Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Mark Strand - Mantendo as Coisas Completas

Estar ausente é uma forma de completar o espaço à volta com as coisas que estão no lugar onde não nos encontramos: simples assim, como a lei física da impenetrabilidade. Se eu avanço, cortando o ar, o ar me contorna e preenche os espaços por onde, em instantes prévios, eu havia transitado.

Temos, assim, um poema minimalista em que o falante imagina-se como alguém capaz de romper a unidade da natureza, sem deixá-la, contudo, incompleta. Ou por outra: não importa para onde se vá neste mundo, sempre haverá uma sensação de ausência capaz de tornar íntegra a paisagem...

J.A.R. – H.C.

Mark Strand
(1934-2014)

Keeping Things Whole

In a field
I am the absence
of field.
This is
always the case.
Wherever I am
I am what is missing.

When I walk
I part the air
and always
the air moves in
to fill the spaces
where my body’s been.

We all have reasons
for moving.
I move
to keep things whole.

Correnteza
(Vladimir Kush: artista russo)

Mantendo as Coisas Completas

Em um campo
sou a ausência
do campo.
As coisas são
sempre assim.
Onde quer que eu esteja
sou o que está faltando.

Quando caminho
corto o ar
e sempre
o ar se move
para preencher os espaços
onde o meu corpo esteve.

Todos temos razões
para mover-nos.
Eu me movo
para manter as coisas completas.

Referência:

STRAND, Mark. Keeping things whole. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 381-382.

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