Quem não haveria de se lembrar, depois de ler o poema abaixo, do famoso
poema “Vou-me embora pra Pasárgada”,
de Manuel Bandeira, esse imaginário idílico de prazer e bem-estar que o poeta
concebeu em hipotéticas paragens?!
E observemos bem: Andrade espera escapar para Belém que, imagino, deva
ser a capital do Pará, onde esteve em visita por volta da segunda metade dos
anos 20 do século passado. Aliás, tal como o próprio Manuel Bandeira.
Outra nota: enquanto o poema de Bandeira apareceu em “Libertinagem”, de
1930, o de Andrade fez parte da obra “O Carro da Miséria”, de 1947. É possível,
portanto, que este tenha sido influenciado por aquele. Ou ainda: seja um fenômeno
mais ou menos explícito de intertextualidade.
J.A.R. – H.C.
Mário de Andrade
(1893-1945)
Vou-me Embora
Vou-me embora vou-me
embora
Vou-me embora pra
Belém
Vou colher cravos e
rosas
Volto a semana que
vem
Vou-me embora paz da
terra
Paz da terra
repartida
Uns têm terra muita
terra
Outros nem pra uma
dormida
Não tenho onde cair
morto
Fiz gorar a
inteligência
Vou reentrar no meu
povo
Reprincipiar minha
ciência
Vou-me embora vou-me
embora
Volto a semana que
vem
Quando eu voltar
minha terra
Será dela ou de
ninguém.
Em: “O Carro da
Miséria” (1947)
Natureza-morta com tulipas, rosas e cravos
(Nicolaes van
Veerendael: pintor flamengo)
Referência:
ANDRADE, Mário. Vou-me embora. In: RIEDEL, Dirce; LEMOS, Carlos; BARBIERI, Ivo; CASTRO, Therezinha (Orgs.). Literatura brasileira em curso. Rio de Janeiro, GB: Edições Bloch, 1968. p. 87.
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