Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Juan Gelman - Belezas

Gelman, autor argentino de origem judaica, dirige-se a três poetas latino-americanos, que lhe parecem estar envoltos em pormenores, obcecados com a própria imortalidade, naquilo que se prendem a visões metafísicas da realidade e ao individualismo criativo.

Em sua visão, os três seriam paradigmas de uma poética prematuramente caduca, atrelada à dimensão estática da beleza, sobrecarregada de valores que a afastam do fluxo natural da vida, de seu trânsito irrepetível, pleno de outras tantas e frementes belezas.

J.A.R. – H.C.

Juan Gelman
(1930-2014)

Bellezas

Octavio Paz Alberto Girri José Lezama Lima y demás obsedidos por
la inmortalidad creyendo
que la vida como belleza es estática e imperfecto el movimiento
o impuro
¿han comenzado a los cincuenta de edad
a ser empujados por el terror de la muerte?

el perro que mira acostado el domingo ¿no es inmortal en ese
instante o diluvio
de la tarde contemplándose en sus ojos?
¿no ha quedado acaso el perro clavado a esa contemplación
que lo embellece o sobrevuela como ardor en la tarde?

y el deseo de Octavio Alberto José ¿no es movimiento acaso
y el movimiento su ser cuando atrapan la palabra justa o injusta?
¿no debe correr mucho quien quiera bañarse dos veces en el mismo
río?
¿no debe amar mucho quien quiera amarse dos veces en el mismo
amor?

y nuestro cuerpo ¿no ha sido inmortal uniéndose
al cuerpo amado con trabajos que pocos desdeñan
y despegándose desgarrándose o rompiendo incandescencias bocas
que rodarían en la noche como criaturas extraviadas que pueden
hablar ya?

y yesos cuerpos ¿no han venido para irse acaso dejando
un tránsito que nadie recorrerá sino ellos
que ardieron o arden como un perro mirando el domingo bajo el
avión lento de Venus
y demás planetas en pura consumación?

y Octavio Alberto José eligiendo
sea cantar el término la finitud con voces melancólicas sea
emperrados en fijar un instante creyendo que la vida como belleza
es estática
¿acaso no dan luz como planetas ciegos a su propio destino?

¿y qué piensan la estrella el perro contemplando a Octavio trabajar?
¿no les llegará acaso su luz?
¿no es el sujeto del deseo la materia como el del macho la hembra?
¿no ha de girar Alberto como vida terrible cercenable indestructible
en la noche del mundo?

y José preso en su José mirando la calle
mirándola desde esta eternidad verdaderamente
¿no mira contando comparando los quioscos de flores las vidrieras
la gente?
bajo la sombra del patíbulo ¿no contempla la belleza que pasa como
lejos de su propio terminar?

Octavio Alberto José niños ¿por qué fingen que no llevan la calma
donde reina confusión?
¿por qué no admiten que dan valor a los oprimidos o suavidad o
dulzura?
¿por qué se afilian como viejos a la vejez?
¿por qué se pierden en detalles como la muerte personal?

Moinho de Vento na Costa do Mar
(Ivan Aivazovsky: pintor russo)

Belezas

Octavio Paz Alberto Girri José Lezama Lima e demais obcecados pela
imortalidade crendo
que a vida como beleza é estática e imperfeito o movimento
ou impuro
começaram aos cinquenta de idade
a ser empurrados pelo terror da morte?

o cão que observa recostado o domingo não é imortal nesse
instante ou dilúvio
da tarde contemplando-se em seus olhos?
acaso não permaneceu o cão fixado a essa contemplação
que o embeleza ou que sobrevoa como ardor na tarde?

e o desejo de Octavio Alberto José não é acaso movimento
e o movimento seu ser quando agarram a palavra justa ou injusta?
não deve muito correr quem quiser banhar-se duas vezes no mesmo
rio?
não deve amar muito quem quiser amar-se duas vezes no mesmo
amor?

e nosso corpo não se tornou imortal unindo-se
ao corpo amado com trabalhos que poucos desdenham
e despegando-se desgarrando-se ou rompendo incandescências bocas
que rodariam na noite como criaturas extraviadas que podem
já falar?

e acaso esses corpos não vieram para ir-se deixando
um trânsito que ninguém percorrerá senão eles
que arderam ou ardem como um cão a observar o domingo sob o
avião lento de Vênus
e demais planetas em pura consumação?

E Octavio Alberto José escolhendo
seja cantar o término a finitude com vozes melancólicas seja
obstinados em fixar um instante crendo que a vida como beleza
é estática
acaso não dão luz como planetas cegos a seu próprio destino?

e o que pensam a estrela o cão contemplando Octavio a trabalhar?
acaso não lhes chegará a sua luz?
não é o sujeito do desejo a matéria como o do macho a fêmea?
Alberto não há de girar como vida terrível cerceável indestrutível
na noite do mundo?

e José preso em seu José vendo a rua
olhando-a verdadeiramente desde esta eternidade
não a observa contando comparando os quiosques de flores os vitrais
    a gente?
sob a sombra do patíbulo não contempla a beleza que passa ainda
tão distante do seu próprio fim?

Octavio Alberto José meninos por que fingem que não levam a calma
onde reina a confusão?
por que não admitem que dão valor aos oprimidos ou à suavidade ou
à doçura?
por que se afiliam como velhos à velhice?
por que se perdem em detalhas como a morte pessoal?

Referência:

GELMAN, Juan. Bellezas. In: BORDA, Juán Gustavo Cobo (Selección, prólogo y notas). Antología de la poesía hispanoamericana. 1. ed. México, DF: Fondo de Cultura Económica, ‎‎1985. p. 394-395. (Colección Tierra Firme)

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