Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Aloysio de Castro - Natal ‎

Sob a forma de um esquema, um roteiro, um programa, o poeta dirige-se ao leitor, com sugestões de como usufruir a mensagem cuja luz paira sobre o presépio, essa metáfora de iluminação para quem deseja ser divino em sua própria humanidade.

E como para tudo, em termos de poesia, há correlatos no significante ou no significado, basta recorrer à anamnese para evocar, no momento presente, passagens de semelhante beleza, como aquela de Whitman em “Salut au Monde”, cuja seção completa ainda hei de aqui postar: “Cada um de nós inevitável; cada um ilimitado – cada um com o seu direito neste mundo; cada um com acesso aos eternos sentidos do mundo; cada um aqui tão divino quanto tudo”. (Whitman, 1903, p. 118-119)

J.A.R. – H.C.

Aloysio de Castro
(1881-1959)

Natal

Chegado o tempo, o sol se abriu dentro da noite,
Luz da palavra nova, esperança e verdade.
E os cânticos do mar e os cânticos da terra
Disseram para os céus: Glória a Deus neste Cristo!
Lá no escuro da noite e no escuro da gruta
O Enviado do Senhor era o sol que brilhava.

Homem de hoje, que em vão, na vida, entre vertigens,
Queres fazer do mundo a só felicidade,
E por mar de naufrágio abres ao vento as velas,
Sem âncora nem leme, ao léu num mar de culpas,
O dúbio coração, incerto e desgarrado,
Muda-o, buscando além a paz, a força, a glória.
No teu suado lidar terás frescor e alívio.
A vida – prece e amor – vive-a contente e canta
Com a terra e o mar aos céus: Glória a Deus neste Cristo!

Por que buscas lá fora as púrpuras e as pérolas,
Quando em ti a riqueza e a beleza das coisas?
Alenta-te na fé, com o cálice da humildade.
Levanta ao alto o olhar, ergue as mãos fatigadas,
No campo azul do céu colhe a flor das alturas,
A incomutável flor das divinas essências,
E na alma inquieta instila os místicos eflúvios,
Perfume da piedade e do perdão que salva.
Homem de hoje, insofrido, em turbação constante,
Abraça teu irmão, foge à guerra e ao seu fogo.
Vive só para o bem, crê na voz das promessas,
Prantos e desespero, abafa-os num sorriso.
Despe o sudário doloroso da tristeza,
Corre à tua alegria! Homem, sê imortal,
Deixa que hoje esta luz te entre a jorros na casa,
Neste dia de sol, que nunca terá noite:
Luz de Deus, sol de Deus, no dia do Natal.

Adoração dos Pastores
(Caravaggio: pintor italiano)

Referências:

CASTRO, Aloysio. Natal. In: __________. Poesias completas. Rio de Janeiro: Casa Editora Vecchi Ltda., 1951. p. 170-171.

WHITMAN, Walt. Salut au monde!, part 11, in fine. In: __________. Leaves of grass. London, EN: G. P. Putnam’s Sons; Boston, MA: Small, Maynard & Company, 1903.

  

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