Um engraçado folguedo a fazer pouco caso do presente concedido ao menino
por um dos pastores presentes à cena da Natividade – exatamente uma flauta –,
quando, na visão do trocista, melhor seria lhe dar um transistor, pois o sonho
do infante seria dedicar-se à astronáutica e chegar à lua, precisando,
portanto, de uma nave espacial modernosa.
Mas o arremate deste vilancilo dá-lhe um contorno inesperado: Maria,
sabendo das intenções do petiz, pergunta-lhe acerca das razões pelas quais
pretende ir até a lua, sendo ele um astro do porte de apreciável grandeza, ou
melhor, o próprio sol!
J.A.R. – H.C.
José María Fernández Nieto
(1920-2013)
Villancico del Astronauta
– Pastor: ¿Para qué la flauta?
Mejor será el
transistor,
pues dice el Niño,
pastor,
que quiere ser
astronauta.
– Mírale sobre la
cuna,
soñando – ¡y es un chaval! –
que en una nave
espacial
está subiendo a la
luna.
– Pastor: ¿Para qué la flauta?
Mejor será el
transistor.
¿No ves al Niño,
pastor,
que quiere ser
astronauta?
María, siempre
oportuna
le dice junto a la
cuna
encendida de arrebol:
– “¿Para qué quieres la luna,
hijo, si tú eres el
Sol?”
A Virgem Adorando o
Menino Jesus Adormecido
(Sandro Botticelli:
pintor italiano)
Vilancico do Astronauta (*)
– Pastor: Para quê a
flauta?
Melhor será o
transistor,
pois o Menino diz,
pastor,
que quer ser
astronauta.
– Observa-o sobre o
berço,
sonhando – e é um
miúdo! –
que em uma nave
espacial
está subindo à lua.
– Pastor: Para quê a
flauta?
Melhor será o
transistor.
Não vês que o menino,
pastor,
quer ser astronauta?
Maria sempre oportuna
diz-lhe junto ao
berço
tisnada pelo arrebol:
para que queres a
lua,
filho, se tu és o
sol?
Nota:
(*) Vilancico, vilancete ou vilhancico
era uma forma poética comum no Renascimento Ibérico, sendo construído em medida
antiga e a partir de um mote de dois ou três versos; o tipo deste exemplar diz-se cantiga, expressão empregada quando o mote possui quatro ou mais versos.
Referência:
FERNÁNDEZ NIETO, José María. Villancico
del astronauta. In: SANTIAGO, Miguel de; LASO, Juan Polo (Introducción y
selección). Porque esta noche el amor:
poesía navideña del siglo XX. Madrid, ES: Biblioteca de Autores Cristianos,
1997. p. 252.
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