Este é um poema de Ammons com significado intrigante: aparentemente o
poeta se refere a um homem incisivo em seus pensamentos e propósitos. Um
músico, decerto, a criar melodias muito distintas das que se costumam ouvir com
frequência.
E apesar de seu perfil incomum, de surpreendentes ideias e criações,
pretende ele mostrar-se como os seus pares, sem transcendências ou imanências,
um normal entre normais – e neste ponto tem-se a impressão de que o eu lírico
expressa o fardo do próprio poeta!
J.A.R. – H.C.
A. R. Ammons
(1926-2001)
He Held Radical Light
He held radical light
as music in his
skull: music
turned, as
over ridges
immanences of evening light
rise, turned
back over the furrows
of his brain
into the dark,
shuddered,
shot out again
in long swaying
swirls of sound:
reality had little
weight in his transcendence
so he
had trouble keeping
his feet on the
ground, was
terrified by that
and liked himself,
and others, mostly
under roofs:
nevertheless, when
the
light churned and
changed
his head to music,
nothing could keep him
off the mountains,
his
head back, mouth
working,
wrestling to say, to
cut loose
from the high
unimaginable hook:
released, hidden from
stars, he ate,
burped, said he was
like any one
of us: demanded he
was like any one of
us.
O Violinista
(Cândido Portinari:
pintor paulista)
Ele Ostentava uma Luz Radical
Ele ostentava uma luz
radical
como música em seu
crânio: a música
dava voltas, assim como
se elevam as
imanências da luz crepuscular sobre
os cumes, regressando
pelos sulcos de seu
cérebro
à escuridão, onde atroava,
irrompendo de novo
em longas e ondeantes
volutas de som:
a realidade pouco pesava
em sua transcendência,
motivo por que
tinha problemas para
manter
os pés no chão, e
isso
o aterrorizava,
levando-o
a proteger-se, tanto
quanto aos outros, de preferência
sob tetos:
no entanto, quando a
luz se agitava e convertia
a
sua cabeça para a música, nada poderia mantê-lo
distante das
montanhas, sua
cabeça para trás, os
lábios ativos,
lutando para falar,
para desprender-se
do alto e
inimaginável gancho:
liberado, oculto às
estrelas, comia,
arrotava, dizia que
era como qualquer um
de nós: reivindicava
que fosse
como qualquer um de
nós.
Referência:
AMMONS, A. R. He held radical light.
In: POULIN JR., A. (Ed.). Contemporary
american poetry. 6th. Ed. Boston, MA: Houghton Mifflin Company, 1996. p.
3-4.
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