Vamos a um passeio por um sonho, ou a uma
visão que sobreveio nalgum momento da noite ao poeta e político cubano, contendo
manifesto discurso onírico sobre o heroico, eis que o sujeito lírico imagina-se
em frente a esculturas de mármore de protagonistas importantes da história nacional.
O poeta não apenas desperta aos poucos
as figuras de pedra, como também lhes serve como um mensageiro, um
intermediário que volta a narrar o que já outros têm dito sobre fatos do
percurso pátrio, culminando com a incisiva declaração de que não há heróis entre
os vivos, haja vista que envoltos em negócios abjetos.
J.A.R. – H.C.
José Martí
(1853-1895)
Hombres de Mármol
Sueño con claustros
de mármol
donde en silencio
divino
los héroes, de pie, reposan:
¡de noche, a la luz
del alma,
hablo con ellos: de
noche!
Están en fila: paseo
entre las filas: las
manos
de piedra les beso:
abren
los ojos de piedra:
mueven
los labios de piedra:
tiemblan
las barbas de piedra:
empuñan
la espada de piedra:
lloran:
¡Vibra la espada en la
vaina!
¡Mudo, les beso la
mano!
¡Hablo con ellos, de
noche!
Están en fila: paseo
entre las filas:
lloroso
me abrazo a un
mármol: ¡Oh mármol,
dicen que beben tus
hijos
su propia sangre en
las copas
venenosas de sus
dueños!
¡Que hablan la lengua
podrida
de sus rufianes! ¡Que comen
juntos el pan del
oprobio
en la mesa
ensangrentada!
¡Que pierden en lengua
inútil
el último fuego! ¡Dicen,
oh mármol, mármol
dormido,
Que ya se ha muerto
tu raza!
Échame en tierra de
un bote
el héroe que abrazo:
me ase
del cuello: barre la
tierra
con mi cabeza:
levanta
el brazo, ¡el brazo le luce
lo mismo que un sol!:
resuena
la piedra: buscan el
cinto
las manos blancas: ¡del soclo
saltan los hombres de
mármol!
(Versos Sencillos,
XLV)
Sarcófago Romano
(Detalhe)
Homens de Mármore
Sonho com claustros
de mármore
onde em silêncio
divino
repousam heróis, de
pé.
De noite, aos
fulgores da alma,
falo com eles, de
noite.
Estão em fila;
passeio
Por entre as filas;
as mãos
de pedra lhes beijo;
entreabrem
os olhos de pedra;
movem
os lábios de pedra;
tremem
as barbas de pedra;
choram;
vibra a espada na
bainha!
Calada lhes beijo as
mãos.
Falo com eles, de
noite.
Estão em fila;
passeio
por entre as filas;
choroso
me abraço a um
mármore. – “Ó mármore,
dizem que bebem teus
filhos
o próprio sangue nas
taças
envenenadas dos
déspotas!
Que falam a língua
torpe
dos libertinos! Que
comem
reunidos o pão do
opróbrio
na mesa tinta de
sangue!
Que gastam em
parolagem
as últimas fibras!
Dizem,
ó mármore adormecido,
que tua raça está
morta!”
Atira-me à terra
súbito,
esse herói que
abraço; agarra-me
o pescoço; varre a
terra
com meus cabelos;
levanta
o braço; fulge-lhe o
braço
semelhante a um sol;
ressoa
a pedra; buscam a
cinta
as mãos diáfanas; da
peanha
saltam os homens de
mármore!
(Versos Simples, XLV)
Referências:
Em Espanhol
MARTÍ, José. Hombres de mármol. In:
__________. Versos sencillos. Obras completas: v. XI. La Habana, CU:
Cultural, 1928. p. 105.
Em Português
MARTÍ, José. Homens
de mármore. In: LISBOA, Henriqueta (Org.). Antologia
escolar de poemas para a juventude. Rio de Janeiro, RJ: Ediouro -
Tecnoprint, 1981. p. 113.
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