Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Miguel Hernández - Casida do Sedento‎

O sujeito poético manifesta o impedimento de saciar o desejo de união com a sua amada, adjetivando-se como um ser sedento em pleno deserto, à busca de um oásis inatingível  – o corpo de sua Dulcineia –. um corpo dela somente, mas nunca de ambos.

Terá o poeta experimentado um amor platônico ou tudo não terão sido meros interditos provocados pelas circunstâncias? Seja como for, morre-se aos poucos a cada experiência de um amor que não logrou a sua plena expressão!

J.A.R. – H.C.

Miguel Hernández
(1910-1942)

Casida del Sediento (*)

Arena del desierto
soy: desierto de sed.
Oasis es tu boca
donde no he de beber.

Boca: oasis abierto
a todas las arenas del desierto.

Húmedo punto en medio
de un mundo abrasador,
el de tu cuerpo, el tuyo,
que nunca es de los dos.

Cuerpo: pozo cerrado
a quien la sed y el sol han calcinado.

Ocaña, mayo, 1941
“Últimos poemas” (1939-1941)

Oásis do Deserto
(Cody Hooper: artista norte-americano)

Casida do Sedento

Areia do deserto
sou: deserto de sede.
Oásis é tua boca
onde não hei de beber.

Boca: oásis aberto
a todas as areias do deserto.

Úmido ponto no meio
de um mundo abrasador,
o do teu corpo, teu apenas,
nunca de nós dois.

Corpo: poço fechado
a quem a sede e o sol têm calcinado.

Ocaña, maio, 1941
“Últimos poemas” (1939-1941)

Nota:

(*) Casida – Trata-se de uma forma poética originária da Arábia pré-islâmica, com um número indeterminado de versos e variados temas.

Referência:

HERNÁNDEZ, Miguel. Casida del sediento. In: RUBIO, Fanny; FALCÓ, José Luis (Sellección, estudio y notas). Poesia española contemporánea: historia y antología (1939-1980). 1. ed. Madrid (ES): Editorial Alhambra, 1981. p. 108.

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