Num poema com muita improvisação e humor, o poeta concebe um franco diálogo
entre a linguagem e os sentimentos amorosos, permitindo ao leitor inúmeras
interpretações, mesmo à vista de sua nítida pretensão em mostrar que a
experiência poética pode ser deduzida de um ponto de vista lúdico, desafiando
as noções mais corriqueiras sobre o tema.
Kock nos instiga a questionar a subsistência da linguagem e o seu
potencial para engendrar novos significados, ampliando assim as alternativas e
inferências por ela colocadas a serviço da escrita poética: que haja permanência
do amor enquanto a linguagem mostrar constância!
J.A.R. – H.C.
Kenneth Koch
(1925-2002)
Permanently
One day the Nouns
were clustered in the street.
An Adjective walked
by, with her dark beauty.
The Nouns were
struck, moved, changed.
The next day a Verb
drove up, and created the Sentence.
Each Sentence says
one thing – for example, “Although it was a dark
rainy day when the
Adjective walked by, I shall remember the
pure and sweet
expression on her face until the day I perish
from the green,
effective earth.”
Or, “Will you please
close the window, Andrew?”
Or, for example,
“Thank you, the pink pot of flowers on the window
sill has changed
color recently to a light yellow, due to the heat
from the boiler
factory which exists nearby.”
In the springtime the
Sentences and the Nouns lay silently on the grass.
A lonely Conjunction
here and there would call, “And! But!”
But the Adjective did
not emerge.
As the Adjective is
lost in the Sentence,
So I am lost in your
eyes, ears, nose, and throat –
You have enchanted me
with a single kiss
Which can never be
undone
Until the destruction
of language.
(1962)
O Beijo
(Francesco Hayez:
pintor italiano)
Permanentemente
Um dia os
Substantivos estavam amontoados na rua.
Um Adjetivo passou
por lá, com sua negra beleza.
Os Substantivos
ficaram impressionados, comovidos, transformados.
No dia seguinte um
Verbo deu-lhes carona, criando a Oração.
Cada Oração afirma
uma coisa – por exemplo, “Embora fosse um dia
cinzento e chuvoso
quando o Adjetivo por lá passou, lembrarei da
expressão pura e doce
em sua face até o dia em que eu desapareça
desta Terra verde e fecunda.
Ou, “André, você
poderia fechar a janela, por favor?”
Ou, por exemplo,
“Obrigado, o róseo das flores no vaso sobre o peitoril
da janela alterou-se
recentemente para um amarelo claro, em razão
do calor emitido pela
caldeira de uma fábrica vizinha.”
Na primavera, as
Orações e os Substantivos estendem-se silenciosamente
sobre a grama.
Uma solitária
conjunção, aqui e ali, exclamaria. “E! Porém!”
Contudo o Adjetivo
não há de aparecer.
Tal como o Adjetivo
perdido na Oração,
Estou perdido em teus
olhos, orelhas, nariz e garganta –
Encantaste-me com um
único beijo
Que nunca se poderá
desfazer
Até que a linguagem
se destrua.
(1962)
Referência:
KOCH, Kenneth. Permanently. In: HOOVER,
Paul (Ed.). A postmodern american
poetry: a norton anthology. New York, NY: W. W. Norton & Company Inc.,
1994. p. 112.
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