Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 28 de junho de 2017

José Martí - Homens de Mármore

Vamos a um passeio por um sonho, ou a uma visão que sobreveio nalgum momento da noite ao poeta e político cubano, contendo manifesto discurso onírico sobre o heroico, eis que o sujeito lírico imagina-se em frente a esculturas de mármore de protagonistas importantes da história nacional.

O poeta não apenas desperta aos poucos as figuras de pedra, como também lhes serve como um mensageiro, um intermediário que volta a narrar o que já outros têm dito sobre fatos do percurso pátrio, culminando com a incisiva declaração de que não há heróis entre os vivos, haja vista que envoltos em negócios abjetos.

J.A.R. – H.C.

José Martí
(1853-1895)

Hombres de Mármol

Sueño con claustros de mármol
donde en silencio divino
los héroes, de pie, reposan:
¡de noche, a la luz del alma,
hablo con ellos: de noche!
Están en fila: paseo
entre las filas: las manos
de piedra les beso: abren
los ojos de piedra: mueven
los labios de piedra: tiemblan
las barbas de piedra: empuñan
la espada de piedra: lloran:
¡Vibra la espada en la vaina!
¡Mudo, les beso la mano!

¡Hablo con ellos, de noche!
Están en fila: paseo
entre las filas: lloroso
me abrazo a un mármol: ¡Oh mármol,
dicen que beben tus hijos
su propia sangre en las copas
venenosas de sus dueños!
¡Que hablan la lengua podrida
de sus rufianes! ¡Que comen
juntos el pan del oprobio
en la mesa ensangrentada!
¡Que pierden en lengua inútil
el último fuego! ¡Dicen,
oh mármol, mármol dormido,
Que ya se ha muerto tu raza!

Échame en tierra de un bote
el héroe que abrazo: me ase
del cuello: barre la tierra
con mi cabeza: levanta
el brazo, ¡el brazo le luce
lo mismo que un sol!: resuena
la piedra: buscan el cinto
las manos blancas: ¡del soclo
saltan los hombres de mármol!

(Versos Sencillos, XLV)

Sarcófago Romano
(Detalhe)

Homens de Mármore

Sonho com claustros de mármore
onde em silêncio divino
repousam heróis, de pé.
De noite, aos fulgores da alma,
falo com eles, de noite.
Estão em fila; passeio
Por entre as filas; as mãos
de pedra lhes beijo; entreabrem
os olhos de pedra; movem
os lábios de pedra; tremem
as barbas de pedra; choram;
vibra a espada na bainha!
Calada lhes beijo as mãos.

Falo com eles, de noite.
Estão em fila; passeio
por entre as filas; choroso
me abraço a um mármore. – “Ó mármore,
dizem que bebem teus filhos
o próprio sangue nas taças
envenenadas dos déspotas!
Que falam a língua torpe
dos libertinos! Que comem
reunidos o pão do opróbrio
na mesa tinta de sangue!
Que gastam em parolagem
as últimas fibras! Dizem,
ó mármore adormecido,
que tua raça está morta!”

Atira-me à terra súbito,
esse herói que abraço; agarra-me
o pescoço; varre a terra
com meus cabelos; levanta
o braço; fulge-lhe o braço
semelhante a um sol; ressoa
a pedra; buscam a cinta
as mãos diáfanas; da peanha
saltam os homens de mármore!

(Versos Simples, XLV)

Referências:

Em Espanhol

MARTÍ, José. Hombres de mármol. In: __________. Versos sencillos. Obras completas: v. XI. La Habana, CU: Cultural, 1928. p. 105.

Em Português

MARTÍ, José. Homens de mármore. In: LISBOA, Henriqueta (Org.). Antologia escolar de poemas para a juventude. Rio de Janeiro, RJ: Ediouro - Tecnoprint, 1981. p. 113.

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