Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 14 de outubro de 2017

Edgar Lee Masters - A Colina

Ao lermos o poema desta postagem ficamos sabendo que o poeta vislumbra a colina como um campo santo, e aqueles que estão a dormir, como os seus mortos conhecidos, todos democraticamente a “descansar” no mesmo cemitério, independentemente da vida que tenham levado enquanto vivos – quer venturosa quer ordinária.

Assim, fraco(a)s e fortes, bem e mal-amado(a)s, pusilânimes, violentado(a)s, odres, mortas ao parto, orgulhoso(a)s e todas as estirpes de seres humanos destinam-se, agora ou mais além, a trilhar a mesma vereda rumo à inexorável colina...

J.A.R. – H.C.

Edgar Lee Masters
(1868-1950)

The Hill

Where are Elmer, Herman, Bert, Tom and Charley,
The weak of will, the strong of arm, the clown, the
boozer, the fighter?
All, all are sleeping on the hill.

One passed in a fever,
One was burned in a mine,
One was killed in a brawl,
One died in a jail,
One fell from a bridge toiling for children and wife –
All, all are sleeping, sleeping, sleeping on the hill.

Where are Ella, Kate, Mag, Lizzie and Edith,
The tender heart, the simple soul, the loud, the
proud, the happy one? –
All, all are sleeping on the hill.

One died in shameful child-birth,
One of a thwarted love,
One at the hands of a brute in a brothel,
One of a broken pride, in the search for heart’s desire,
One after life in far-away London and Paris
Was brought to her little space by Ella and Kate and Mag –
All, all are sleeping, sleeping, sleeping on the hill.

Where are Uncle Isaac and Aunt Emily,
And old Towny Kincaid and Sevigne Houghton,
And Major Walker who had talked
With venerable men of the revolution? –
All, all are sleeping on the hill.

They brought them dead sons from the war,
And daughters whom life had crushed,
And their children fatherless, crying –
All, all are sleeping, sleeping, sleeping on the hill.

Where is Old Fiddler Jones
Who played with life all his ninety years,
Braving the sleet with bared breast,
Drinking, rioting, thinking neither of wife nor kin,
Nor gold, nor love, nor heaven?
Lo! he babbles of the fish-frys of long ago,
Of the horse-races of long ago at Clary’s Grove,
Of what Abe Lincoln said
One time at Springfield.

Colinas Verdejantes
(Darko Topalski: artista sérvio)

A Colina

Onde estão Elmer, Herman, Bert, Tom e Charley,
O fraco de vontade, o forte de braço, o palhaço, o
beberrão, o lutador?
Estão todos dormindo, todos, na colina.

Um passou por causa de uma febre,
Outro ardeu dentro da mina,
Outro foi morto em uma briga,
Outro morreu na cadeia,
Outro caiu de uma ponte mourejando
pelos filhos e a mulher...
Estão todos dormindo, todos dormindo,
dormindo na colina.

Onde estão Ella, Kate, Mag, Lizzie e Edith,
A meiga de coração, a simples de alma, a ruidosa, a
orgulhosa, a feliz?
Estão todas dormindo, todas, na colina.

Morreu uma de parto vergonhoso,
Outra morreu de amor contrariado,
Outra nas mãos de um bruto num bordel,
Outra de orgulho roto, ao perseguir o anseio
de seu coração,
Outra, após viver distante em Londres e Paris,
Foi trazida a seu cantinho por Ella e Kate e Mag...
Estão todas dormindo, todas dormindo,
dormindo na colina.

Onde estão Tio Isaac e Tia Emily,
E o velho Towny Kincaid e Sevigne Houghton,
E o Major Walker, que havia conversado
Com homens veneráveis da revolução?
Estão todos dormindo, todos, na colina.

Trouxeram-lhes os filhos mortos em combate,
E as filhas esmagadas pela vida,
E suas crianças órfãs, a chorar...
Estão todos dormindo, todos dormindo,
dormindo na colina.

Onde está o Velho Jones Violinista,
Que brincara com a vida noventa anos,
Enfrentando o granizo com peito desnudo,
Bebendo, fazendo arruaças, sem se importar
com a mulher e os filhos,
Ou com o ouro, ou com o amor, ou com o céu?
Ei-lo, a falar balbuciando das peixadas de outro tempo,
Das corridas de cavalos de outro tempo em Clary’s Grove,
Do que Abe Lincoln disse
Em Springfield uma vez.

Referência:

MASTERS, Edgar Lee. The hill / A colina. Tradução de Paulo Vizioli. In: VIZIOLI, Paulo (Seleção e Tradução). Poetas norte-americanos. Antologia bilíngue. Edição comemorativa do bicentenário da independência dos Estados Unidos da América: 1776-1976. Rio de Janeiro, RJ: Lidador, 1974. Em inglês e em português: p. 51.

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