Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Mário de Andrade - Vou-me Embora

Quem não haveria de se lembrar, depois de ler o poema abaixo, do famoso poema “Vou-me embora pra Pasárgada”, de Manuel Bandeira, esse imaginário idílico de prazer e bem-estar que o poeta concebeu em hipotéticas paragens?!

E observemos bem: Andrade espera escapar para Belém que, imagino, deva ser a capital do Pará, onde esteve em visita por volta da segunda metade dos anos 20 do século passado. Aliás, tal como o próprio Manuel Bandeira.

Outra nota: enquanto o poema de Bandeira apareceu em “Libertinagem”, de 1930, o de Andrade fez parte da obra “O Carro da Miséria”, de 1947. É possível, portanto, que este tenha sido influenciado por aquele. Ou ainda: seja um fenômeno mais ou menos explícito de intertextualidade.

J.A.R. – H.C.

Mário de Andrade
(1893-1945)

Vou-me Embora

Vou-me embora vou-me embora
Vou-me embora pra Belém
Vou colher cravos e rosas
Volto a semana que vem

Vou-me embora paz da terra
Paz da terra repartida
Uns têm terra muita terra
Outros nem pra uma dormida

Não tenho onde cair morto
Fiz gorar a inteligência
Vou reentrar no meu povo
Reprincipiar minha ciência

Vou-me embora vou-me embora
Volto a semana que vem
Quando eu voltar minha terra
Será dela ou de ninguém.

Em: “O Carro da Miséria” (1947)

Natureza-morta com tulipas, rosas e cravos
(Nicolaes van Veerendael: pintor flamengo)

Referência:

ANDRADE, Mário. Vou-me embora. In: RIEDEL, Dirce; LEMOS, Carlos; BARBIERI, Ivo; CASTRO, Therezinha (Orgs.). Literatura brasileira em curso. Rio de Janeiro, GB: Edições Bloch, 1968. p. 87.

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