Quando falamos sobre a morte e da vida após a morte, discorremos, é
óbvio, sobre algo sem que tenhamos passado pela experiência, recorrendo, no
mais das vezes, às alusões bíblicas ou aos discursos presentes em livros
milenares de diferentes culturas.
E tais alusões ou discursos convergem para a intenção de nos convencer
de que a morte não é o fim. Mas veja, leitor, como este poema do poeta galês
soa moderno, embora persista sob a mesma perspectiva neotestamentária de vida
pós-morte: convicção ou autoengano?!
J.A.R. – H.C.
Dylan Thomas
(1914-1953)
And death shall have no dominion
And death shall have
no dominion.
Dead man naked they
shall be one
With the man in the
wind and the west moon;
When their bones are
picked clean and the clean bones gone,
They shall have stars
at elbow and foot;
Though they go mad
they shall be sane,
Though they sink
through the sea they shall rise again;
Though lovers be lost
love shall not;
And death shall have
no dominion.
And death shall have
no dominion.
Under the windings of
the sea
They lying long shall
not die windily;
Twisting on racks
when sinews give way,
Strapped to a wheel,
yet they shall not break;
Faith in their hands
shall snap in two,
And the unicorn evils
run them through;
Split all ends up
they shan’t crack;
And death shall have
no dominion.
And death shall have
no dominion.
No more may gulls cry
at their ears
Or waves break loud
on the seashores;
Where blew a flower
may a flower no more
Lift its head to the
blows of the rain;
Though they be mad
and dead as nails,
Heads of the
characters hammer through daisies;
Break in the sun till
the sun breaks down,
And death shall have
no dominion.
Dois Homens Contemplando a Lua
(Caspar David
Friedrich: pintor alemão)
E a morte não terá nenhum domínio
E a morte não terá
nenhum domínio.
Nus, os mortos irão
se confundir
Com o homem no vento
e a lua no poente;
Quando seus alvos
ossos descarnados se tornarem pó,
Haverão de brilhar as
estrelas em seus pés e cotovelos;
Ainda que
enlouqueçam, permanecerão lúcidos,
Ainda que submersos
pelo mar, haverão de ressurgir;
Ainda que os amantes
se percam, o amor persistirá;
E a morte não terá nenhum
domínio.
E a morte não terá
nenhum domínio.
Aqueles que há muito
repousam sob as dobras do mar
Não morrerão com a
chegada do vento;
Contorcendo-se em
martírios quando romperem os tendões,
Acorrentados à roda
da tortura, jamais se partirão;
Em suas mãos, a fé
irá fender-se em duas,
E as maldades do
unicórnio os atravessarão;
Espedaçados por
completo, eles não se quebrarão.
E a morte não terá
nenhum domínio.
E a morte não terá
nenhum domínio.
Não mais irão gritar
as gaivotas aos seus ouvidos
Nem se quebrar com
fragor as ondas nas areias;
Onde uma flor
desabrochou não poderá nenhuma outra
Erguer sua corola
para as rajadas da chuva;
Ainda que estejam
mortas e loucas, suas cabeças
Haverão de
enterrar-se como pregos através das margaridas,
Irrompendo no sol até
que o sol se ponha.
E a morte não terá
nenhum domínio.
Referências:
Em Inglês
THOMAS, Dylan. And death shall have no
dominion. In: __________. Collected
poems: 1934-1952. 1st ed.; 12th rep. London, EN: J. M. Dent & Sons Ltd.,
may 1959. p. 68.
Em Português
THOMAS, Dylan. E a morte não terá
nenhum domínio. Tradução de Ivan Junqueira. In: __________. Poemas reunidos: 1934-1953. Editados
pelos professores Walford Davies e Ralph Maud. Tradução e introdução de Ivan
Junqueira. Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 1991. p. 53-54.
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