Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 24 de setembro de 2017

C. K. Williams - O Moderno

O moderno aparece neste poema de Williams como uma espécie de historieta que decorre do ato mesmo de comer um tomate que foi colhido ainda verde e mantido artificialmente em condições de venda, pelos intervenientes do agronegócio.

E é na absorção desse produto pelo consumidor final – no caso, a voz a expressar a própria subjetividade do poeta – que ocorre o arremate sobre o estado iníquo em que as coisas ora se manifestam no mundo: tudo porque se tornaram improváveis exteriorizações hieráticas no comportamento humano.

J.A.R. – H.C.

C. K. Williams
(1936-2015)

The Modern

Its skin tough and unpliable as scar, the pulp out of focus,
weak, granular, powdery, blank,
this tomato I’m eating – wolfing, stuffing down: I’m so hungry –
is horrible and delicious.
Don’t tell me, I know ali about it, this travesty-sham; I know
it was plucked green and unripe,
then was locked in a chamber and gassed so it wouldn’t rot till
I bought it but I don’t care:
I was so famished before, I was sucking sweat from my arm
and now my tomato is glowing inside me.
I muscle the juice through my teeth and the seeds to the roof of
my mouth and the hard,
scaly scab of where fruit met innocent stem and was torn free
I hold on my tongue and savor,
a coin, a dot, the end of a sentence, the end of the long
improbable utterance of the holy and human.

Fuga
(Wassily Kandinsky: pintor russo)

O Moderno

Sua pele firme e inelástica como uma cicatriz, a polpa fora de foco,
débil, granular, pulverulenta, desprovida,
este tomate que estou comendo – devorando pela goela abaixo:
estou com tanta fome – é a um só tempo horrível e delicioso.
Não me conte, pois sei tudo sobre ele, essa fraude espúria; sei que
foi colhido verde e temporão,
logo foi encerrado numa câmara e gaseado para que não apodrecesse
até que eu o comprasse, mas não me importo:
antes encontrava-me tão faminto, estava sorvendo o suor do meu braço
e agora o tomate está reluzente dentro de mim.
Pressiono o suco por entre meus dentes e as sementes contra o céu da
boca, e a dura,
escamosa crosta da região em que a fruta se desgarrou da haste inocente
retenho-a em minha língua e a saboreio:
uma moeda, um ponto, o fim de uma sentença, o término de uma longa
e improvável declaração do santo e do humano.

Referência:

WILLIAMS, C. K. The modern. In: POULIN JR., A. (Ed.). Contemporary american poetry. 6th. Ed. Boston, MA: Houghton Mifflin Company, 1996. p. 620.

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