Este poema inicia-se com um aparte: não sou capaz de confirmar se sua
autora, identificada no livro em referência como a espanhola Carmen Guasch é,
seguramente, a mesma pessoa a que pertence a foto ora postada, cujo nome tem
grafia um pouco diferente, embora também seja escritora, poetisa e espanhola.
Isto porque o organizador da antologia, Simón Latino, sobre o poema
abaixo, não vai além da breve suma que ora transcrevo:
“Sem nenhuma referência biográfica ou
bibliográfica recebemos desta autora o poema que segue: penetrante análise
psicológica de um conflito sexual que somente uma poetisa autêntica é capaz de
descrever. Sobriamente, sem palavras inúteis, uma mulher de carne nos mostra
suas costas, ternamente feridas. Assim são os milagres da poesia” (LATINO, 1959, p. 154).
Pouco importa: a beleza aí está, em palavras bem pronunciadas, para asseverar
que o relacionamento sexual de um casal está aquém das potencialidades de uma
união plena – explico-me melhor, uma junção de dois em um, de corpo – não há
como aliená-lo da realidade! –, mas, sobretudo, de alma.
J.A.R. – H.C.
Carme Guasch i Darné
(1928-1998)
Dos
Es inútil que yo
busque
el fondo de ti mismo,
y que tú te debatas
vanamente
por penetrar mis
ojos.
Jamás encontraremos
la perfecta unión,
el abrazo que nos
funda
en un solo sér.
No. Somos dos.
Seremos dos
eternamente
– dos cuerpos y dos
almas diferentes –
desesperadamente dos.
Llevamos dentro de
nosotros
un beso inmenso y
contenido,
el beso que no nos
hemos dado
y que nunca nos
daremos completamente,
porque sabemos que
somos impotentes
de hacernos uno solo
con nuestros ciegos
abrazos obcecados;
porque estamos
sintiéndonos lejos,
sintiéndonos dos,
tragicamente dos,
en medio de nuestro
humano luchar
por poseernos.
O mais fogoso tango
(Connie Chadwell:
pintora norte-americana)
Dois
É inútil que eu
busque
o fundo de ti mesmo,
e que tu te debatas
vãmente
por penetrar em meus
olhos.
Jamais encontraremos
a perfeita união,
o abraço que nos fundiria
em um só ser.
Não. Somos dois.
Seremos dois
eternamente
– dois corpos e duas
almas diferentes –
desesperadamente
dois.
Levamos dentro de nós
um beijo imenso e
contido,
o beijo que não nos
demos
e que nunca nos
daremos completamente,
porque sabemos que
somos impotentes
para nos tornarmos um
apenas
com nossos cegos
abraços obcecados;
porque estamos nos
sentindo distantes,
sentindo-nos dois,
tragicamente dois,
em meio à nossa
humana luta
por possuir-nos.
Referência:
GUASCH, Carmen. Dos. In: LATINO, Simón
(Dir.). Antología de la poesía sexual:
de Rubén Darío a hoy. VI. Celeste carne. 1. ed. Buenos Aires, AR: Editorial
Nuestra América, sept. 1959. p. 154. (“Cuadernillos de Poesía”; n. 40)
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