Neruda oferece pratos de sangue a todos
aqueles que, tendo o poder ou a capacidade de fazer diferença na vida de
muitos, preferem ir pelas sendas das ações que usurpam os direitos dos mais
fracos, em favor de uma concentração de riqueza pernóstica, de que é exemplo a
que temos aqui na “terra brasilis”.
Façamos, então, como o vate chileno:
ofereçamos um prato de sangue para esse governo ilegítimo e corrupto que aí
está; ao judiciário elitista e conivente que o mantém no poder – ao STF, sobretudo!
–; e à mídia golpista (Globo, Veja, Isto é, Folha, Estadão etc.) que, manipulando
as massas, não é capaz sequer de disfarçar o seu interesse maior em fazer fluir
mais e mais dinheiro público para as suas arcas! E o povo, muito bem, marcha ao
largo e não passa de um detalhe!
J.A.R. – H.C.
Pablo Neruda
(1904-1973)
Almería
Un plato para el
obispo, un plato triturado y amargo,
un plato con restos
de hierro, con cenizas, con lágrimas,
un plato sumergido,
con sollozos y paredes caídas,
un plato para el
obispo, un plato de sangre de Almería.
Un plato para el
banquero, un plato con mejillas
de niños del Sur
feliz, un plato
con detonaciones, con
aguas locas y ruinas y espanto,
un plato con ejes
partidos y cabezas pisadas,
un plato negro, un
plato de sangre de Almería.
Cada mañana, cada
mañana turbia de vuestra vida
lo tendréis humeante
y ardiente en vuestra mesa:
lo apartaréis un poco
con vuestras suaves manos
para no verlo, para
no digerirlo tantas veces:
lo apartaréis un poco
entre el pan y las uvas,
a este plato de
sangre silenciosa
que estará allí cada
mañana, cada
mañana.
Un plato para el
Coronel y la esposa del Coronel,
en una fiesta de la
guarnición, en cada fiesta,
sobre los juramentos
y los escupos, con la luz de vino de
la madrugada
ara que lo veáis
temblando y frío sobre el mundo.
Sí, un plato para
todos vosotros, ricos de aquí y de allá,
embajadores,
ministros, comensales atroces,
señoras de confortable
té y asiento:
un plato destrozado,
desbordado, sucio de sangre pobre,
para cada mañana,
para cada semana, para siempre jamás,
un plato de sangre de
Almería, ante vosotros, siempre.
Porto de Almeria
(Isabel María Simón
Rueda: pintora espanhola)
Almeria
Um prato para o
bispo, um prato triturado e amargo,
um prato com restos
de ferro, com cinzas, com lágrimas,
um prato submerso,
com soluços e paredes caídas,
um prato para o
bispo, um prato de sangue de Almeria.
Um prato para o
banqueiro, um prato com faces
de crianças do Sul
feliz, um prato
com detonações, com águas
loucas e ruínas e espanto,
um prato com eixos
partidos e cabeças pisadas,
um prato negro, um
prato de sangue de Almeria.
Cada manhã, cada
manhã turva da vossa vida
tê-lo-eis fumegante e
ardente na vossa mesa:
afastá-lo-eis um
pouco com as vossas suaves mãos
para não vê-lo, para
não digeri-lo tantas vezes:
afastá-lo-eis um
pouco entre o pão e as uvas,
este prato de sangue
silencioso
que estará ali cada
manhã, cada
manhã.
Um prato para o
Coronel e a esposa do Coronel,
numa festa da
guarnição, em cada festa,
sobre os juramentos e
as cuspidas, com a luz de vinho
da madrugada
para que o vejais
tremendo e frio sobre o mundo.
Sim, um prato para
todos vós, ricos daqui e de lá,
embaixadores,
ministros, comensais atrozes,
senhoras de
confortável chá e assento:
um prato lascado,
transbordado, sujo de sangue pobre,
para cada manhã, para
cada semana, para sempre e sempre,
um prato de sangue de
Almeria, diante de vós, sempre.
Referência:
NERUDA, Pablo. Almería / Almeria.
Tradução de Eliane Zagury. In: __________. Antologia poética. Edição
bilíngue. Tradução de Eliane Zagury. 22. ed. Rio de
Janeiro, RJ: José Olympio, 2012. Em espanhol e em português: p. 121-123.
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