Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Manuel Bandeira - Natal ‎

O poeta pensa em sua dileta que junto a ele já não se encontra, e lembra-se, com saudade, do Natal e sua divina paz que teriam ficado com ela, hipoteticamente em Clavadel, sanatório suíço onde se internara para tratamento da tuberculose, quando ainda contava 27 anos.

Tudo são mágoas pela ausência. A par disso, ternura e afeto se reproduzem nas palavras de Bandeira para denotar carência de manifestações explicitamente carnais, eróticas, sensuais nos sentimentos que lhe afloram, senão a pureza de coração, enquanto casta e ilibada devoção.

J.A.R. – H.C.

Manuel Bandeira
(1886-1968)

Natal

Penso em Natal. No teu Natal. Para a bondade
A minhalma se volta. Uma grande saudade
Cresce em todo o meu ser magoado pela ausência.
Tudo é saudade... A voz dos sinos... A cadência
Do rio... E esta saudade é boa como um sonho!
E esta saudade é um sonho... Evoco-te... Componho
O ambiente cuja luz os teus cabelos douram.
Figuro os olhos teus, tristes como eles foram
No momento final de nossa despedida...
O teu busto pendeu como um lírio sem vida,
E tu sonhas, na paz divina do Natal...

Ó minha amiga, aceita a carícia filial
De minhalma a teus pés humilhada de rastos.
Seca o pranto feliz sobre os meus olhos castos...
Ampara a minha fronte, e que a minha ternura
Se torne insexual, mais do que humana, – pura
Como aquela fervente e benfazeja luz
Que Madalena viu nos olhos de Jesus...

(Clavadel, 1913)

Em: “A Cinza das Horas” (1917)

Flerte no Jardim
(Ludwig Stutz: pintor alemão)

Referência:

BANDEIRA, Manuel. Natal. In: __________. Poesias. 7. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1955. p. 73.


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