Neste poema que evolui num ciclo de repetições, Stevens parece se
referir à finitude de tudo quanto na terra existe, mesmo a atingir uma árvore como
o abeto, gênero de
conífera que, sendo perene mesmo em face das estações do ano, é confrontada com
a anual substituição das penas dos pavões.
Temos aí um cotejo entre a dominação do negro – a onipresença da morte
em nossas existências e seu insolúvel mistério –, e a busca da imortalidade,
simbolizada pelo grito dos pavões, um dos recursos empregados pelo poeta para
elevar o seu poema ao nível da transcendência. Mas veja, leitor, que o título
do poema não nos deixa confortáveis...
P.s.: Outra tradução mais conforme à literalidade do texto de Stevens, atribuída
a Alberto Pimenta e Maria Irene Ramalho de Sousa Santos, autores portugueses,
pode ser consultada neste endereço.
J.A.R. – H.C.
Wallace Stevens
(1879-1955)
Domination of Black
At night, by the
fire,
The colors of the
bushes
And of the fallen
leaves,
Repeating themselves,
Turned in the room,
Like the leaves
themselves
Turning in the wind.
Yes: but the color of
the heavy hemlocks
Came striding.
And I remembered the
cry of the peacocks.
The colors of their
tails
Were like the leaves
themselves
Turning in the wind,
In the twilight wind.
They swept over the
room,
Just as they flew
from the boughs of the hemlocks
Down to the ground.
I heard them cry –
the peacocks.
Was it a cry against
the twilight
Or against the leaves
themselves
Turning in the wind,
Turning as the flames
Turned in the fire,
Turning as the tails
of the peacocks
Turned in the loud
fire,
Loud as the hemlocks
Full of the cry of
the peacocks?
Or was it a cry
against the hemlocks?
Out of the window,
I saw how the planets
gathered
Like the leaves
themselves
Turning in the wind.
I saw how the night
came,
Came striding like
the color of the heavy hemlocks
I felt afraid.
And I remembered the
cry of the peacocks.
In: “Harmonium: 1923-1931”
O idílio dos pavões
(Susy Soulies:
artista norte-americana)
Predomínio do Negro
À noite, ao pé do
fogo,
As cores dos arbustos
E das folhas no chão
Giravam no quarto
E se repetiam,
Como as próprias
folhas
Girando no vento.
Sim: mas a cor
intensa dos açafrões
Invadiu o quarto.
E então lembrei o
grito dos pavões.
As cores de suas
caudas
Eram como as próprias
folhas
Girando no vento,
Girando no poente.
Voaram para dentro,
Ao serem varridas dos
ramos dos açafrões
E jogadas no chão.
Ouvi-os gritar – os
pavões.
Seria um grito contra
o poente
Ou contra a cor das
folhas
Girando cm o vento,
Girando como as
chamas
Giravam no fogo,
Girando como as
caudas dos pavões
Giravam no fogo
estridente,
Estridente como os
açafrões
Cheios de gritos de
pavões?
Ou era um grito
contra os açafrões?
Pela janela,
Vi os planetas se
juntarem
Como as próprias
folhas
Girando no vento.
Vi a noite chegar,
Invadindo o quarto,
como a cor intensa dos açafrões.
E tive medo.
E então lembrei o
grito dos pavões.
Referência:
STEVENS, Wallace. Domination of Black /
Predomínio do negro. Tradução de Paulo Henriques Britto. In: __________. Poemas. Seleção, tradução e introdução
de Paulo Henriques Britto. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 1987. Em
inglês: p. 18 e 20; em português: p. 19 e 21.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário