Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

André Breton - A águia sexual exulta...‎

Um lídimo poema de tendência surrealista temos aqui: cheio de referentes associados à sedução, as imagens transplantadas às palavras pelo poeta parecem ter a premente necessidade de transmitir o espírito vivificador que paira nas entrelinhas dos sonhos.

Mesmo os componentes tangíveis da realidade transmutam-se em outros tantos estados da matéria, gerando um paradigma de formas concorrentes que aos comuns dos mortais, como este internauta, espontaneamente se permite interpretar como uma experiência prima-irmã da psicodelia.

J.A.R. – H.C.

André Breton
(1896-1966)

L’aigle sexuel exulte...

L’aigle sexuel exulte il va dorer la terre encore une fois
Son aile descendante
Son aile ascendante agite imperceptiblement las manches de la menthe
poivrée
Et tout l’adorable deshabillé de l’eau
Les jours sont comptés si clairement
Que le miroir a fait place à une nuée de frondes
Je ne vois du ciel qu’une étoile
II n’y a plus autour de nous que le lait décrivant son ellipse vertigineuse
D’où la molle intuition aux paupières d’agate œillée
Se soulève parfois pour piquer la pointe de son ombrelle dans la boue de
la lumière életrique
Alors des étendues jettent l’ancre se déploient au fond de mon œil fermé
Icebergs rayonnant des coutumes de tous les mondes à venir
Nés d’une parcelle de toi d’une parcelle inconnue et glacée qui s’envole
Ton existence le bouquet géant qui s’échappe de mes bras
Est mal liée elle creuse les murs déroule les escaliers des maisons
Elle s’effeuille dans les vitrines de la rue
Aux nouvelles je pars sans cesse aux nouvelles
Le journal est aujourd’hui de verre et si les lettres n’arrivent plus
C’est parce que le train a été mangé
La grande incision de l’émeraude qui donna naissance au feuillage
Est cicatrisée pour toujours les scieries de neige aveuglante
Et les carrières de chair bourdonnent seules au premier rayon
Renversé dans ce rayon
Je prends l’empreinte de la mort et de la vie
À l’air liquide

En: “L’Air de l’Eau” (1934)

Converta-me em pedra
(Sabina Nore: artista austríaca)

A águia sexual exulta...

A água sexual exulta pois uma vez mais vai dourar a terra
Sua asa descendente
Sua asa ascendente agita imperceptivelmente as hastes da hortelã-pimenta
E todo o adorável desnudar-se da água
Os dias são contados tão claramente
Que o espelho deu lugar a um enxame de frondes
Não vejo do céu mais que uma estrela
Ao nosso redor há apenas o leite a descrever a sua elipse vertiginosa
De onde a branda intuição nas pálpebras de ágata com olhos
Levanta-se às vezes para cutucar a ponta de sua sombrinha na fuligem da
lâmpada elétrica
Então das regiões em que lançada a âncora desdobra-se até o fundo dos
meus olhos fechados
Icebergs irradiam os costumes de todos os mundos por vir
Nascidos de uma tua parcela desconhecida e gelada que se descola
Tua existência é o buquê gigante a escapar dos meus braços
Mal atada ela traspassa os muros e estira as escadas dos prédios
Desfolhando-se nas vitrines da rua
Sempre parto para juntar-me às notícias
Hoje o jornal é de vidro e se as cartas já não chegam
Tal se deve a que o trem foi consumido
A grande incisão da esmeralda que deu origem à folhagem
Está cicatrizada para sempre e ao primeiro raio da manhã
As serrações da neve ofuscante e as minas de carne zumbem sozinhas
Atônito com esse raio
Recolho a impressão da morte e da vida
Ao ar líquido

Referência:

BRETON, André. L’aigle sexuel exulte... In: DÉCAUDIN, Michel (Éd.). Anthologie de la poésie française du XXe siècle. Préface de Claude Roy. Édition revue et augmentée. Paris, FR: Gallimard, 2000. p. 310-311. (Collection ‘Poésie’)

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