrentes de aplauso
Chegam abafadas a
partir de um rádio soterrado.
Os sinos do Ano Novo debatem-se
com a neve.
Referência:
WILBUR, Richard.
Year’s end. In: POULIN JR., A. (Ed.). Contemporary
american poetry. 6th Ed. Boston,MA: Houghton Mifflin Company, 1996. p.
605-606.
Agora o inverno consuma o findar do ano - Agora que o inverno CONSOME o findar do ano
ResponderExcluirPrezado(a) leitor(a): muitíssimo grato por ter me notificado do problema na forma verbal do verso, falha já prontamente retificada na postagem. Um abraço. João A. Rodrigues
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