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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Richard Eberhart - Se Pelo Menos Eu Pudesse Viver em um Grau ‎Próximo à Loucura

Eis um poema que, contido no ensaio “Como Escrevo Poesia” (NEMEROV, 1968, p. 31-57), tem a sua interpretação elucidada pelo próprio autor: Eberhart diz tratar-se de um ato criador que lhe teria assomado durante o período da Grande Depressão, na primeira metade do século XX, que o forçou a uma profunda visão interior, levando-o ao passado, concebido como melhor do que o presente (NEMEROV, 1968, p. 38).

Afirma ele, ainda, que o título não se refere à loucura patológica, senão à “divina loucura” dos gregos, seu famoso espírito livre e jogo de imaginação ao nível mais intenso de consciência: é um poema platônico, por conseguinte (NEMEROV, 1968, p. 39).

J.A.R. – H.C.

Richard Eberhart
(1904-2005)

If I Could Only Live at the Pitch That Is
Near Madness

If I could only live at the pitch that is near madness
When everything is as it was in my childhood
Violent, vivid, and of infinite possibility:
That the sun and the moon broke over my head.

Then I cast time out of the trees and fields,
Then I stood immaculate in the Ego;
Then I eyed the world with all delight,
Reality was the perfection of my sight.

And time has big handles on the hands,
Fields and trees a way of being themselves.
I saw battalions of the race of mankind
Standing stolid, demanding a moral answer.

I gave the moral answer and I died
And into a realm of complexity came
Where nothing is possible but necessity
And the truth waiting there like a red babe.

Mundo da Infância
(Sergei Rimoshevsky: pintor bielorusso)

Se Pelo Menos Eu Pudesse Viver em um Grau
Próximo à Loucura

Se pelo menos eu pudesse viver em um grau
próximo à loucura,
Quando tudo é como foi durante minha infância,
Violento, vívido e de infinita possibilidade:
Quando a lua e o sol irrompiam sobre minha cabeça.

Naquele tempo, eu lançava o tempo para fora das
árvores e dos campos,
Naquele tempo, meu Ego era ainda imaculado;
Naquele tempo, eu olhava com todo deleite o mundo
E a realidade era a perfeição do que eu via.

Mas o tempo tem enormes alavancas em suas mãos,
E as árvores e os campos um modo próprio de ser.
Vi batalhões de espécimes da raça humana,
De pé, imperturbáveis, exigindo uma resposta moral.

Dei a resposta moral e morri
E cheguei a um reino de complexidade
Onde apenas a necessidade é possível
A verdade vagindo ali como um vermelho bebê.

Referência:

EBERHART, Richard. If I could only live at the pitch that is near madness / Se pelo menos eu pudesse viver em um grau próximo à loucura. Tradução de Marcos Santarrita. In: NEMEROV, Howard (Coord.). Poesia como criação. Tradução de Marcos Santarrita. Rio de Janeiro, GB: Edições GRD, 1968. Em inglês: p. 38; em português: p. 54.

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