Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 5 de junho de 2017

César Dávila Andrade - Profissão de Fé

Andrade, vate equatoriano, associa a tarefa poética ao drama vivenciado por São Sebastião, atravessado pela dor terrena e pela energia cósmica, metáfora mesma do espírito humano, inteligência, imaginação e consciência de sua mortalidade.

Cada poema investe contra a tela, contra os mistérios do mundo, tecendo o texto com palavras, lídimos objetos sonoros capazes de fazer surgir o inusitado a partir de sua “destruição criadora”, antiga que seja como a Terra, mas do mesmo modo a fonte mais vetusta de nosso deleite.

J.A.R. – H.C.

César Dávila Andrade
(1918-1967)

Profesión de Fe

No hay angustia mayor que la de luchar envuelto
en la tela que rodea
la pequeña casa del poeta durante la tormenta.
Además,
están ahí las moscas,
veloces en su ociosidad,
buscando la sabor adulterina
y dale y dale vueltas
frente a las aberturas del rostro más entregado
a su verdadera cualidad.
El forcejeo con la tela obstructiva
se repliega en las cuevas comunicantes del corazón
o dentro de la glándula de veneno del entrecejo
cuyos tabiques son
verticales al Fuego
y horizontales al Éter.
Y la Poesía, el dolor más antiguo de la Tierra,
bebe en los huecos del costado de San Sebastián
el sol vasomotor
abierto por las flechas.
Pero la voluntad del poema
embiste
aquí
y
allá
la tela
y elige, a oscuras aún, los objetos sonoros,
las riñas de alas,
los abalorios que pululan en la boca del cántaro.
Pero la tela se encoge y ninguna práctica
es capaz de renovar
la agonía creadora del delfín.
El pez sólo puede salvarse en el relámpago.

Monet pintando em seu jardim em Argenteuil
(Auguste Renoir: pintor francês)

Profissão de Fé

Não há angústia maior que a de lutar envolvido
pela tela que rodeia
a pequena casa do poeta durante a tormenta.
Ademais,
estão aí as moscas,
velozes em sua ociosidade,
buscando o sabor adulterino,
e dá-lhe e dá-lhe voltas
em frente às aberturas do rosto mais entregue
à sua verdadeira qualidade.
O debater-se com a tela obstrutiva
se retrai nas cavidades comunicantes do coração
ou dentro da glândula de veneno do sobrecenho
cujos septos são
verticais ao Fogo
e horizontais ao Éter.
E a Poesia, a dor mais antiga da Terra,
bebe nas perfurações do flanco de São Sebastião
o sol vasomotor
aberto pelas flechas.
Porém a vontade do poema
arroja-se
aqui
e
ali
e escolhe, às escuras ainda, os objetos sonoros,
as rinhas de asas,
os avelórios que pululam na boca do cântaro.
Mas a tela se encolhe e nenhuma prática
é capaz de renovar
a agonia criadora do delfim.
O peixe somente pode salvar-se no relâmpago.

Referência:

ANDRADE, César Dávila. Profesión de fe. In: BORDA, Juán Gustavo Cobo (Selección, prólogo y notas). Antología de la poesía hispanoamericana. 1. ed. México, DF: Fondo de Cultura Económica, 1985. p. 197. (Colección Tierra Firme)

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