O poeta escreve sobre o seu ofício, ou melhor, sobre a forma como
procede para construir o poema, com os seus temas centrados em sentimentos, em
pensamentos, na natureza ou, mais genericamente, em ocorrências de que são
preenchidas nossas existências.
E apesar de muito concentrar-se em fazer a poesia – dir-se-ia, a
essência mesma do poema – perpassar as suas palavras, constata que a inspiração
não lhe foi suficiente para fazê-la romper os umbrais do próprio ser,
permanecendo ela como um pássaro esquivo no recôndito de sua mente.
J.A.R. – H.C.
Salvador Novo
(1904-1974)
La Poesía
Para escribir poemas,
para ser un poeta de
vida apasionada y romántica
cuyos libros están em
las manos de todos
y de quien hacen libros
y publican retratos los periódicos,
es necesario decir las
cosas que leo,
esas del corazón, de
la mujer y del paisaje,
del amor fracasado y
de la vida dolorosa,
en versos
perfectamente medidos,
sin asonancias em el mismo
verso,
con metáforas nuevas
y brillantes.
La música del verso
embriaga
y si uno sabe referir
rotundamente su inspiración
arrancará las
lágrimas del auditório,
le comunicará sus
emociones recônditas
y será coronado em certámenes
y concursos.
Yo puedo hacer versos
perfectos,
medirlos y evitar sus
asonancias,
poemas que conmuevam
a quien los lea
y que les hagan
exclamar: İQue niño tan inteligente!
Yo les diré entonces
que los he escrito
desde que tenia once años:
no he de decirles
nunca
que no he hecho sino
darles la clase que he aprendido
de todos los poetas.
Tendré una habilidad
de histrión
para hacerles creer
que me conmueve lo que a ellos.
Pero em mi lecho,
solo, dulcemente,
sin recuerdos, sin
voz,
sinto que la poesia
no ha salido de mi.
(Gunin Alexander:
pintor russo)
A Poesia
Para escrever poemas,
para ser um poeta de
vida apaixonada e romântica
cujas obras estejam
nas mãos de todos
e sobre quem livros
são escritos e retratos publicados
nos jornais,
é necessário falar
das coisas que leio,
questões que abordam o
coração, a mulher e a paisagem,
o amor fracassado e a
vida dolorosa,
em versos
perfeitamente medidos,
sem assonâncias no
mesmo verso,
com metáforas novas e
brilhantes.
A música do verso
embriaga
e se alguém souber expor
plenamente sua inspiração
arrancará lágrimas do
auditório,
lhe comunicará suas
emoções recônditas
e será coroado em
certames e concursos.
Sou capaz de fazer
versos perfeitos,
medi-los e evitar
suas assonâncias,
poemas que comovam
aos que os leiam
fazendo-lhes
exclamar: “Que garoto inteligente!”
Eu lhes direi então
que os tenho escrito
desde que tinha onze anos:
não lhes direi jamais
que não tenho feito
senão dar-lhes a classe que de
todos os poetas apropriei.
Terei habilidade de
histrião
para fazer-lhes crer
que me comove o mesmo
que a eles comove.
Porém em meu leito,
sozinho, docemente,
sem recordações, sem
voz,
sinto que a poesia
não saiu de mim.
Referência:
NOVO, Salvador. La poesía. In: FITTS, Dudley (Ed.). Antología de la poesía americana contemporánea / Anthology of contemporary latin-american
poetry. Bilingual Edition: Spanish / English. Norfolk, CT: New Directions,
1947. p. 98 e 100.
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