As palavras circulam pelo soneto – distribuído por Mallarmé de forma
distinta da convencional –, como o evolar do fumo, metáfora última do próprio ato
de criação poética, com o que se obtém deliberada imprecisão às imagens criadas
pela sucessão dos versos.
Detém o poeta, ante tal visão, a aptidão para transformar a linguagem do
cotidiano – nossas corriqueiras palavras ao fluir dos dias – em linhas de
elevada concentração poética, tornando-a sublime, plena de inusitadas
conotações – e bem distante do sentido utilitário da prosa comum.
J.A.R. – H.C.
Stéphane Mallarmé
(1842-1898)
Poésie
Toute l’âme résumée
Quand lente nous l’expirons
Dans plusieurs ronds
de fumée
Abolis en autres
ronds
Atteste quelque
cigare
Brûlant savamment
pour peu
Que la cendre se
sépare
De son clair baiser
de feu
Ainsi le chœur des
romances
A la lèvre vole-t-il
Exclus-en si tu
commences
Le réel parce que vil
Le sens trop précis
rature
Ta vague littérature.
Os Fumantes
(Honoré Daumier:
pintor francês)
Poesia
Toda alma que a gente
traça
lenta, no ar, em
resumidos
vários anéis de
fumaça
noutros anéis
abolidos
atesta qualquer
cigarro
por pouco que
separado
fique da cinza e do sarro
seu claro beijo
inflamado.
Assim o coro dos
poemas
dos lábios voa sutil.
A realidade, não
temas,
excluí-la, porque é
vil.
A exatidão torna
impura
tua vaga literatura.
Referências:
Em Francês
MALLARMÉ, Stéphane. Toute l’âme résumée...
In: __________. Selected Poems. Bilingual
Edition: French - English. Translated by C. F. MacIntyre. Berkeley and Los
Angeles: University of California Press, 1957. p. 98.
Em Português
MALLARMÉ, Stéphane. Tradução de Luís Martins. Poesia. In:
MILLIET, Sérgio (Seleção e Notas). Obras-primas
da poesia universal. 3. ed. São Paulo, SP: Livraria Martins Editora, 1957.
p. 118-119.
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