Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Miguel Torga - Intimidade

Há inúmeros versos no coração do poeta, tanto quantos lhe aprouver: basta fazê-los seguir trilha e sentido, para descerem do azul alado da bruma, abastados com toda a sua inerente humanidade.

Contudo, diz-nos a voz lírica que, ao pretender sangrar o seu íntimo para neles distribuir o rocio “da ternura, de sonho e de ilusão”, emergem outros tantos versos, desta feita somente confidenciados a quem lhe é igual.

J.A.R. – H.C.

Miguel Torga
(1907-1995)

Intimidade

Meu coração tem quantos versos quer;
É só pulsá-los com medida e rumo.
É só erguer-se a pino a um céu qualquer,
E desse alado azul cair a prumo.

Lago se desvanece o negro encanto
Que os tinha ocultos no condão da bruma;
Logo o seu corpo esguio rasga o manto,
E mostra a humanidade que ressuma.

Mas quando ele sangra para os orvalhar
De ternura, de sonho e de ilusão,
São outros versos... para segredar
A quem é seu irmão.

A Sibila Délfica
(Michelangelo Buonarroti: artista italiano)

Referência:

TORGA, Miguel. Intimidade. In: AMORA, Antônio Soares; MOISÉS, Massaud; SPINA, Segismundo (Diretores). Presença da literatura portuguesa. V. III: simbolismo e modernismo. São Paulo, SP: Difusão Europeia do Livro, 1961. p. 302.

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