Vão aqui três poemas curtos, de três poetas distintos espalhados por
este imenso torrão, mas com sensibilidade suficiente para expressar “realidades”
internas e externas com os óculos inusitados da poesia, essa senhora que se
mantém ativa já há milênios, a verter em palavras as nossas melhores ideias e
emoções.
Agradam-me bastante o tom especulativo e a forma condensada dos poemas selecionados,
sem que, neste caso, deixem de expressar criatividade e sutileza. Afinal, a
poesia só atinge os seus limites quando expressa algo desafiador aos seus
destinatários!
J.A.R. – H.C.
Marcos Airton de Sousa Freitas
(n. 1963 / Teresina –
PI)
Nectário
faço circular
minha seiva
abundante –
qual a de um
parenquimático
arvoredo –
(cromoplastas
lembranças)
e de meu ápice
caulinar
dou origem ao floema,
ao xilema
e ao poema
(ADOUR, 2009, p. 37)
Paccelli José Maracci Zähler
(n. 1958 / Bagé – RS)
Poesia
A poesia é bruta,
É pedra não-lapidada
Que assombra,
Que aponta
O centro da ferida.
É pimenta ardida
Que incomoda
A consciência
coletiva
Quer não quer ver
A injustiça social.
(ADOUR, 2009, p. 49)
Natureza-Morta com Flores de Verão
(Eugène Henri
Cauchois: pintor francês)
Jorge Luís de Freitas Lima
(n. 1969 / Fortaleza –
CE)
Afazia
Não sinto o sabor das
palavras
Que me fogem à boca
inusitadas
Meros produtos
da fonação
Não há o sentido
A libido
Que individualiza
O homo falantis
Vazias palavras
Grafo afonias
Desemoção
Apatia
Ego
Ismo
Indiferença
Indignação.
(ADOUR, 2009, p. 128)
Referência:
ADOUR, Tomaz (Ed.). Coletânea usina de letras 10 anos. Rio
de Janeiro, RJ; Brasília, DF: Usina de Letras, 2009. (‘Vermelho Marinho’)
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