Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Luis Buñuel - Pássaro de Angústia

De Buñuel tenho algumas recordações em função das sessões promovidas pela Associação Paraense de Críticos Cinematográficos (APCC), no antigo cineminha existente na Base Naval de Belém – o Guajará –, lá pelos fins dos anos 70, começo dos 80, quando entrei em contato com muitas de suas películas, a exemplo de “Um Cão Andaluz” (“Un Chien Andalou”, 1928), “Os Esquecidos” (“Los Olvidados”, 1950), “Nazarin” (1958), “Viridiana” (1961), “O Anjo Exterminador” (“El Ángel Exterminador”, 1962), dentre outras.

O poema desta postagem, de sua autoria, muito reflete as tendências surrealistas que hauriu da companhia do pintor Salvador Dalí, aliás, com quem desenvolveu o roteiro para o mencionado “Um Cão Andaluz”, um filme curto, a se estender por não mais de meia hora, com o qual você, internauta, pode se deliciar acessando o seguinte endereço.

J.A.R. – H.C.

Luis Buñuel
(1900-1983)

Pájaro de Angustia

Un plesiosauro dormía entre mis ojos
mientras la música ardía en una lámpara
y el paisaje sentía una pasión de Tristán e Iseo.

Tu cuerpo se ajustaba al mío
como una mano se ajusta a lo que quiere ocultar;
despellejada
me mostraba tus músculos de madera
y los ramilletes de lujuria,
que podían hacerse con tus venas.

Se oía un galope de bisontes en celo
entre nuestros pelos que temblaban como las
hojas de un jardín;
todos los diálogos de amor se parecen,
todos tienen acordes delirantes,
pero el pecho aplastado
por una música de recuerdos seculares;
luego viene la oración y el viento,
el viento que teje sonidos en punta
de una dulzura de sangre,
de aullidos hechos carne.

¿Qué anhelos, qué deseos de mares rotos
convertidos en níquel
o en un canto ecuménico de lo que pudo ser tragedia,
nacerán, los pájaros de nuestras bocas juntas,
mientras la muerte nos entra por los pies?

Tendida como un puente de besos de piedra dio la una.
Las dos volaron con las manos cruzadas sobre el pecho.
Las tres se oían más lejanas que la muerte.
Las cuatro ya temblaban de alba.
Las cinco trazaban con compás el círculo
transmisor del día.

A las seis se oyeron las cabrillas de los alpes
conducidas por los monjes al altar.

Amor Cúbico Não Geométrico
(Sulimov Alexandr: pintor russo)

Pássaro de Angústia

Um plesiossauro dormia entre meus olhos
enquanto a música ardia em uma lâmpada
e a paisagem sentia uma paixão de Tristão e Isolda.

Teu corpo se ajustava ao meu
como uma mão se ajusta ao que quer ocultar;
despelada,
mostrava-me teus músculos de madeira
e os ramalhetes de luxúria
que podiam ser feitos com tuas veias.

Ouvia-se um galope de bisões no céu
entre nossos cabelos que se agitavam como as
folhas de um jardim;
todos os diálogos de amor se parecem,
todos têm acordes delirantes,
fora o peito oprimido
por uma música de recordações seculares;
logo vêm a oração e o vento,
o vento que tece sons na ponta
de uma doçura de sangue,
de uivos feitos carne.

Que anelos, que desejos de mares fendidos
convertidos em níquel
ou em um canto ecumênico do que pôde ser tragédia,
nascerão, os pássaros de nossas bocas juntas,
enquanto a morte nos entra pelos pés?

Deu uma hora estendida como uma ponte de
beijos de pedra.
As duas voaram com as mãos cruzadas no peito.
As três se ouviam mais distantes que a morte.
As quatro já se agitavam com o romper do dia.
As cinco traçavam com compasso o círculo
transmissor do dia.

Às seis se ouviram as ovelhas dos Alpes
conduzidas pelos monges ao altar.

Referência:

BUÑUEL, Luis. Pájaro de angustia. In: __________. Luis Buñuel: obra literaria. Introducción y notas de Agustín Sánchez Vidal. Zaragoza, ES: Ediciones de Heraldo de Aragón, 1982. p. 142.

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