O mais importante do Natal não é o que se passa nas externalidades – no
burburinho do consumo desenfreado, tampouco na decoração esfuziante dos lugares
públicos e privados –, mas no recôndito do espírito, onde se desfruta do “cardápio
da ceia imaterial”.
Essa a transformação que leva ao “homem novo”, o autêntico “sal da terra”,
plenamente integrado à comunidade dos que se dispõem a modificar o corpo social
a partir de princípios éticos: “Vamos precisar de todo mundo / Um mais um é
sempre mais que dois / Pra melhor juntar as nossas forças / É só repartir
melhor o pão / Recriar o paraíso agora / Para merecer quem vem depois.”
O Sal da Terra
Interpretação: Simone
(Letra: Beto Guedes e
Ronaldo Bastos)
J.A.R. – H.C.
Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)
Amanhecer
Amanhecer: o mais
antigo
sinal de vida sobre a
Terra.
Amanhecer: ainda o
mais novo
sinal de vida sobre a
Terra.
Amanhecer e vida
humana
se entrelaçam na
mesma luz.
Mas andemos. Que tal
esses ornatos
de rua, a celebrar os
velhos ritos?
Eu acho que o Natal
ronda por fora
dos signos natalinos:
sua rara
contextura de sonho e
de esperança
num Deus garoto
abriga-se no esconso
particular da alma;
esse, o presépio
mais real, mais
tocante; esse, o cardápio
da ceia imaterial,
sem mesa posta
e sem badalação, sem
jingle e cesta.
Papai Noel Lendo a Lista
(Richard Macneil:
artista inglês)
Referência:
ANDRADE, Carlos Drummond. Amanhecer.
In: __________. Receita de ano-novo.
Concepção e seleção de Pedro Augusto Graña Drummond. Ilustrações de Andrés
Sandoval. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2015. p. 8-9.
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