Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 25 de junho de 2017

Friedrich Hölderlin - Fantasia do Crepúsculo

Numa série de imagens fluidas, Hölderlin contempla os homens ao fim de sua lida diária, e vendo-se uma figura solitária entre os pares, percebe que os seus sonhos se dissipam ao transcorrer vertiginoso do crepúsculo.

O poeta vislumbra, de fato, o avançar da idade em meio à paz e serenidade que costumam abraçar aqueles que já cruzaram o “cabo da boa esperança”. Assim, nada melhor que a metáfora empregada: o fim de um dia, com as suas réstias de luz, como alegoria para o trânsito de uma vida inteira.

Para os internautas que apreciam cotejar criações poéticas, sugeriria que tecessem paralelos entre o conteúdo taciturno dos últimos versos de Hölderlin, neste poema, e as derradeiras linhas da ode “Musa Consolatrix”, de Machado de Assis.

J.A.R. – H.C.

Friedrich Hölderlin
(1770-1843)

Abendphantasie

Vor seiner Hütte ruhig im Schatten sizt
Der Pflüger, dem Genügsamen raucht sein Herd.
Gastfreundlich tönt dem Wanderer im
Friedlichen Dorfe die Abendglocke.

Wohl kehren izt die Schiffer zum Hafen auch,
In fernen Städten, fröhlich verrauscht des Markts
Geschäftger Lärm; in stiller Laube
Glänzt das gesellige Mahl den Freunden.

Wohin denn ich? Es leben die Sterblichen
Von Lohn und Arbeit; wechselnd in Müh und Ruh
Ist alles freudig; warum schläft denn
Nimmer nur mir in der Brust der Stachel?

Am Abendhimmel blühet ein Frühling auf;
Unzählig blühn die Rosen und ruhig scheint
Die goldne Welt; o dorthin nimmt mich,
Purpurne Wolken! und möge droben

In Licht und Luft zerrinnen mir Lieb und Leid! -
Doch, wie verscheucht von thöriger Bitte, flieht
Der Zauber; dunkel wirds und einsam
Unter dem Himmel, wie immer, bin ich –

Komm du nun, sanfter Schlummer! zu viel begehrt
Das Herz; doch endlich, Jugend! verglühst du ja,
Du ruhelose, träumerische!
Friedlich und heiter ist dann das Alter.

Vista de um Estuário ao Crepúsculo
(Emily Mary Osborn: pintora inglesa)

Fantasia do Crepúsculo

Descansa o lavrador sua porta
E vê o fumo do lar subir, contente.
Hospitaleiramente ao caminhante
Acolhem os sinos da aldeia.

Voltam os marinheiros para o porto.
Em longínquas cidades amortece
O ruído dos mercados; na latada
Brilha a mesa para os amigos.

Ai de mim! de trabalho e recompensa
Vivem os homens, alternando alegres
Lazer e esforço: por que só em meu peito
Então nunca dorme este espinho?

No céu da tarde cheira a primavera;
Rosas florescem; sossegado fulge
O mundo das estrelas. Oh! levai-me,
Purpúreas nuvens, e lá em cima

Em luz e ar se me esvaia amor e mágoa!
Mas, do insensato voto afugentado,
Vai-se o encanto; escurece, e, solitário
Como sempre, fico ao relento.

Vem suave sono! Por demais anseia
O coração; um dia enfim te apagas,
Ó mocidade inquieta e sonhadora!
E chega serena a velhice.

Referências:

Em Alemão

HÖLDERLIN, Friedrich. Abendphantasie. In: __________. Gedichte. Herausgegeben von Karl-Maria Guth. Berlin, DE: Contumax GmbH & Co. KG, ‎‎2015. s. 218-219.

Em Português

HÖLDERLIN, Friedrich. Fantasia do crepúsculo. Tradução de Manuel Bandeira. In: BANDEIRA, Manuel. Poemas traduzidos. 3. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1956. p.126-127. (Coleção ‘Rubáiyát’)

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