Num dia qualquer de verão, a poetisa
percebe a naturalidade dos movimentos de um gafanhoto que emerge da grama,
fazendo aflorar o colorido, o brilho e a beleza do mundo à sua volta. E quem
terá concebido este mundo? – pergunta-se: cisne, urso negro, vida selvagem.
Deverá ele ser objeto de devoção, mesmo
sabendo que tudo pode estar por um minuto apenas. Por conseguinte, sendo curta
a vida, urge apreciar cada dia que nós é franqueado, desfrutando o sol de
verão, um passeio pelos campos ou outro mister que nos gratifique, num modo de
ser espiritualizado frente às circunstâncias tangíveis a que estamos expostos.
J.A.R. – H.C.
Mary Oliver
(n. 1935)
The Summer Day
Who made the world?
Who made the swan, and the black bear?
Who made the grasshopper?
This grasshopper, I mean –
the one who has flung herself out of the grass,
the one who is eating sugar out of my hand,
who is moving her jaws back and forth instead of up
and down –
who is gazing around with her enormous and
complicated eyes.
Now she lifts her pale forearms and thoroughly
washes her face.
Now she snaps her wings open, and floats away.
I don’t know exactly what a prayer is.
I do know how to pay attention, how to fall down
into the grass, how to kneel down in the grass,
how to be idle and blessed, how to stroll through
the fields,
which is what I have been doing all day.
Tell me, what else should I have done?
Doesn’t everything die at last, and too soon?
Tell me, what is it you plan to do
with your one wild and precious life?
Caminhando no campo
por uma trilha iluminada pelo sol
(Andreas Schelfhout: pintor holandês)
O Dia de Verão
Quem criou o mundo?
Quem concebeu o cisne e o urso negro?
Quem idealizou o gafanhoto?
Explico-me melhor, este gafanhoto –
o que se arremessou para fora da grama,
o que está comendo açúcar de minha mão,
o que move suas maxilas para trás e para frente
em vez de para cima e para baixo –
o que olha ao redor
com seus enormes e complicados olhos.
Agora levanta seus
antebraços pálidos e lava o rosto
completamente.
Logo agita suas asas
e voa para longe.
Não sei exatamente o
que é uma oração.
Sei como prestar
atenção, como cair
sobre a grama, como
ajoelhar-me sobre ela,
como ser indolente e abençoada,
como passear pelos campos,
que é o que tenho
estado a fazer todo o dia.
Diga-me, o que mais
deveria eu ter feito?
Tudo não expira ao
final, e tão prontamente?
Diga-me, o que você
planeja fazer
com a sua preciosa,
selvagem e única vida?
Referência:
OLIVER, Mary. The summer day. In: PINSKY, Robert; DIETZ, Maggie (Eds.). American’s
favorite poems: the favorite poem project anthology. New York, NY: W. W. Norton, 2000. p.
207.
❁
ótima poeta!
ResponderExcluirEncantador!
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