O sujeito lírico – o poeta, em suma, vá lá! – está sofrendo uma grave
crise de tédio, eis que demonstra o seu desagrado com a arte – a literatura em
particular –, a cultura e os seus companheiros de lida, tudo isso numa
linguagem coloquial fluida.
Mas será que o problema é mesmo interno, reverberando em seu íntimo, ou
não seria a própria vida quotidiana, que muitas vezes se manifesta em sua falta
de lógica ou banalidade? Veja-se que mesmo os animais parecem apenas se
misturar com a paisagem e logo desaparecem, deixando um rastro de humor que já
não é capaz de incitar o riso no poeta...
J.A.R. – H.C.
John Berryman
(1914-1972)
The Dream Songs: 14
Life, friends, is
boring. We must not say so.
After all, the sky
flashes, the great sea yearns,
we ourselves flash
and yearn,
and moreover my
mother told me as a boy
(repeatingly) ‘Ever
to confess you’re bored
means you have no
Inner Resources’. I
conclude now I have no
inner resources,
because I am heavy bored.
Peoples bore me,
literature bores me,
especially great literature,
Henry bores me, with
his plights & gripes
as bad as achilles,
who loves people and
valiant art, which bores me.
And the tranquil
hills, & gin, look like a drag
and somehow a dog
has taken itself
& its tail considerably away
into the mountains or
sea or sky, leaving
behind: me, wag.
Tédio
(Walter Sickert:
pintor inglês)
Canções de sonho: 14
A vida, amigos, é
tediosa. Não deveríamos dizê-lo.
Afinal, o sol brilha,
o grande mar suspira,
nós mesmos brilhamos
e suspiramos,
e além disso disse-me
minha mãe quando pequeno
(repetidamente) ‘Confessar-se
amiúde entediado
significa que não
tens
Recursos Internos’.
Concluo agora que não tenho
recursos internos,
porque estou bastante entediado.
As pessoas me
entediam,
a literatura me entedia,
especialmente a grande literatura,
Henry me entedia, com
seus contratempos e queixas
tão infaustos quanto
os de Aquiles,
que amava as pessoas
e a arte da bravura, que me entediam.
E as tranquilas
colinas, e o gim, parecem um fastio
e de algum modo um
cão
levou a si próprio e
à sua cauda consideravelmente longe
até as montanhas, o
mar ou o céu, deixando
para trás: a mim, um
pândego.
Referência:
BERRYMAN, John. The dream songs: 14. In:
McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book
of contemporary american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 50-51.
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