Estar ausente é uma forma de completar
o espaço à volta com as coisas que estão no lugar onde não nos encontramos:
simples assim, como a lei física da impenetrabilidade. Se eu avanço, cortando o
ar, o ar me contorna e preenche os espaços por onde, em instantes prévios, eu
havia transitado.
Temos, assim, um poema minimalista em
que o falante imagina-se como alguém capaz de romper a unidade da natureza, sem
deixá-la, contudo, incompleta. Ou por outra: não importa para onde se vá neste
mundo, sempre haverá uma sensação de ausência capaz de tornar íntegra a
paisagem...
J.A.R. – H.C.
Mark Strand
(1934-2014)
Keeping Things Whole
In a field
I am the absence
of field.
This is
always the case.
Wherever I am
I am what is missing.
When I walk
I part the air
and always
the air moves in
to fill the spaces
where my body’s been.
We all have reasons
for moving.
I move
to keep things whole.
Correnteza
(Vladimir Kush:
artista russo)
Mantendo as Coisas Completas
Em um campo
sou a ausência
do campo.
As coisas são
sempre assim.
Onde quer que eu
esteja
sou o que está
faltando.
Quando caminho
corto o ar
e sempre
o ar se move
para preencher os
espaços
onde o meu corpo
esteve.
Todos temos razões
para mover-nos.
Eu me movo
para manter as coisas
completas.
Referência:
STRAND, Mark. Keeping things whole. In:
McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York,
NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p.
381-382.
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