Um lídimo poema de tendência surrealista temos aqui: cheio de referentes
associados à sedução, as imagens transplantadas às palavras pelo poeta parecem
ter a premente necessidade de transmitir o espírito vivificador que paira nas
entrelinhas dos sonhos.
Mesmo os componentes tangíveis da realidade transmutam-se em outros tantos
estados da matéria, gerando um paradigma de formas concorrentes que aos comuns dos
mortais, como este internauta, espontaneamente se permite interpretar como uma experiência
prima-irmã da psicodelia.
J.A.R. – H.C.
André Breton
(1896-1966)
L’aigle sexuel exulte...
L’aigle sexuel exulte
il va dorer la terre encore une fois
Son aile descendante
Son aile ascendante
agite imperceptiblement las manches de la menthe
poivrée
Et tout l’adorable
deshabillé de l’eau
Les jours sont
comptés si clairement
Que le miroir a fait
place à une nuée de frondes
Je ne vois du ciel qu’une
étoile
II n’y a plus autour
de nous que le lait décrivant son ellipse vertigineuse
D’où la molle
intuition aux paupières d’agate œillée
Se soulève parfois
pour piquer la pointe de son ombrelle dans la boue de
la lumière életrique
Alors des étendues
jettent l’ancre se déploient au fond de mon œil fermé
Icebergs rayonnant
des coutumes de tous les mondes à venir
Nés d’une parcelle de
toi d’une parcelle inconnue et glacée qui s’envole
Ton existence le
bouquet géant qui s’échappe de mes bras
Est mal liée elle
creuse les murs déroule les escaliers des maisons
Elle s’effeuille dans
les vitrines de la rue
Aux nouvelles je pars
sans cesse aux nouvelles
Le journal est
aujourd’hui de verre et si les lettres n’arrivent plus
C’est parce que le train
a été mangé
La grande incision de
l’émeraude qui donna naissance au feuillage
Est cicatrisée pour
toujours les scieries de neige aveuglante
Et les carrières de
chair bourdonnent seules au premier rayon
Renversé dans ce
rayon
Je prends l’empreinte
de la mort et de la vie
À l’air liquide
En: “L’Air de l’Eau” (1934)
Converta-me em pedra
(Sabina Nore: artista
austríaca)
A águia sexual exulta...
A água sexual exulta
pois uma vez mais vai dourar a terra
Sua asa descendente
Sua asa ascendente
agita imperceptivelmente as hastes da hortelã-pimenta
E todo o adorável
desnudar-se da água
Os dias são contados
tão claramente
Que o espelho deu
lugar a um enxame de frondes
Não vejo do céu mais
que uma estrela
Ao nosso redor há
apenas o leite a descrever a sua elipse vertiginosa
De onde a branda
intuição nas pálpebras de ágata com olhos
Levanta-se às vezes
para cutucar a ponta de sua sombrinha na fuligem da
lâmpada elétrica
Então das regiões em
que lançada a âncora desdobra-se até o fundo dos
meus olhos fechados
Icebergs irradiam os
costumes de todos os mundos por vir
Nascidos de uma tua
parcela desconhecida e gelada que se descola
Tua existência é o
buquê gigante a escapar dos meus braços
Mal atada ela
traspassa os muros e estira as escadas dos prédios
Desfolhando-se nas
vitrines da rua
Sempre parto para
juntar-me às notícias
Hoje o jornal é de
vidro e se as cartas já não chegam
A grande incisão da
esmeralda que deu origem à folhagem
Está cicatrizada para
sempre e ao primeiro raio da manhã
As serrações da neve
ofuscante e as minas de carne zumbem sozinhas
Atônito com esse raio
Recolho a impressão
da morte e da vida
Ao ar líquido
Referência:
BRETON, André. L’aigle sexuel exulte...
In: DÉCAUDIN, Michel (Éd.). Anthologie
de la poésie française du XXe siècle. Préface de Claude Roy. Édition revue
et augmentée. Paris, FR: Gallimard, 2000. p. 310-311. (Collection ‘Poésie’)
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