Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Pablo Neruda - Almeria

Neruda oferece pratos de sangue a todos aqueles que, tendo o poder ou a capacidade de fazer diferença na vida de muitos, preferem ir pelas sendas das ações que usurpam os direitos dos mais fracos, em favor de uma concentração de riqueza pernóstica, de que é exemplo a que temos aqui na “terra brasilis”.

Façamos, então, como o vate chileno: ofereçamos um prato de sangue para esse governo ilegítimo e corrupto que aí está; ao judiciário elitista e conivente que o mantém no poder – ao STF, sobretudo! –; e à mídia golpista (Globo, Veja, Isto é, Folha, Estadão etc.) que, manipulando as massas, não é capaz sequer de disfarçar o seu interesse maior em fazer fluir mais e mais dinheiro público para as suas arcas! E o povo, muito bem, marcha ao largo e não passa de um detalhe!

J.A.R. – H.C.

Pablo Neruda
(1904-1973)
                                               
Almería

Un plato para el obispo, un plato triturado y amargo,
un plato con restos de hierro, con cenizas, con lágrimas,
un plato sumergido, con sollozos y paredes caídas,
un plato para el obispo, un plato de sangre de Almería.

Un plato para el banquero, un plato con mejillas
de niños del Sur feliz, un plato
con detonaciones, con aguas locas y ruinas y espanto,
un plato con ejes partidos y cabezas pisadas,
un plato negro, un plato de sangre de Almería.

Cada mañana, cada mañana turbia de vuestra vida
lo tendréis humeante y ardiente en vuestra mesa:
lo apartaréis un poco con vuestras suaves manos
para no verlo, para no digerirlo tantas veces:
lo apartaréis un poco entre el pan y las uvas,
a este plato de sangre silenciosa
que estará allí cada mañana, cada
mañana.

Un plato para el Coronel y la esposa del Coronel,
en una fiesta de la guarnición, en cada fiesta,
sobre los juramentos y los escupos, con la luz de vino de
la madrugada
ara que lo veáis temblando y frío sobre el mundo.

Sí, un plato para todos vosotros, ricos de aquí y de allá,
embajadores, ministros, comensales atroces,
señoras de confortable té y asiento:
un plato destrozado, desbordado, sucio de sangre pobre,
para cada mañana, para cada semana, para siempre jamás,
un plato de sangre de Almería, ante vosotros, siempre.

Porto de Almeria
(Isabel María Simón Rueda: pintora espanhola)

Almeria

Um prato para o bispo, um prato triturado e amargo,
um prato com restos de ferro, com cinzas, com lágrimas,
um prato submerso, com soluços e paredes caídas,
um prato para o bispo, um prato de sangue de Almeria.

Um prato para o banqueiro, um prato com faces
de crianças do Sul feliz, um prato
com detonações, com águas loucas e ruínas e espanto,
um prato com eixos partidos e cabeças pisadas,
um prato negro, um prato de sangue de Almeria.

Cada manhã, cada manhã turva da vossa vida
tê-lo-eis fumegante e ardente na vossa mesa:
afastá-lo-eis um pouco com as vossas suaves mãos
para não vê-lo, para não digeri-lo tantas vezes:
afastá-lo-eis um pouco entre o pão e as uvas,
este prato de sangue silencioso
que estará ali cada manhã, cada
manhã.

Um prato para o Coronel e a esposa do Coronel,
numa festa da guarnição, em cada festa,
sobre os juramentos e as cuspidas, com a luz de vinho
da madrugada
para que o vejais tremendo e frio sobre o mundo.

Sim, um prato para todos vós, ricos daqui e de lá,
embaixadores, ministros, comensais atrozes,
senhoras de confortável chá e assento:
um prato lascado, transbordado, sujo de sangue pobre,
para cada manhã, para cada semana, para sempre e sempre,
um prato de sangue de Almeria, diante de vós, sempre.

Referência:

NERUDA, Pablo. Almería / Almeria. Tradução de Eliane Zagury. In: __________. Antologia poética. Edição bilíngue. Tradução de Eliane Zagury. 22. ed. Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 2012. Em espanhol e em português: p. 121-123.

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