Ao lermos o poema desta postagem ficamos sabendo que o poeta vislumbra a
colina como um campo santo, e aqueles que estão a dormir, como os seus mortos
conhecidos, todos democraticamente a “descansar” no mesmo cemitério,
independentemente da vida que tenham levado enquanto vivos – quer venturosa quer
ordinária.
Assim, fraco(a)s e fortes, bem e mal-amado(a)s, pusilânimes, violentado(a)s,
odres, mortas ao parto, orgulhoso(a)s e todas as estirpes de seres humanos destinam-se,
agora ou mais além, a trilhar a mesma vereda rumo à inexorável colina...
J.A.R. – H.C.
Edgar Lee Masters
(1868-1950)
The Hill
Where are Elmer,
Herman, Bert, Tom and Charley,
The weak of will, the
strong of arm, the clown, the
boozer, the fighter?
All, all are sleeping
on the hill.
One passed in a
fever,
One was burned in a
mine,
One was killed in a
brawl,
One died in a jail,
One fell from a
bridge toiling for children and wife –
All, all are
sleeping, sleeping, sleeping on the hill.
Where are Ella, Kate,
Mag, Lizzie and Edith,
The tender heart, the
simple soul, the loud, the
proud, the happy one?
–
All, all are sleeping
on the hill.
One died in shameful
child-birth,
One of a thwarted
love,
One at the hands of a
brute in a brothel,
One of a broken
pride, in the search for heart’s desire,
One after life in
far-away London and Paris
Was brought to her
little space by Ella and Kate and Mag –
All, all are
sleeping, sleeping, sleeping on the hill.
Where are Uncle Isaac
and Aunt Emily,
And old Towny Kincaid
and Sevigne Houghton,
And Major Walker who
had talked
With venerable men of
the revolution? –
All, all are sleeping
on the hill.
They brought them
dead sons from the war,
And daughters whom
life had crushed,
And their children
fatherless, crying –
All, all are
sleeping, sleeping, sleeping on the hill.
Where is Old Fiddler
Jones
Who played with life
all his ninety years,
Braving the sleet
with bared breast,
Drinking, rioting,
thinking neither of wife nor kin,
Nor gold, nor love,
nor heaven?
Lo! he babbles of the
fish-frys of long ago,
Of the horse-races of
long ago at Clary’s Grove,
Of what Abe Lincoln
said
One time at
Springfield.
Colinas Verdejantes
(Darko Topalski:
artista sérvio)
A Colina
Onde estão Elmer,
Herman, Bert, Tom e Charley,
O fraco de vontade, o
forte de braço, o palhaço, o
beberrão, o lutador?
Estão todos dormindo,
todos, na colina.
Um passou por causa
de uma febre,
Outro ardeu dentro da
mina,
Outro foi morto em
uma briga,
Outro morreu na
cadeia,
Outro caiu de uma
ponte mourejando
pelos filhos e a
mulher...
Estão todos dormindo,
todos dormindo,
dormindo na colina.
Onde estão Ella,
Kate, Mag, Lizzie e Edith,
A meiga de coração, a
simples de alma, a ruidosa, a
orgulhosa, a feliz?
Estão todas dormindo,
todas, na colina.
Morreu uma de parto
vergonhoso,
Outra morreu de amor
contrariado,
Outra nas mãos de um
bruto num bordel,
Outra de orgulho
roto, ao perseguir o anseio
de seu coração,
Outra, após viver
distante em Londres e Paris,
Foi trazida a seu
cantinho por Ella e Kate e Mag...
Estão todas dormindo,
todas dormindo,
dormindo na colina.
Onde estão Tio Isaac
e Tia Emily,
E o velho Towny
Kincaid e Sevigne Houghton,
E o Major Walker, que
havia conversado
Com homens veneráveis
da revolução?
Estão todos dormindo,
todos, na colina.
Trouxeram-lhes os
filhos mortos em combate,
E as filhas esmagadas
pela vida,
E suas crianças
órfãs, a chorar...
Estão todos dormindo,
todos dormindo,
dormindo na colina.
Onde está o Velho
Jones Violinista,
Que brincara com a
vida noventa anos,
Enfrentando o granizo
com peito desnudo,
Bebendo, fazendo
arruaças, sem se importar
com a mulher e os
filhos,
Ou com o ouro, ou com
o amor, ou com o céu?
Ei-lo, a falar balbuciando
das peixadas de outro tempo,
Das corridas de
cavalos de outro tempo em Clary’s Grove,
Do que Abe Lincoln
disse
Em Springfield uma
vez.
Referência:
MASTERS, Edgar Lee. The hill / A
colina. Tradução de Paulo Vizioli. In: VIZIOLI, Paulo (Seleção e Tradução). Poetas
norte-americanos. Antologia bilíngue. Edição comemorativa do bicentenário da
independência dos Estados Unidos da América: 1776-1976. Rio de Janeiro, RJ: Lidador,
1974. Em inglês e em português: p. 51.
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