O moderno aparece neste poema de Williams como uma espécie de historieta
que decorre do ato mesmo de comer um tomate que foi colhido ainda verde e
mantido artificialmente em condições de venda, pelos intervenientes do agronegócio.
E é na absorção desse produto pelo consumidor final – no caso, a voz a
expressar a própria subjetividade do poeta – que ocorre o arremate sobre o
estado iníquo em que as coisas ora se manifestam no mundo: tudo porque se
tornaram improváveis exteriorizações hieráticas no comportamento humano.
J.A.R. – H.C.
C. K. Williams
(1936-2015)
The Modern
Its skin tough and
unpliable as scar, the pulp out of focus,
weak, granular, powdery,
blank,
this tomato I’m
eating – wolfing, stuffing down: I’m so hungry –
is horrible and
delicious.
Don’t tell me, I know
ali about it, this travesty-sham; I know
it was plucked green
and unripe,
then was locked in a
chamber and gassed so it wouldn’t rot till
I bought it but I
don’t care:
I was so famished before,
I was sucking sweat from my arm
and now my tomato is
glowing inside me.
I muscle the juice
through my teeth and the seeds to the roof of
my mouth and the
hard,
scaly scab of where
fruit met innocent stem and was torn free
I hold on my tongue
and savor,
a coin, a dot, the
end of a sentence, the end of the long
improbable utterance
of the holy and human.
Fuga
(Wassily Kandinsky:
pintor russo)
O Moderno
Sua pele firme e
inelástica como uma cicatriz, a polpa fora de foco,
débil, granular,
pulverulenta, desprovida,
este tomate que estou
comendo – devorando pela goela abaixo:
estou com tanta fome
– é a um só tempo horrível e delicioso.
Não me conte, pois sei
tudo sobre ele, essa fraude espúria; sei que
foi colhido verde e
temporão,
logo foi encerrado
numa câmara e gaseado para que não apodrecesse
até que eu o
comprasse, mas não me importo:
antes encontrava-me
tão faminto, estava sorvendo o suor do meu braço
e agora o tomate
está reluzente dentro de mim.
Pressiono o suco por
entre meus dentes e as sementes contra o céu da
boca, e a dura,
escamosa crosta da região em que a fruta se desgarrou da haste inocente
retenho-a em minha
língua e a saboreio:
uma moeda, um ponto,
o fim de uma sentença, o término de uma longa
e improvável
declaração do santo e do humano.
Referência:
WILLIAMS, C. K. The modern. In: POULIN
JR., A. (Ed.). Contemporary american
poetry. 6th. Ed. Boston, MA: Houghton Mifflin Company, 1996. p. 620.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário