À primeira leitura que fiz deste poema, imaginei tratar-se de um
paralelo que o autor tecera entre o cenário da Natividade e o fato de a capital
do Estado do Rio Grande do Norte chamar-se exatamente Natal – quando então caberiam
alguns enunciados saídos dentre os seus versos.
Contudo, há alguns enunciados que não cabem em tal interpretação – a
exemplo de “onde a vida não tem nome” ou “além da terra do mundo” –, e então
passei a conjecturar que o poeta refere-se mesmo a um domínio transcendental, onde
haveríamos de existir em outra “paisagem” que, do mesmo modo, associe-se a um nascimento
arquetípico.
J.A.R. – H.C.
Gilberto Mendonça Teles
(n. 1931)
Bico de pena, por
Luís Jardim, em 1972
Natal
Também sei de
paisagem
onde há carneiros de
lã
e árvores cheias de
folhas
e muitas estrelas
líquidas
e onde a vida não tem
nome
nem tem neve, nem
crepúsculo.
Também sei de uma
paisagem
(além da terra do
mundo)
que se abre como uma
rosa
– Ali nasceremos
todos
noutro cartão de
natal.
Em: “Planície” (1958)
Natividade - A Sagrada Família
(Heidi Malott:
artista norte-americana)
Referência:
TELES, Gilberto Mendonça. Natal. In:
__________. Hora aberta: poemas
reunidos. Organização de Eliane Vasconcelos. 4. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
2003. p. 770-771.
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