Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Miguel Torga - Biografia

Torga explica a sua própria poética, “intensa e oculta”, num turbilhão íntimo que não se deixa divisar, como um vulcão de nenhuma erupção externa, sobre o qual se possa apascentar o gado sem sobressaltos.

Mas a exteriorização de sua poesia se dá como quem a atira à queima-roupa contra a serenidade de quem passa, prisioneira que é, a esperar que as grades das celas fiquem fortuitamente abertas, para se libertar qual atiçada e impetuosa chispa provinda de uma fogueira.

J.A.R. – H.C.

Miguel Torga
(1907-1995)

Biografia

Sonho, mas não parece.
Nem quero que pareça.
É por dentro que eu gosto que aconteça
A minha vida.
Íntima, funda, como um sentimento
De que se tem pudor.
Vulcão de exterior
Tão apagado,
Que um pastor
Possa sobre ele apascentar o gado.

Mas os versos, depois,
Frutos do sonho e dessa mesma vida,
É quase à queima-roupa que os atiro
Contra a serenidade de quem passa.
Então, já não sou eu que testemunho
A graça
Da poesia:
É ela, prisioneira,
Que, vendo a porta da prisão aberta,
Como chispa que salta da fogueira,
Numa agressiva fúria se liberta.

Fogueira
(Winslow Homer: pintor norte-americano)

Referência:

TORGA, Miguel. Biografia. In: __________. Antologia poética. 4. ed. Coimbra, PT: Ed. do Autor, 1984. p. 210.

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