Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Stéphane Mallarmé - Poesia

As palavras circulam pelo soneto – distribuído por Mallarmé de forma distinta da convencional –, como o evolar do fumo, metáfora última do próprio ato de criação poética, com o que se obtém deliberada imprecisão às imagens criadas pela sucessão dos versos.

Detém o poeta, ante tal visão, a aptidão para transformar a linguagem do cotidiano – nossas corriqueiras palavras ao fluir dos dias – em linhas de elevada concentração poética, tornando-a sublime, plena de inusitadas conotações – e bem distante do sentido utilitário da prosa comum.

J.A.R. – H.C.

Stéphane Mallarmé
(1842-1898)

Poésie

Toute l’âme résumée
Quand lente nous l’expirons
Dans plusieurs ronds de fumée
Abolis en autres ronds

Atteste quelque cigare
Brûlant savamment pour peu
Que la cendre se sépare
De son clair baiser de feu

Ainsi le chœur des romances
A la lèvre vole-t-il
Exclus-en si tu commences
Le réel parce que vil

Le sens trop précis rature
Ta vague littérature.

Os Fumantes
(Honoré Daumier: pintor francês)

Poesia

Toda alma que a gente traça
lenta, no ar, em resumidos
vários anéis de fumaça
noutros anéis abolidos

atesta qualquer cigarro
por pouco que separado
fique da cinza e do sarro
seu claro beijo inflamado.

Assim o coro dos poemas
dos lábios voa sutil.
A realidade, não temas,
excluí-la, porque é vil.

A exatidão torna impura
tua vaga literatura.

Referências:

Em Francês

MALLARMÉ, Stéphane. Toute l’âme résumée... In: __________. Selected Poems. Bilingual Edition: French - English. Translated by C. F. MacIntyre. Berkeley and Los Angeles: University of California Press, 1957. p. 98.

Em Português

MALLARMÉ, Stéphane. Tradução de Luís Martins. Poesia. In: MILLIET, Sérgio (Seleção e Notas). Obras-primas da poesia universal. 3. ed. São Paulo, SP: Livraria Martins Editora, 1957. p. 118-119.

Nenhum comentário:

Postar um comentário