Pela aposição de epígrafe ao poema, Sexton torna manifesto o anseio de
espiritualidade presente no coração do atormentado pintor holandês, firme no
propósito de se fundir em silêncio, ao término da vida, com o incógnito infinito.
Van Gogh percebe o eterno e o sagrado na beleza do mundo, ou melhor,
nessa imensidão de firmamento que ainda está por nos desvendar as suas razões.
E a poetisa reverbera esse desejo do pintor em lançar-se em direção ao
desconhecido: como ele, partiu rumo ao dragão que lhe sorveu a existência...
J.A.R. – H.C.
Anne Sexton
(1928-1974)
The starry night
That does not keep me from having a
terrible need of –
shall I say the word – religion. Then I
go out at night
to paint the stars.
(Vincent Van Googh in a letter to his
brother)
The town does not
exist
except where one
black-haired tree slips
up like drowned woman
into the hot sky.
The town is silent.
Te night boils with eleven stars.
Oh starry starry
night! This is how
I want to die.
It moves. They are
all alive.
Even the moon bulges
in its orange irons
yo push children,
like a god, from its eye.
The old unseen
serpent swallows up the stars.
Oh starry starry
night! This is how
I want to die:
into that rushing
beast of the night,
sucked up by that
great dragon, to split
from my life with no
flag,
no belly,
no cry.
A Noite Estrelada
(Vincent Van Gogh:
pintor holandês)
A Noite Estrelada
Isso não impede que eu tenha uma terrível
necessidade de –
devo dizer a palavra – religião. Saio
então pela noite
a pintar as estrelas.
(Vincent Van Googh numa carta a seu
irmão)
A cidade não existe
exceto onde uma
árvore de cabelos negros desliza
para cima como uma
mulher afogada no céu quente.
A cidade está em
silêncio. A noite ferve com onze estrelas.
Oh estrelada,
estrelada noite! Assim é como
quero morrer.
Elas se movem. Estão
todas vivas.
Até mesmo a lua se distende
em seus grilhões alaranjados
para, como um deus,
propelir rebentos de seu olho.
A velha serpente invisível
traga as estrelas.
Oh estrelada,
estrelada noite! Assim é como
quero morrer:
dentro dessa impetuosa
besta noturna,
sugada por esse
grande dragão, para separar-me
de minha vida sem signa,
sem entranhas,
sem pranto.
Referência:
SEXTON, Anne. The starry night. In:
McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book
of contemporary american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 307.
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