O sujeito poético manifesta o impedimento de saciar o desejo de união
com a sua amada, adjetivando-se como um ser sedento em pleno deserto, à busca
de um oásis inatingível – o corpo de sua Dulcineia
–. um corpo dela somente, mas nunca de ambos.
Terá o poeta experimentado um amor platônico ou tudo não terão sido meros interditos provocados pelas circunstâncias? Seja como for, morre-se aos
poucos a cada experiência de um amor que não logrou a sua plena expressão!
J.A.R. – H.C.
Miguel Hernández
(1910-1942)
Casida del Sediento (*)
Arena del desierto
soy: desierto de sed.
Oasis es tu boca
donde no he de beber.
Boca: oasis abierto
a todas las arenas
del desierto.
Húmedo punto en medio
de un mundo
abrasador,
el de tu cuerpo, el
tuyo,
que nunca es de los
dos.
Cuerpo: pozo cerrado
a quien la sed y el
sol han calcinado.
Ocaña, mayo, 1941
“Últimos poemas” (1939-1941)
Oásis do Deserto
(Cody Hooper: artista
norte-americano)
Casida do Sedento
Areia do deserto
sou: deserto de sede.
Oásis é tua boca
onde não hei de
beber.
Boca: oásis aberto
a todas as areias do
deserto.
Úmido ponto no meio
de um mundo
abrasador,
o do teu corpo, teu
apenas,
nunca de nós dois.
Corpo: poço fechado
a quem a sede e o sol
têm calcinado.
Ocaña, maio, 1941
“Últimos poemas”
(1939-1941)
Nota:
(*) Casida – Trata-se de uma forma poética
originária da Arábia pré-islâmica, com um número indeterminado de versos e variados temas.
Referência:
HERNÁNDEZ, Miguel. Casida del sediento.
In: RUBIO, Fanny; FALCÓ, José Luis (Sellección, estudio y notas). Poesia española contemporánea: historia
y antología (1939-1980). 1. ed. Madrid (ES): Editorial Alhambra, 1981. p. 108.
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