Este soneto é o exemplar do poeta e magistrado maranhense que Machado de
Assis selecionou para a crônica intitulada “Raimundo Correia: sinfonias”, redigida
em julho de 1882, na qual o “bruxo” discorre sobre a sensibilidade e a beleza do
verso natural e correntio de Correia.
E bem diz o poema sobre aqueles que, em razão da necessidade de
aceitação pelos pares, resolvem entrar no mundo da simulação, apondo-se
máscaras para ocultar os verdadeiros sentimentos ou pensamentos, mas que no
recôndito de suas almas não logram vergar a insígnia da verdade interior.
J.A.R. – H.C.
(1859-1911)
Mal Secreto
Se a cólera que
espuma, a dor que mora
N’aIma, e destrói
cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge,
tudo o que devora
O coração, no rosto
se estampasse;
Se se pudesse, o espírito
que chora,
Ver através da máscara
da face,
Quanta gente, talvez,
que inveja agora
Nos causa, então
piedade nos causasse!
Quanta gente que ri,
talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito
inimigo,
Como invisível chaga
cancerosa!
Quanta gente que ri,
talvez existe,
Cuja ventura única
consiste
Em parecer aos outros
venturosa!
Em: ‘Sinfonias’ (1883)
Em: ‘Sinfonias’ (1883)
Decomposição para o vazio completo nº 13
(Joaquín Jara:
artista catalão)
Referência:
CORREIA, Raimundo. Mal secreto. In: __________. Os melhores poemas de Raimundo Correia. Seleção de Telenia Hill. São Paulo, SP: Global, 1998. p. 49. (‘Os Melhores Poemas’; v. 34)
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