Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Carlos Drummond de Andrade - Amanhecer ‎

O mais importante do Natal não é o que se passa nas externalidades – no burburinho do consumo desenfreado, tampouco na decoração esfuziante dos lugares públicos e privados –, mas no recôndito do espírito, onde se desfruta do “cardápio da ceia imaterial”.

Essa a transformação que leva ao “homem novo”, o autêntico “sal da terra”, plenamente integrado à comunidade dos que se dispõem a modificar o corpo social a partir de princípios éticos: “Vamos precisar de todo mundo / Um mais um é sempre mais que dois / Pra melhor juntar as nossas forças / É só repartir melhor o pão / Recriar o paraíso agora / Para merecer quem vem depois.”

 O Sal da Terra
Interpretação: Simone
(Letra: Beto Guedes e Ronaldo Bastos)

J.A.R. – H.C.

Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)

Amanhecer

Amanhecer: o mais antigo
sinal de vida sobre a Terra.
Amanhecer: ainda o mais novo
sinal de vida sobre a Terra.
Amanhecer e vida humana
se entrelaçam na mesma luz.
Mas andemos. Que tal esses ornatos
de rua, a celebrar os velhos ritos?
Eu acho que o Natal ronda por fora
dos signos natalinos: sua rara
contextura de sonho e de esperança
num Deus garoto abriga-se no esconso
particular da alma; esse, o presépio
mais real, mais tocante; esse, o cardápio
da ceia imaterial, sem mesa posta
e sem badalação, sem jingle e cesta.

Papai Noel Lendo a Lista
(Richard Macneil: artista inglês)

Referência:

ANDRADE, Carlos Drummond. Amanhecer. In: __________. Receita de ano-novo. Concepção e seleção de Pedro Augusto Graña Drummond. Ilustrações de Andrés Sandoval. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2015. p. 8-9.


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