Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Alphonsus de Guimaraens Filho - Poesia e Origem

Grande poeta tanto quanto o pai, uma das figuras máximas do simbolismo brasileiro, Alphonsus Filho discorre neste soneto, em talentosa reflexão, sobre o ato próprio de se apreender a poesia em palavras, ela que nos permite reinventar o dia, partindo do sonho e dele, paradoxalmente, deslembrando.

Tem a poesia, segundo o vate, a mesma natureza das flores, cuja beleza se exterioriza em secreta palpitação, aproximando-nos de outros céus onde disperso está o amor, para logo mais fenecerem expostas ao vento – força natural para a qual acabam por se submeter em sua fragilidade.

J.A.R. – H.C.

Alphonsus de Guimaraens Filho
(1870-1921)

Poesia e Origem

O pólen de ouro que arde no recesso
das corolas, no segredo dos pistilos;
a visão musical de outros tranquilos
céus onde o amor esteve (ou está) disperso;

a secreta palpitação de uma beleza
mais casta, de uma luz que se anuncia,
trazem-me a sensação do próprio dia,
numa contemplação que é mais certeza.

Certeza? antes, o supremo encantamento
de quem renasce com as manhãs, em luminosa
plenitude, e as vê morrer, frágeis, ao vento.

A poesia é o dia reinventado.
E nós, que tanto sonhamos ao criá-la,
não nos lembramos mais de haver sonhado.

Em: “O Mito e o Criador” (1954)

Natureza-Morta Floral
(Szechenyi I. V. Szidonia: artista húngaro)

Referência:

GUIMARAENS FILHO, Alphonsus de. Poesia e origem. In: FIGUEIREDO, José Valle de (Compilador). Antologia da poesia brasileira. Lisboa, PT: Editorial Verbo, s/d [197?]. p. 192.

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